Uma das formas mais corriqueiras de confrontação política partidária é a denúncia mútua de contradições. Como os votos obrigam frequentemente a contorcionismos políticos, os seus actores dizem hoje o que negam amanhã e vice-versa. Deste modo são facilmente apanhados e facilmente apanham os adversários na ratoeira da contradição. Os indefectíveis, aqueles que não vêm no partido mais do que o nome, que têm da cidadania uma perspectiva de clubite, aplaudem sem reservas as habilidades óbvias dos seus artistas.
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Também acontece usarem os partidários argumentos de confrontação pessoal quando lhes faltam armas, ou engenho para as usar, na discussão das ideias. No fim de contas a táctica resume-se em denegrir a mensagem denegrindo a conduta do seu autor. A partir daí, a discussão desloca-se para a fulanização e o confronto de ideias esvai-se. Já não se ouve a abertura de Tannhauser, discutem-se as libertinagens de Wagner.
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Lembro-me disto, hoje, a propósito de uma crítica a Al Gore (entre muitas com objectivos idênticos) acerca da forma perdulária como consome energia, sendo ele um dos mais reconhecidos lutadores pela conservação do planeta em que vivemos, publicada hoje no
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A forma mais corrente de desvalorizar as sentenças de Frei Tomás consiste em apontar as incongruências do autor. Mas a História está cheia de casos de grandes autores cujas vidas se afastaram para o lado contrário do caminho que eles apontaram.
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É sofisma, portanto, confundir o mérito das teses com as vidas dos seus autores. Uma coisa são as consequências da intervenção humana no desequilíbrio ecológico, outra, bem diferente, a forma como intervêm alguns daqueles que defendem aquilo que eles próprios não prosseguem.
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Na luta política percebe-se que os opositores se confrontem com as suas próprias contradições; para aqueles que não são partidários, contudo, o que importa é o mérito relativo das propostas, independentemente da conduta dos seus proponentes.
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A mim pouco me importa se Al Gore tem ou não tem um consumo excessivo com o seu Jet particular, porque me importa, sobretudo, é saber se a sua mensagem é ou não importante para o futuro da humanidade.
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A mim não me importa se MMendes, que defende a privatização da RTP (proposta que eu apoio), podia ou não podia ter feito essa proposta quando foi membro do Governo. As contradições de MMendes são uma coisa, as propostas, dele ou doutros, são outra.
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Discutamos ideias em vez de discutir fulanos!
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