Friday, December 01, 2006

A TOQUE DE CAIXA - 2º. Andamento


Em Portugal há vacas consagradas a passearem-se entre nós, mais tranquilas e impantes que as vacas sagradas na Índia. A mais corpulenta é, sem dúvida alguma, a Caixa Geral de Depósitos.

Alimentada pelas rações substanciais do Estado e pela propensão atávica de muitos portugueses de confiarem sem reservas na caderneta da vaca, a Caixa é um mastodonte que cresce imparavelmente qualquer que seja o guardador de serviço.

Quando há algum tempo foi levantada a hipótese de vender uma parte da vaca, já que a venda da vaca toda seria sumo sacrilégio, mesmo para alguns geralmente imprudentes desafectos do politicamente correcto, a mera possibilidade de discutir o assunto foi encerrada antes de aberta e considerada tabu.

A vaca é invendável, argumenta-se, porque, sendo consagrada, cumpre-lhe dar indicar o melhor caminho aos touros, menos sagrados, mas sagrados em todo o caso, geralmente propensos a tresmalharem-se por maus caminhos. Assim uma espécie de cabresto ou choca que arrasta o resto da manada para o sítio conveniente marcado pelo inteligente.

Não arrastou. O cortejo passeia-se ao contrário, não seguindo a manada a vaca consagrada, mas é a consagrada vaca, manhosa, que segue a manada.

De modo que o dono da vaca, que somos, teoricamente, nós todos, tem uma vaca que não lhe dá leite nem bifes, e anda a pisar o que larga a manada que a precede.

Nos tempos que correm, convenhamos, é difícil pôr a vaca na ordem. E ordenhá-la, está visto, dá tanta rendimento tê-la como vendê-la.

Não seria mais asisado passar a vaca a patacos e pagar, pelo menos alguma coisa, a quem se deve?

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