Saturday, December 16, 2006

É A DIREITA, ESTÚPIDO! A DIREITA ESTÚPIDA

“Mas na esfera dos interesses privados a que pertence a actividade económica, Portugal de Salazar, a Espanha de Franco e o Chile de Pinochet eram sociedades liberais

Pedro Arroja, Blasfémias , 14/12/06

"History suggests only that capitalism is a necessary condiction for political freadom. Clearly it is not a sufficient condiction. Fascist Italy and Fascist Spain, Germany at various times ...- are all societies that cannot conceivably be described as political free"

“I shall resolve these difficulties by using the word liberalism in its original sense – as the doctrines pertaining to a free man

Milton Friedman, Capitalism and Freedom

Li o texto de Pedro Arroja, de trás para a frente, de frente para trás, e não descortinei saída que não me conduzisse a uma conclusão singela: o autor, que a si próprio se reclama de liberal, e outros veneram como um Messias do liberalismo total, é, sem tirar nem pôr, um apóstolo da tirania. Ou, se preferirem por razões que se respeitam, um Guru do totalitarismo.
Eu, que nunca servi o Estado, nem ascendente ou descendente meu o serviu, que não lhe devo favores, que várias vezes já fui por ele mal tratado, e que receio continuar a ser, só não o elimino porque não sei como é que isso se faz. Mas como mais vale tarde, espequei-me aí junto a uns quantos “ speakers corner”, geralmente gente jovem e informada, tentando perceber como é que se pode reduzir o Inútil se não pudermos eliminá-lo.

Foi nesta tentativa de aprender alguma coisa, já que é sempre tempo, que escutei algumas tiradas do credo liberal que me deixaram mais confuso do que habilitado.

Com persistência de chinês fui, no entanto, atirando dúvidas e interrogações, que confirmavam aquilo que, se calhar, toda a gente já sabe, e eu fiquei a suspeitar: os liberais de hoje batem-se pelo retorno ao “ancien régime”, precisamente aquele que reinava na Europa e arredores antes de terem rebentado os abrolhos do liberalismo.

Que pretendem estes “liberais” ou “neo-liberais”, acima de tudo? Catequizar para o Estado Mínimo: Defesa, Segurança e Justiça.

Subscrevo. Tenho muitas dúvidas, mas subscrevo. Dúvidas, porque não vejo discutir para quê que defesa, dúvidas porque a segurança é cada vez mais um negócio privado, dúvidas porque a justiça só não prescreve quando o peixe é miúdo. Dúvidas, porque se não cultivamos a solidariedade voltamos à selva, e se a solidariedade não passa necessariamente pela intervenção do Estado não sei se fica bem entregue à Caridade, a virtude solteira das teologais.

“True, the number of citizens who regard compulsory old age insurance as a deprivation of freedom may be few, but the believer of freedom has never counted noses” – Milton Friedman, Capitalism and Freedom

Mas não se passa o mesmo em material de defesa, segurança interna e justiça?

Receio o regresso ao tempo do senhor Dom João Quinto, mas subscrevo, porque tenho mais uma pergunta a fazer: E se os meus concidadãos não estiverem pelos ajustes? Uma das hipóteses é mudar de país, mas não sei para onde, e há outra?

Resposta pronta dos “liberais”, saída dos autores que eles santificam: A ditadura das maiorias é o maior inimigo da liberdade. É o novo déspota, mas pior que qualquer outro déspota já morto e arquivado.

Pergunto eu então, ingenuamente, já se sabe: Mas então em que regime se cultiva a liberdade?

Resposta dos “liberais”: Qualquer serve, desde que o Estado não nos chateie.

Também eu queria.
Serve a ditadura ou a anarquia?

A anarquia é impraticável. Precisamos de algum Estado para guarda-costas.
A ditadura não tem dado maus resultados. Mas a monarquia constitucional também dá, adiantou um, mas tenho a certeza que não estava a falar a sério.

Mas há ditaduras aceitáveis, que com o exercício da liberdade se tornam exemplos a seguir... O Chile...
Fiquei cada vez mais baralhado.

E foi por essa altura que o Guru veio dar exemplos: O Salazar, o Franco, até o Pinochet, mais recentemente, demonstraram como podemos, satisfatoriamente, usufruir da liberdade a caminho da liberdade. Afinal Friedman ajudou Pinochet a desfazer-se; com o empurrão da liberdade enviou o general para a reforma antecipada. Se Fidel o tivesse consultado estaria o nó cubano desatado.

Aqui chegados, pergunto aos “liberais”: Pois bem, se o Chile caminhou para a liberdade quem é que a assegura agora? Se a China está a caminho quem vão ser os novos guardiões?

E fico sem resposta. Pacientemente, como quando apanhava grilos, fui-os tentando a sair da toca. Mas se vejo algum a espreitar a claridade, logo o vejo dar meia volta.

Aos grilos renitentes sabia eu o que fazer. Inundava-os e devolvi-os depois à liberdade. Perdi qualidades, há que reconhecê-lo.

Mas continuo a suspeitar que os “liberais” têm um problema gordo por resolver com a liberdade.





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