Na mesma semana em que foram divulgados os resultados de uma sondagem que, claramente, 7 em cada 10 norte-americanos, condenam a forma como a Administração de George W. Bush está a conduzir a guerra no Iraque, Bush não deu qualquer indicação de vir a adoptar as recomendações da Comissão bipartidária liderada por James Baker e Lee Hamilton, e recebeu sugestões dos chefes militares, contrárias à retirada progressiva das tropas do Iraque recomendada pela Comissão Baker-Hamilton.
Nesta mesma semana, o “Economist”, insuspeito de simpatias por Bush, titula o seu editorial, dedicado à intervenção norte-americana no Iraque e às propostas da Comissão, de forma tão destacada que, mais do que uma sugestão ou um aviso, é um pedido: “Don´t do it”.
“... The Baker-Hamilton group is rising to say that America should neither leave precipitously nor stay forever. Leaning harder on Iraq’s politicians is an excellent idea. But setting an arbitrary deadline of early 2008 for most of the soldiers depart risks weakening America’s bargaining power, intensifying instead of dampening the fighting and projecting an image of weakness that will embolden enemies everywhere. On this recommendation, Mr. Bush needs to insist on his prerogatives as custodian of America’s foreign policy and just say no.”
O que se passa no Iraque não envolve apenas a sorte da América nesta guerra, ainda que sejam sobretudo os soldados norte-americanos que lá arriscam, e quase 3000 já perderam a vida. A retirada sem honra nem glória do Iraque, o que de forma menos eufemística significaria abandonar o Iraque ao saque da Al-Qaeda, determinaria muito provavelmente um efeito dominó imparável numa zona geoestratégica fundamental por muitas razões e, muito particularmente, pelas reservas petrolíferas cada vez mais críticas para a sobrevivência do mundo ocidental.
A opinião dos norte-americanos, mais do que nenhuma outra respeitável a este respeito, porque são norte-americanos os que se envolveram principalmente na guerra, tem flutuado ao sabor das circunstâncias que têm caracterizado essa guerra. Bush foi reeleito por uma maioria de votos, desta vez sem as peripécias que mancharam e ridicularizaram a eleição para o primeiro mandato, quando de um lado dessa guerra já se utilizavam as armas que hoje parecem indomáveis: o terrorismo urbano disparado pelo suicídio fanático.
Que mudou então para mudar tão drasticamente a opinião dos norte-americanos? Nada, a não ser o tempo que escorreu e continua a escorrer de isolamento dos Estados Unidos nesta luta. Os governos europeus, que com excepção de Blair, mostraram desde o começo da invasão o maior distanciamento, com destaque para o presidente francês e o chanceler alemão da altura, mantiveram e mantêm uma posição claramente crítica que reforça o anti-americanismo dominante na Europa, que não é só anti-bushismo.
Sem o apoio da opinião pública ocidental, e a participação no esforço de guerra, que de resto não foi pedido por Bush, e nisso terá residido o seu maior erro, os norte-americanos interrogam-se porque razão têm de continuar a atolar-se por conta própria e alheia, e serem incriminados pelo esforço que não aproveita só a eles.
E se o “Economist” lhes pede: Don´t do it, é difícil que eles não se interroguem: And what about the others?
Com o tempo alguém terá de explicar aos norte-americanos e aos europeus porque é que estamos todos refens desta guerra.
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