/columnistas/pt/desarrollo/722596.html
TM diz:
“A falta de empatia que o aluno português médio tem com a Matemática terá que ver, em parte, com um certo desejo de liberdade, mais negativo do que positivo: um não querer ver-se aprisionado por regras, mais do que um querer criar algo de novo.”
E, mais adiante,
“Há quinze dias, escrevemos que o economista é um ”marginalista”: alguém que tenta compreender as escolhas dos agentes económicos à luz dos custos e benefícios marginais que cada alternativa disponível proporciona.”
Ora eu vejo nestas duas afirmações uma contradição, pelo menos:
Na primeira, TM refere a “falta de empatia do aluno português médio com a Matemática” em alternativa a um certo desejo de liberdade de regras. Não conheço nenhum estudo de onde se possa inferir que o aluno português médio sofre de uma insuficiência biológica congénita que o torna menos convivente no relacionamento com as questões da medida. A correlação entre o português e os seus maus resultados médios na matemática não decorre necessariamente de uma aversão idiossincrática. Pessoalmente, creio que não decorre, em absoluto, nada disso.
Verdade seja que TM também não explicita as causas remetendo-se para a constatação:
“somos – portugueses – demasiadamente avessos às ciências exactas e ao pensamento lógico”
Desconsiderando as razões biológicas restam-nos as razões sociológicas: a tradição, a cultura, a religião, e outros entorses, imprimiram-nos uma aversão à matemática que se vincou na nossa personalidade colectiva como um instinto. Esta é, contudo, uma suposição especulativa mas não quantificada, precisamente o tipo de discurso que TM condena, e bem.
Como “economista”, TM deveria, salvo melhor opinião, procurar utilizar os instrumentos da análise marginalista na identificação das causas da falta de motivação dos portugueses pelo estudo da matemática que ele refere e ninguém, razoavelmente, contestará.
Porque é na análise marginalista que TM poderá avançar com algum cientismo na abordagem do assunto. Provavelmente não existirá uma razão mas várias. Seguramente, contudo, uma delas será nuclear e essa só poderá decorrer da apreciação que as pessoas fazem da utilidade que a aprendizagem da matemática lhes pode oferecer em alternativa a outras aprendizagens. Porque é essa a pergunta que deve ser colocada antes de qualquer outra: Por que é o estudante português, em geral, subestima a matemática como instrumento da sua valorização profissional e social?
Um raciocínio marginalista leva-me a uma conclusão diferente da de TM: as pessoas subalternizam a matemática no leque dos seus interesses de aprendizagem porque as envolventes (económicas, sobretudo) não incentivam à sua valorização.
Aliás, há muitos sintomas à volta: Se consultar as folhas de oferta de emprego concluirá que a maior parte aponta para ocupações de onde os próprios empregadores não valorizam especialmente a matemática, nomeadamente o Estado, o maior empregador. O discurso habitual que refere a insuficiência de licenciados nas ciências exactas e na engenharia é, também ele, mais retórico que quantificado. Muitos engenheiros não encontram saídas profissionais nas áreas em que se formaram e acabam por seguir carreiras profissionais relacionadas com vendas e funções afins. O que não significa que a sua formação em matemática não lhes possa, eventualmente, dar mais competências mesmo nessas áreas mas essa possível vantagem não é tão evidente que o recrutamento de profissionais para elas se faça também em função da aquisição de conhecimentos específicos de matemática. E não sendo, a opção pelo curso de engenharia desses profissionais engenheiros não engenheiros fez-se por outras razões e não pela vantagem de domínio da matemática.
Um marginalista não pode deixar de pegar a questão da falta de empatia pelas razões próximas e essas situam-se inquestionavelmente na frequente falta de utilidade marginal da matemática relativamente a outros interesses ou incentivos.
Uma situação muito semelhante se pode observar nos EUA, com um perfil social e económico que não é comparável com o português: surpreendentemente os resultados observados entre os norte-americanos quanto às suas empatias com a matemática são muito idênticos aos que se observam em Portugal. E ninguém pode, razoavelmente, inferir que isso se deve ao facto de os norte-americanos serem“demasiadamente avessos às ciências exactas e ao pensamento lógico”.
É essa ausência tão generalizada entre 300 milhões de habitantes que os obriga a importar competências na matéria da Índia, da China, de Taiwan, etc.? Porque da Índia e da China para os EUA, é bom saber-se, não está entrar apenas o que trás etiqueta “made in”.
E de Portugal também estão saindo muitos dos que tiveram a errada intenção de estudar matemática a mais do que aquilo que em Portugal se exige. A começar pelo Estado.
TM diz:
“A falta de empatia que o aluno português médio tem com a Matemática terá que ver, em parte, com um certo desejo de liberdade, mais negativo do que positivo: um não querer ver-se aprisionado por regras, mais do que um querer criar algo de novo.”
E, mais adiante,
“Há quinze dias, escrevemos que o economista é um ”marginalista”: alguém que tenta compreender as escolhas dos agentes económicos à luz dos custos e benefícios marginais que cada alternativa disponível proporciona.”
Ora eu vejo nestas duas afirmações uma contradição, pelo menos:
Na primeira, TM refere a “falta de empatia do aluno português médio com a Matemática” em alternativa a um certo desejo de liberdade de regras. Não conheço nenhum estudo de onde se possa inferir que o aluno português médio sofre de uma insuficiência biológica congénita que o torna menos convivente no relacionamento com as questões da medida. A correlação entre o português e os seus maus resultados médios na matemática não decorre necessariamente de uma aversão idiossincrática. Pessoalmente, creio que não decorre, em absoluto, nada disso.
Verdade seja que TM também não explicita as causas remetendo-se para a constatação:
“somos – portugueses – demasiadamente avessos às ciências exactas e ao pensamento lógico”
Desconsiderando as razões biológicas restam-nos as razões sociológicas: a tradição, a cultura, a religião, e outros entorses, imprimiram-nos uma aversão à matemática que se vincou na nossa personalidade colectiva como um instinto. Esta é, contudo, uma suposição especulativa mas não quantificada, precisamente o tipo de discurso que TM condena, e bem.
Como “economista”, TM deveria, salvo melhor opinião, procurar utilizar os instrumentos da análise marginalista na identificação das causas da falta de motivação dos portugueses pelo estudo da matemática que ele refere e ninguém, razoavelmente, contestará.
Porque é na análise marginalista que TM poderá avançar com algum cientismo na abordagem do assunto. Provavelmente não existirá uma razão mas várias. Seguramente, contudo, uma delas será nuclear e essa só poderá decorrer da apreciação que as pessoas fazem da utilidade que a aprendizagem da matemática lhes pode oferecer em alternativa a outras aprendizagens. Porque é essa a pergunta que deve ser colocada antes de qualquer outra: Por que é o estudante português, em geral, subestima a matemática como instrumento da sua valorização profissional e social?
Um raciocínio marginalista leva-me a uma conclusão diferente da de TM: as pessoas subalternizam a matemática no leque dos seus interesses de aprendizagem porque as envolventes (económicas, sobretudo) não incentivam à sua valorização.
Aliás, há muitos sintomas à volta: Se consultar as folhas de oferta de emprego concluirá que a maior parte aponta para ocupações de onde os próprios empregadores não valorizam especialmente a matemática, nomeadamente o Estado, o maior empregador. O discurso habitual que refere a insuficiência de licenciados nas ciências exactas e na engenharia é, também ele, mais retórico que quantificado. Muitos engenheiros não encontram saídas profissionais nas áreas em que se formaram e acabam por seguir carreiras profissionais relacionadas com vendas e funções afins. O que não significa que a sua formação em matemática não lhes possa, eventualmente, dar mais competências mesmo nessas áreas mas essa possível vantagem não é tão evidente que o recrutamento de profissionais para elas se faça também em função da aquisição de conhecimentos específicos de matemática. E não sendo, a opção pelo curso de engenharia desses profissionais engenheiros não engenheiros fez-se por outras razões e não pela vantagem de domínio da matemática.
Um marginalista não pode deixar de pegar a questão da falta de empatia pelas razões próximas e essas situam-se inquestionavelmente na frequente falta de utilidade marginal da matemática relativamente a outros interesses ou incentivos.
Uma situação muito semelhante se pode observar nos EUA, com um perfil social e económico que não é comparável com o português: surpreendentemente os resultados observados entre os norte-americanos quanto às suas empatias com a matemática são muito idênticos aos que se observam em Portugal. E ninguém pode, razoavelmente, inferir que isso se deve ao facto de os norte-americanos serem“demasiadamente avessos às ciências exactas e ao pensamento lógico”.
É essa ausência tão generalizada entre 300 milhões de habitantes que os obriga a importar competências na matéria da Índia, da China, de Taiwan, etc.? Porque da Índia e da China para os EUA, é bom saber-se, não está entrar apenas o que trás etiqueta “made in”.
E de Portugal também estão saindo muitos dos que tiveram a errada intenção de estudar matemática a mais do que aquilo que em Portugal se exige. A começar pelo Estado.
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