Tuesday, February 02, 2016

HIPÓCRITAS 2

Noticia o Financial Times de hoje que, cf. aqui,  em sequência dos ataques terroristas em Paris,  a Comissão Europeia vai investigar em que medida o elevado número de notas de 500 euros em circulação estará a facilitar o financiamento de actividades terroristas.

Sobre este assunto anotei aqui em Junho de 2007:

" ...
Sabe-se que apenas uma pequena parte do tráfico de droga, a nível mundial, é interceptado pela polícia; sabe-se que o negócio da droga tem uma dimensão, valorizada em termos monetários, equivalente ao da energia, segundo o relatório do PNUD de 1999; sabe-se que essa dimensão sustenta uma parte importante de actividades económicas regulares, a construção civil, por exemplo; sabe-se que para facilitação da conexão entre o dinheiro da droga e as actividades legalmente admitidas, as entidades emissoras de moeda não esqueceram a competitividade dos meios de pagamento (notas de 100 dólares às quais o BCE respondeu com notas de 500 euros); sabe-se que esse dinheiro anda por aí em toda a parte; sabe-se que parte (que parte, ninguém sabe) desse dinheiro justifica a possibilidade de muita gente viver bem acima das suas possibilidades aparentes, exemplificando o adágio popular: "quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vem ..."

E em Julho de 2008, aqui,

"...

Um dos aspectos que caracteriza a contradição entre o discurso oficial e a prática das nações no combate ao comércio criminoso é o da emissão de papel moeda de elevado valor facial: notas de cem dólares e de quinhentos euros, para citar apenas as mais usadas. Há muito tempo já, abordei este aspecto hipócrita que consiste em emitir moeda cuja finalidade só pode ser a de facilitar o comércio subterrâneo, aquele em que os contratantes não querem deixar rasto.

Se houvesse, mas realmente não há, uma intenção clara de dificultar este comércio, tanta a Fed como o BCE teriam há muito tempo mandado recolher estas notas e permitido apenas a circulação das de pequeno valor. Numa época em que o próprio cheque entrou em desuso, só por razões inconfessáveis as autoridades monetárias mantêm a forma suspeita daquele meio de pagamento..."

É muito surpreendente que só agora a Comissão Europeia repare no que é muito visível para quem não ande propositadamente a desviar o olhar das evidências. 
São cegos?
São hipócritas. 

500 euro

São assim as notas de 500. 
Para conhecimento de quem, como eu, nunca viu uma. 

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