Thursday, September 25, 2014

O CHARME DA HIPOCRISIA

Provavelmente, o sr. António José Seguro vai perder as primárias do próximo fim-de-semana. Provavelmente, se as ganhasse perderia contra o sr. Passo Coelho nas legislativas do próximo ano. Provavelmente, se ganhasse as legislativas, o sr. António José Seguro seria, como primeiro-ministro, pior ainda que o sr. Passos Coelho . Mas só por hipocrisia contagiosa, a generalidade dos comentadores malharam forte e feio em coro no sr. Seguro a propósito dos dois únicos pontos em que ele e o sr. Costa claramente se distanciaram um do outro. 

Disse o sr. Seguro que quando for primeiro-ministro acabará a promiscuidade entre os negócios e a política. Nada que a generalidade dos comentadores não tenha desde sempre reclamado e a esmagadora maioria da população aplaudido. Exceptuam-se, naturalmente, os que gozam dos frutos dessa promiscuidade e aqueles para quem o assunto nada diz porque nem sabem que existe. Anteontem, o moderador de serviço, desafiou Seguro a concretizar aquilo que ele tem vindo a badalar: Diga lá sr. Seguro o que é que sabe acerca dessa promiscuidade a que se propõe por termo? Entalado com a pergunta, Seguro respondeu que, por exemplo, o advogado sr. Nuno Godinho de Matos destacado socialista, apoiante do sr. António Costa, em entrevista do jornal i disse que era membro não executivo do conselho de administração do BES e que, durante o período em que exerceu esse mandato, nunca abriu a boca mas recebeu sempre a remuneração correspondente ao cargo. Há alguma afirmação menos verdadeira nestas declarações? Não há.

O sr. Seguro referiu o sr. Godinho de Matos como poderia ter referido dezenas, senão centenas, de outros membros do seu partido enfronhados no mundo dos negócios. Poderia dizer o mesmo do PSD. Quem é que duvida? É isto um ataque indecente ao sr. António Costa? Por quê? O sr. António Costa poderia afirmar, também a este propósito, o mesmo que afirmou o sr. Seguro. Não o fez porque discorda ou porque isso implicaria rejeitar algumas amizades e apoios? Preferiu considerar as declarações de Seguro como um ataque Ad Hominem para escapar ao reconhecimento da existência de um problema que compromete os valores democráticos. 

Disse ainda o sr. Seguro que apresentaria logo a seguir às primárias proposta de redução do número de deputados e de alargamento das incompatibilidades do exercício da política com outras actividades. Duas questões que fazem parte do repertório político permanentemente adiado. O principal ataque a esta proposta sustenta-se no facto de Seguro se propor avançar com ela quando, provavelmente, já terá perdido o lugar que ainda ocupa. Mas é uma falácia. Primeiro: Porque ele não tem de partir do princípio que perde as eleições na próxima sexta-feira. Segundo: Porque, se todas as propostas só fossem pertinentes depois de conhecidos os resultados das eleições, não haveria lugar a discussão de propostas que pudessem influenciar o sentido do voto num ou noutro dos candidatos.

Quanto à redução da representatividade dos pequenos partidos em consequência da redução do numero de deputados, o argumento não colhe porque depende da matemática (para utilizar o termo de Costa no debate) que informar a reforma do sistema eleitoral. Até porque da simples redução de deputados não resultariam ganhos relevantes par a democracia.

1 comment:

Pinho Cardão said...

Belo post, caro Rui!