- E a senhora Raquel é católica, protestante, adventista, ou não tem religião?
- Olha rapaz, vou aos protestantes porque gosto muito dos cânticos deles. Vivo sozinha há muitos anos, e sinto-me bem no meio de toda aquela gente a cantar. Alivia-me a tristeza, sabes?
- É protestante, portanto?
- Não, acho que não. Também vou à igreja, lá acima, e levo sempre azeite para o santíssimo ...
- Então é católica?
- Ah! Também já fui duas ou três vezes aos adventistas, mas não gostei. Não sei porquê, mas não gostei.
- Senhora Raquel, tenho que escrever aqui no boletim de recenseamento qual é a sua religião ... se tiver religião... Não é obrigada a ter.
- Ora essa. Tenho, claro que tenho...
- Diga-me, então, se faz favor que religião lhe devo indicar aqui no seu boletim.
- Só posso ter uma, é isso?
Não lhe soube responder, e já não me recordo em que ficámos. Na hipótese "Outra" cabiam todos os credos não cristãos e o mais errado seria inscrever a senhora Raquel num clube residual e heterogéneo a que, de modo algum, pertencia.
Recordei-me desta cena antiga ao ler hoje no Economist a explicação da acelerada perda de crentes da Igreja Católica mesmo onde a sua presença é mais forte. Uma explicação que remete para várias causas conhecidas e debatidas, umas há muitos anos, outras de erupção recente. Para além daquelas que decorrem dos seus dogmas ou do comportamento dos seus membros, é manifesta a dificuldade da Igreja Católica em contrariar a progressão de outros ritos promovidos por técnicas e meios de marketing religioso que, essencialmente, em nada se distingue do marketing político ou comercial.
As viagens papais podem travar a progressão daquela tendência, e a aproximação física do Papa Francisco à multidões, se decorre em parte da sua idiossincrasia, é um meio, aliás arriscado, de promoção da sua missão pastoral. Até onde irá (ou deixarão ir) Francisco neste envolvimento no seio de multidões incontroladas?
Será que, de repente, o veremos a sambar na praia?, pergunta o Economist.
As viagens papais podem travar a progressão daquela tendência, e a aproximação física do Papa Francisco à multidões, se decorre em parte da sua idiossincrasia, é um meio, aliás arriscado, de promoção da sua missão pastoral. Até onde irá (ou deixarão ir) Francisco neste envolvimento no seio de multidões incontroladas?
Será que, de repente, o veremos a sambar na praia?, pergunta o Economist.
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