Saturday, July 06, 2013

O MISTÉRIO DA ECONOMIA

Se o PR decidir aceitar a proposta de continuação da coligação que Passos Coelho lhe entregou anteontem e não convocar eleições antecipadas, Pires de Lima será, segundo as notícias, o próximo ministro da Economia e Emprego, que inclui ainda as Obras Públicas, Transportes e Comunicações, se for mantida a designação e âmbito do actual ministério.
 
A que se deve a atracção de Pires de Lima, um gestor por certo excepcionalmente bem remunerado, por uma pasta que não promete grandes proezas? Pires de Lima há muito tempo que vem reclamando a entrega da pasta da Economia ao CDS e a um ministro que conheça a realidade empresarial portuguesa, isto é, a ele.  
 
A pasta da Economia tem tido, desde 1974, mudanças de configuração frequentes depois de ter sido denominada desse modo em 1940, e que se manteve até Maio de 1974, quando se funde com o das Finanças dando origem ao Ministério da Coordenação Económica. Por pouco tempo, aliás, porque logo no mês seguinte voltam a separar-se os ministérios da Economia e das Finanças. Durante os vinte anos seguintes o ministério da Economia, nominalmente, desapareceu, e só vem a ser reestabelecido em 1995, a partir dos ministérios do Comércio e Turismo e da Indústria e Energia. Volta a desaparecer nominalmente em 2004 mas reaparece logo em 2005, como Ministério da Economia e da Inovação, e em 2009 passa a designar-se por Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento. Em 2011 passa a Ministério da Economia e Emprego, incorporando as Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
 
Tanta mudança de nome e conteúdo é bem sintomática da imponderabilidade de uma pasta que, em economia de mercado, depende de condicionantes que não domina - por exemplo, a realização da Justiça -, e tem um grau de interferência limitado   pelos meios financeiros com que pode intervir no apoio a determinados sectores de actividade económica. Em tempos de crise, ainda que lhe seja atribuída  a gestão dos fundos comunitários retirada ao actual ministro, o ministro da Economia, mesmo se lhe compete a gestão do investimento em obras públicas, pode pouco.
 
Um dia, espantou-me a aventura de um conhecido gestor, que de cervejas sabia bebê-las, na recuperação, para mim impossível, de uma cervejeira entalada. Não a desentalou. Desentalará Pires de Lima, com provas confirmadas numa cervejeira de sucesso, a economia portuguesa? Convicção, pelos vistos, não lhe falta.

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