A cena é conhecida: Num dia o Eurogrupo aprova medidas para aliviar a carga da dívida dos gregos, nomeadamente reduzindo-lhes os juros, alargando consideravelmente os prazos de reembolsos e autorizando-os a comprar dívida soberana sua no mercado. A propósito, Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, prestou declarações, entre as quais salientou a possibilidade de alargamento das concessões feitas aos gregos serem, ainda que parcialmente, alargadas aos outros países sob intervenção: Portugal e a Irlanda. No dia seguinte, Vítor Gaspar afirmou na AR que "Portugal e Irland serão, de acordo com o princípio da igualdade de tratamento adoptado na cimeira de Julho de 2011, beneficiados pelas condições abertas no quadro do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira." Poucos dias depois, Gaspar recuou, dando o dito por não dito, aconselhado por Wolfgang Schäuble, o todo poderoso ministro alemão das finanças, e o amen de François Hollande, o apagado presidente francês: não conviria a Portugal (nem à Irlanda, que, aliás, já tinha recusado a hipótese) colar-se, com aquelas concessões, à Grécia. A recuar, Gaspar desculpou-se com a confusão no debate público e Juncker com a iluminação da sala onde tinha feito as declarações, dando ambos uma imagem nítida das cenas burlescas a que se prestam aqueles que, mau grado seu, são o Pato Donald do artista ventríloquo.
Ontem, entrou na cena o Presidente da República afirmando - vd aqui - o que parece óbvio: Portugal deveria pagar menos por empréstimos europeus e ter mais tempo para o reembolso, apesar de estar numa situação muito diferente da Grécia.
Hoje, a Standard & Poor´s reviu em baixa a nota da Grécia, considerando-a - vd aqui - em suspensão parcial de pagamentos, equivalente a uma reestruturação parcial da dívida, em consequência da compra no mercado de dívida soberana própria com descontos da ordem dos 60%. Em todo o caso, a mesma S&P reconhece que, quando esta intervenção terminar em 17 de Dezembro, a situação financeira grega justificará o retorno à posição (menos má) anterior.
Resumindo: A União Europeia (leia-se Alemanha e companhia do norte) continuam a apostar em medidas paliativas para um problema que, seguramente, exige intervenções mais decisicas se a intenção é salvar o euro e a União Europeia. Portugal pode não colar-se agora à Grécia mas é altamente improvável que, dentro de um ano, não tenha que ser novamente resgatado. O objectivo do regresso aos mercados em 2013 já não é uma miragem da esperança, é uma esperteza secreta do ventríloquo.
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* Correl. - Eurostat confirma entrada em recessão da zona euro no terceiro trimestre
CDS envia carta fechada à troika, que não apoia a posição do primeiro-ministro/ministro das finanças e se junta à do PR.
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1 comment:
Está visto que isto não vai a lado nenhum. Portugal já há alguma tempo que é um país de subsídios, principalmente para cortar produção e agora para compensar a divida criada para ter os produtos que não são produzidos.
É um ciclo vicioso que não tem fim, Portugal para sobreviver devia cortar relações com todas essas Víboras Financeiras e criar o seu próprio sistema, além de pôr o País a produzir produtos palpáveis.
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