Friday, December 28, 2012

DALTON

É, meu nome é Dalton, o pai começava o jornal pelos comics, somos quatro irmãos, cada um tem nome de um dos seus heróis dos comics, a mim calhou-me o de Dalton. Sou de Fortaleza, o senhor conhece Fortaleza? Meus outros irmãos continuam por lá. Faz já onze anos que eu vim para os esteites. Primeiro, na Florida, depois no Colorado, agora aqui há quatro anos, sempre no churrasco, e não vou voltar não.  Minha mulher não quer voltar, de jeito nenhum. Temos dois filhos, um moço de doze, uma menina de dois, vivemos na Marilândia. Sei, agora há mais crescimento económico no Brasil, pois há, mas continua a haver muita insegurança, esse é o maior problema do Brasil, tem muito bandido. Aqui também há muita arma espalhadas, há sim, mas enquanto aqui a matança é obra de louco lá é obra de bandido, e no Brasil tem bandido por tudo quanto é sítio. E a copa do mundo em 2014, os olímpicos em 2016, só podem mesmo aumentar ainda mais a insegurança, mais droga, mais armas, mais crack, o senhor está ver no que isso pode vir a dar, onde há crack há crime, no Brasil tem cracolândias, senhor, o que é que o senhor espera de uma mancha que alastra e destrói a sociedade? Crack é uma doença incurável, é uma serpente insaciável dentro do corpo, e não há remédio para a serpente. Está mais rico o Brasil, hoje, pois está, mas uma boa parte dessa riqueza está o brasileiro queimando com o consumo de cocaína, de crack, de dia, na rua à vista da polícia, que não prende o consumidor, e é baleada quando persegue o dealer.  Há muito português a emigrar para o Brasil? Sempre houve, não é? Não, nós não vamos voltar. Gostava de ir a Portugal. Nunca fui, não, gostava de ir ao Porto, gosto muito do vinho do Porto, o senhor conhece o Porto?, eh, gostava de ir ao Porto. E ir ao estádio, tem estádio no Porto, pois tem?, como se chama mesmo? Do dragão, é isso, sim. Sempre que posso, vejo o Porto jogar.

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