Sunday, January 06, 2008

A LATA DO ALÍPIO

Sou contra a fulanização dos assuntos. Se os fulanos têm ideias, discutam-se as ideias dos fulanos.
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Leio no Expresso de ontem uma síntese de uma entrevista ao administrador do BCP (ex-presidente do Totta, ex-secretário de Estado do Orçamento), pessoa reconhecidamente competente, reconhecidamente paga por isso, e deparo-me com um constrangimento para o estatuto editorial deste blog: não há na entrevista a Alípio uma ideia com alguma ponta por onde se pegue, o que há nela é uma grande lata.
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Contrariado, abra-se, pois, a lata:
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"A criação de mais de 17 "off-shores" que estão a ser investigadas pelo Banco de Portugal e Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM) nunca foi discutida em conselho de administração. Sei que foram criadas por dois membros da administração actual e financiadas e geridas pela Direcção de Relações Internacionais, a cargo de mais dois dos actuais administradores. Foi possível criá-las sem ir a Conselho porque o BCP sempre se pautou por uma delegação de poderes muito ampla. Tenho dúvidas quanto ao conhecimento de Jardim Gonçalves sobre a criação das mesmas. Eu próprio não sabia. Fiquei ao corrente de quantas off-shore" eram, dos seus nomes e da sua existência quando fui chamado à CMVM. A criação destas sociedades deve ser vista à luz da época e do contexto do BCP que tinha problemas na Polónio, ajudou a resolver o problema do Sotto Mayor e não havia uma consciência (por parte de quem, Alípio não diz, ele não sabia da criação mas sabia da falta de consciência! ) de que não deveriam ter sido criadas. Acho que o Banco de Portugal teve um comportamento perfeitamente normal. O que faz é avaliar a relação que há entre os créditos e as coberturas e se entende que as coberturas não são razoáveis manda fazer provisões."
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Ficamos a saber que no BCP cada um fazia o que lhe dava na real gana, por resolução de algum "médium" que terá decidido tão ampla descentralização de poderes nos membros do conselho. A culpa é do "médium", o Alípio se estava lá não deu por isso, o "médium" deve ter informado em os membros do conselho em separado. Peçam-se, portanto, contas ao inconsciente "médium", e não ao Alípio.
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Jardim Gonçalves, também ele, não teria conhecimento da coisa, supõe o Alípio. O Alípio, pelos vistos, não perguntou ao Jardim, mas tem dúvidas que o Jardim soubesse. Não diz porquê mas imagina-se que foi também o "médium" quem tramou Jardim Gonçalves. Aliás, Jardim Gonçalves nem sabia que um dos filhos tinha pregado um calote ao Banco, convenientemente deitado abaixo pelo Alípio.
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O Banco de Portugal também não é culpado pela marosca: fez o que devia que é fazer uns quocientes e já faz demais.
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Mais à frente, na lata, Alípio diz que "Apenas me limitei a intervir numa "off-shore"...Isto aconteceu porque nomandato de Paulo Teixeira Pinto foi criada a Direcção de International Corporate Banking, que aglutinou "empresas "off-shore" que vieram do "private" para o "corporate". Não foram muitas, para aí umas 12, entre as quais esta."
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Portanto, segundo a lata do Alípio, das 17 "off-shores" criadas pelo Banco, e das quais ele só teve conhecimento quando foi chamado à CMVM, 12 tinham-lhe entrado pela porta dentro, sem pedir licença nem dar conta da chegada!
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Voltando à lata do Alípio: "Quando tive conhecimento da exposição dos filhos de Jardim Gonçalves falei com o pai (mas o pai esqueceu-se desta conversa porque disse que não tinha conhecimento do assunto) ...os outros filhos saíram do banco para outras instituições mas Felipe Jardim Gonçalves não...Nestas situações, não se prestou atenção (quem não prestou atenção? obviamente, o "médium"!) ao regime geral das instituições de crédito, segundo o qual não é proíbida a concessão de crédito a familiares de administradores, mas deve pedir-se autorização ao Banco de Portugal...As pessoas não sabem a imaginação que é preciso fazer para recuperar créditos..."
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Pois é, as pessoas são estúpidas. Por isso é que existe a lata do Alípio.

1 comment:

António said...

Lá latosa não lhe falta. Ao Constancio também não. Parece que o ouvi dizer que só viu o que lhe mostraram.
É mesmo preciso ter uma grande lata.