Monday, January 28, 2008

ACERCA DO OPTIMISMO

Atravessamos um tempo de pessimismo generalizado, global. De manhã, antes das sete, ouvimos que as bolsas cairam na Ásia e estão a começar a cair na Europa; daí a sete horas, começará a cair Wall Street. Os que sabem do assunto, ou passam por isso, dizem que a economia mundial não vai arribar no primeiro semestre, outros que, provavelmente, ainda sabem mais, dizem que em 2008 vai ser sempre a descer. Não há revisão digna desse nome que não seja em baixa. No meio do coro desafina o governo português, e sobretudo o seu chefe, assobiando o cochicho. Caiem-lhe em cima a oposição e a suposição mas ninguém demove Sócrates da desafinação.

A mim, parece-me bem a desafinação de Sócrates. Alguém ganharia alguma coisa com a afinação de Sócrates com o coro lamentativo? Duvido. E alguém ganhará? Provavelmente.

Um francês, que terá arribado a estas paragens em dia soalheiro e deparado com um grupo de gente simples terá ficado surpreendido com o ar satisfeito que viu à volta, ainda que mais à volta o cenário não fosse risonho, salvo o Sol, e terá concluído que "les portugais sont toujours gais" e a observação tornou-se a lenda. Conclusão errada porque a maior parte dos portugueses anda geralmente com cara de quem carrega com todas as desgraças do mundo às costas. A maior parte anda deprimida, e para confirmar esta tendência para o pessimismo crónico, estão as sondagens à opinião pública que, persistentemente, dão conta deste angustiado estado de alma da generalidade dos portugueses.

Se esta tendência para o negativismo tem tido influência decisiva na perda de passada que se observa na nossa equipa no campeonato do desenvolvimento económico e social europeu, não sei. O que sei é que a propensão para não acreditar em dias melhores é, só por si, um travão, ou marcha-atrás, ao crescimento, salvo o dos tranquilizantes, anti-deprepessivos, ansiolíticos, das drogas leves, pesadas e pesadíssimas.
.
Se a idiossincrasia lusa é de natureza amarga que mal haverá em adoçá-la com um placebo optimista num contexto de lamentação geral?
Como o Melhoral, é melhor e não faz mal.
Se faz bem, logo se verá.
.
E devemos ficar-nos pelo placebo? Claro que não. Contudo, quaisquer que sejam as medidas mais adequadas que a situação requer, o resultado da sua adopção será mais eficaz se o paciente acreditar nas virtudes das medidas prescritas.
É a discussão de medidas mais ajustadas à conturbada conjuntura que atravessamos que realmente importa. O resto é pequena política.

No comments: