Friday, October 28, 2016

O TAUMATURGO

Anda para aí uma barafunda acerca das retribuições concedidas ao sr. António Domingues e seus companheiros da alegria, prodigamente cedidos pelo BPI, e pela recusa deles na entrega das declarações exigidas aos incumbidos de cargos políticos e gestão de empresas ou institutos do Estado. 
Curioso é que, mesmo os contestatários dos volumes das retribuições e das faltas de declarações, concordam na generalidade que o sr. António Domingues é muito competente e capaz de operar o milagre de transformar um insensível quadrúpede numa águia ágil. 
Será mesmo?

Foi o sr. António Domingues um gestor bancário assim tão brilhante durante os 27 anos que aplicou as suas competências ao serviço do BPI antes de precocemente começar o embolso da reforma?
Os resultados não confirmam tanta sagacidade. O BPI viu a sua estrutura accionista quase completamente revolvida ao longo daquele período, uma situação que denuncia a insatisfação dos accionistas fundadores perante a incapacidade da sua gestão de lhes retribuir competitivamente os capitais aplicados. 
É certo que, se uns saíram, outros entraram, mas não terão estes apreciado assim tanto a competência do sr. António Domingues e companhia ao ponto de os manter nos seus quadros. 

Reconheça-se que, entre o lamaçal em que se atolou a banca supostamente portuguesa, o BPI foi o que ficou menos enlameado. Mas, mesmo o BPI, onde o sr. António Domingues vice-presidia, se aventurou em operações (entre outras, aplicações em dívida grega) que colocaram o banco em situação temporariamente dependente da bóia de salvação do Estado.

É complexa a gestão bancária?
É muito mais complexa a gestão da indústria.
Prova do que afirmo está no facto de, depois da reprivatização da banca, terem crescido como cogumelos os banqueiros em Portugal. Tantos e tão bons que era um enigma não ter nascido, nem então, nem nunca, um único industrial com gabarito parecido.

O sr. António Domingues, municiado com as exigências que colocou ao accionista (i.e., ao governo) 
tem, espera-se, condições para colocar a Caixa e os caixeiros nos eixos. Como?
Estranhamente, do meu ponto de vista, um dos participantes na "Quadratura do Círculo" dizia, ontem à noite, que esperava que o sr. António Domingues reestruturasse a Caixa e obtivesse os resultados esperados. Como: Pois, dizia ele, ganhando quota de mercado, tirando quota de mercado aos principais concorrentes, ao Santandertotta, ao BPI ...
Estranhamente, porque, quem isto afirmava, é administrador do BPI. E o sr. António Domingues, accionista do mesmo banco. Até mais ver.

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Correl . - vd. aqui

TUESDAY, FEBRUARY 07, 2006


CONTOS DA ÁGUA TÓNICA


A história é antiga mas repete-se a cada passo: um amigo dos copos costumava desdobrar os chutos com água tónica, bebia gim com água tónica, ficava bêbado, bebia vodka com água tónica, idem, bebia whisky com água tónica, bêbado ficava, bebia rum…, bebia tudo quanto era álcool com água tónica, mesmo que o casamento nem sempre fosse feliz, e embebedava-se. De modo que concluiu que a água tónica embriaga mesmo.

Conclusões semelhantes extraem alguns comentadores e atentos observadores da realidade circundante seja ela política, económica, ou qualquer outra.

Alguns exemplos:

Lucros da banca portuguesa explicam-se por ser o único sector do país ao nível do topo mundial, disse ontem o Presidente do MillenniumBCP em entrevista na Antena 2, Público e Rádio Renascença.

O Presidente do BES, em entrevista dada antes no mesmo programa dissera, sobre o assunto, praticamente o mesmo. Em outras ocasiões ouvimos convicções parecidas. Os banqueiros deste País, e só eles, bebem de uma água tónica qualquer que os transmuta em génios de gestão empresarial. Os outros, bebem qualquer água tónica e não passam de Pedro.

Porque ninguém pergunta: Como é que todos os Bancos são altamente rentáveis, porque é que todos os Bancos são superiormente dirigidos, porque é que todos eles são casos de sucesso, porque é que, até hoje, nenhum falhou, porque é que o BCP subiu como um foguete no meio de uma economia de caracol, porque é que o BPI, o BANIF, Financia, o Banco Privado Português, todos, crescem, crescem, crescem, e os seus presidentes são sempre tão bem sucedidos, como é que o BPN fulgura e até a Caixa, imaginem a Caixa! um banco do Estado, um paquiderme, arrecada milhões e deita foguetes independentemente do Presidente e vogais que o Governo nomeia. Até hoje, nenhum banqueiro falhou, ou se falhou, falhou tão pouco que não se deu por isso. São todos excelentes. Acaso? Tanta competência num contexto em que ela é tão rara deve-se à ingestão de alguma rara água tónica.

Em contrapartida os gestores da indústria neste país são geralmente pouco espertos porque não bebem o que deviam. O próprio engenheiro Belmiro, malgré lui, tem tido mais problemas do que contava com o seu sector industrial e é sobejamente sabido que não foi nele que fez fortuna, quanto muito deu-lhe um pouco de altura inicial, assim uma espécie de banquito parecido com aquele de onde as pessoas se esticam para ver as marchas passar. Dá a impressão que o engenheiro bebe o que deve mas tem fases de hidrofobia.

Se os seus negócios da distribuição do engenheiro não se situam a nível do topo mundial, na opinião do presidente do BCP, os seus proveitos, segundo tudo leva a crer, não se ficam atrás dos seus pares banqueiros. Hoje mesmo ficámos a saber que o engenheiro está novamente a atirar isco para o charco, e se não é desta que apanha a PT, alguma coisa vai, certamente, ganhar o engenheiro com a jogada. De que água se saciará o engenheiro? Terá, também ele, acesso á poção mágica e os banqueiros não sabem?

Mas há, seguramente, mais gente a beber do fino. O sector de construção civil e obras públicas, por exemplo, está recheado de casos a merecerem teses de doutoramento. Na PT, a tal água tónica é certamente dada a beber aos presidentes e vogais nomeados, porque todos eles, sem excepção, têm desempenhado as suas funções com brilhantismo que só os desígnios governamentais não reconhecem quando alternam. Se os deixarem lá chegar, os Azevedos, excederão todos os que os antecederam a beber da tónica com que a PT conta.

Noutro lado, alinham aqueles que não bebem a tónica que deviam beber: geralmente nos sectores primário e secundário, aonde só vão parar, aparentemente, gestores incapazes ou, quanto muito assim-assim.

E, contrariamente à versão dos banqueiros, o sucesso de uns e o desastre dos outros, não é uma fita recente, é uma história antiga. Industriais com I grande estão para aparecer em Portugal, alguns deram um ar da sua graça, mas, seguramente, nenhum bebeu da tal tónica ou não bebeu o suficiente.

Se nas telecomunicações sabem do que bebem nas comunicações, geralmente, não bebem do que deviam. O actual CEO da TAP parece ter dado meia volta ao texto mas não escapa ao contexto. Definitivamente, á CP, à Carris, ao Metro, e a outras artes equiparadas só arribam lázaros.
Porque é que ninguém lhes diz onde se bebe a tal água tónica?

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