A nomeação do sr. António Domingues para a presidência da Caixa Geral de depósitos foi de execução opaca. Mas não mais nem menos opaca que a nomeação dos seus antecessores no cargo.
O lugar poderia ter sido colocado a concurso, porque não? mas, mais uma vez, foi escolhido pelo governo em funções. Foi o sr. António Domingues ungido à nascença para presidente da Caixa quando os accionistas o dispensassem com reforma antecipada, e a mais uns quantos, por certo dispensáveis, que levou consigo do BPI para a Caixa?
Não é, contudo, a forma de nomeação do vice-presidente do BPI, antecipadamente reformado, que tem causado celeuma desde que foram publicamente conhecidas as intenções do governo nesse sentido. O sr Passos Coelho, que teve um longo período em poderia ter discordado da nomeação do sr. António Domingues, mas esperou por ontem, - vd. aqui - depois de ter juntado os votos do seu partido aos do PS para aprovação das remunerações dos gestores nomeados pelo actual governo para a Caixa, para denunciar a lisura do processo. Curiosamente, ao sr. Passos Coelho parece importunar mais o eventual recebimento pelo sr. António Domingues de informações não publicadas sobre a situação da Caixa antes da tomada de posse do que o possível uso futuro de informações sigilosas em sentido inverso.
O que tem sido, e continua a ser, contestado é o nível remuneratório do sr. António Domingos, igual ao que recebia no BPI, por coincidência igual ao que resultou dos cálculos das medianas das remunerações do sector segundo esclareceu, com a convicção retórica que lhe é peculiar, o sr. ministro das Finanças.
É assim tão elevada a complexidade do cargo de modo a justificar a remuneração fixa e adicionais variáveis que podem globalmente superar os 600 mil euros anuais?
Se olharmos pelo retrovisor do tempo são raríssimos os casos de bancos não destroçados pelas especiais qualidades destes senhores banqueiros, que, dos acidentes, apurados os salvados, nos têm mandado pagar os governantes ou os accionistas, que os nomearam ou elegeram, os enormíssimos custos dos acidentes que praticaram à conta dos contribuintes.
Não, não é tão elevada.
Eles recebem altas remunerações - aqui e em toda a parte - porque lhes passa o dinheiro pelas mãos.
Por quanto tempo mais?
A edição de 29 de Agosto deste ano da Bloomberg Businessweek, que não é de esquerda, publicava um artigo - This is Your Company on Blockchain - que afirmava "contabilistas, banqueiros, advogados e burocratas tornar-se-ão desnecessários no futuro"
Há sete anos atrás, a Economist, que também não é de esquerda publicava aqui um artigo sobre os taras do sector financeiro e das suas consequências para os contribuintes. Vale a pena ler na íntegra. Transcrevo os períodos iniciais do artigo que remete para uma análise mais detalhada publicada na mesma revista.
"COULD there be a better time to be a bank? If you have capital and
courage, the markets are packed with opportunities—as they well
understand at Goldman Sachs, which is once again filling its boots with
risk. Governments are endorsing high leverage and guaranteeing huge
parts of the financial system, so you get to keep the profits and palm
off the losses on the taxpayer. The threat of nationalisation has
receded, reinvigorating the banks' share prices. Money is cheap,
deposits plentiful and borrowers desperate, so new lending promises
handsome margins. Back before the crash, banks' profits just looked big;
today they might even be real.
The bonanza is intentional. Governments and regulators want the
banks to make profits so that they regain their health faster after
roughly $3 trillion of write-downs. It is part of the monstrous bargain
that bankers have extracted from the state (see our special report
this week). Taxpayers have poured trillions of dollars into
institutions that most never knew they were guaranteeing. In return,
economies look as if they have been spared a collapse in payment systems
and credit flows that would probably have caused a depression.
In an ideal world any government would vow that, next time, it will
let the devil take the hindmost. But promises to leave finance to fail
tomorrow are undermined by today's vast rescue. Because the market has
seen the state step in when the worst happens, it will again let
financiers take on too much risk. Because taxpayers will be subsidising
banks' funding costs, they will also be subsidising the dividends of
their shareholders and the bonuses of their staff.
It should be obvious by now that in banking and finance the twin
evils of excessive risk and excessive reward can poison capitalism and
ravage the economy. Yet the price of saving finance has been to create a
system that is more vulnerable and more dangerous than ever before. ..." - more here
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