Não passa um dia que Trump não seja primeira notícia dos media norte-americanos, e de todo o mundo. E, quase sem excepção, nenhuma em abono de qualidades que o recomendem para o lugar mais poderoso do planeta. Qualquer outro candidato que tivesse dito ou feito algumas das muitas brutalidades com que Trump tem guarnecido o seu curriculum, já teria sido trucidado pelos media e obrigado a desistir. Trump, não.
A Trump continua a ser oferecido no palco o lugar de destaque onde ele excita a admiração dos seus seguidores. Mesmo aqueles media mais assumidamente anti Trump concedem-lhe o principal espaço para a ressonância das suas alarvidades. Presumindo, supõe-se, que tanta exposição dos tombos do artista acabará por induzir na assistência a convicção de que a sua queda será inevitável no fim da performance. Até agora, porém, se aqui e ali parece iminente a sua queda em palco, a probabilidade de Trump ganhar as eleições de hoje a um mês não é negligenciável. A exposição mediática pela negativa parece ter, até agora, favorecido Trump. "Não importa que digam mal de mim; o mais importante é que falem de mim" parece ser também o lema deste artista.
O Washington Post de hoje divulga um vídeo de 2005 - vd. aqui -, e transcreve grande parte do seu conteúdo, uma conversa com um primo de George W. Bush, aparentemente off the record, pouco tempo depois de ter casado com a sua actual mulher, sobre os assaltos sexuais e uma tentativa gorada do empresário candidato, gabando-se do sucesso que a sua condição de star lhe permite junto das mulheres e das tácticas de sedução com que as submete aos seus instintos. Confrontado com esta divulgação respondeu com um expedito pedido de desculpas a quem se sinta ofendido por declarações que, segundo ele, são bem menos graves do que aquelas que foram ouvidas a Bill Clinton.
Há uns dias atrás, quando foi tornado público que não pagou impostos directos durante os últimos 18 anos, Giuliani, que foi mayor de Nova Iorque, e é um dos seus mais deslumbrados apoiantes, afirmou que ele é um génio que soube aproveitar as malhas da lei para passar tanto tempo sem contribuir com um cêntimo para as despesas públicas. Trump considerou-se apenas esperto, e continua a negar-se a mostrar as suas declarações de rendimentos.
Por outro lado, num país que tem como ponto de referência do seu sucesso no contexto mundial a liberdade e a heterogeneidade das origens dos seus cidadãos, as suas declarações xenófobas e racistas não parecem estremecer em metade da sua população o sentimento de civismo colectivo esperável numa democracia madura. Porquê?
À esquerda, as explicações sustentam-se principalmente nos efeitos perversos da globalização e da concentração da riqueza, que dizimaram empregos e reduziram as oportunidades e os rendimentos das classes médias. Para as classes atingidas pela crise - apesar dos últimos oito anos terem sido de recuperação económica, e do emprego para os níveis anteriores à crise - os escândalos, sexuais ou outros, protagonizados pelo candidato populista não os demovem da aposta que já fizeram.
Para a direita, o populismo nos EUA, em França, no Reino Unido, na Holanda, na Alemanha, sustenta-se nas ameaças de terrorismo figuradas em cada vulto de contornos islâmicos que veja a seu lado. E, por instinto reactivo, a xenofobia e o racismo instalam-se e progridem.
Provavelmente, Trump não será eleito. Mas o vírus está instalado.
Aconteceu mais ou menos o mesmo há cerca de oito décadas atrás.
Há uns dias atrás, quando foi tornado público que não pagou impostos directos durante os últimos 18 anos, Giuliani, que foi mayor de Nova Iorque, e é um dos seus mais deslumbrados apoiantes, afirmou que ele é um génio que soube aproveitar as malhas da lei para passar tanto tempo sem contribuir com um cêntimo para as despesas públicas. Trump considerou-se apenas esperto, e continua a negar-se a mostrar as suas declarações de rendimentos.
Por outro lado, num país que tem como ponto de referência do seu sucesso no contexto mundial a liberdade e a heterogeneidade das origens dos seus cidadãos, as suas declarações xenófobas e racistas não parecem estremecer em metade da sua população o sentimento de civismo colectivo esperável numa democracia madura. Porquê?
À esquerda, as explicações sustentam-se principalmente nos efeitos perversos da globalização e da concentração da riqueza, que dizimaram empregos e reduziram as oportunidades e os rendimentos das classes médias. Para as classes atingidas pela crise - apesar dos últimos oito anos terem sido de recuperação económica, e do emprego para os níveis anteriores à crise - os escândalos, sexuais ou outros, protagonizados pelo candidato populista não os demovem da aposta que já fizeram.
Para a direita, o populismo nos EUA, em França, no Reino Unido, na Holanda, na Alemanha, sustenta-se nas ameaças de terrorismo figuradas em cada vulto de contornos islâmicos que veja a seu lado. E, por instinto reactivo, a xenofobia e o racismo instalam-se e progridem.
Provavelmente, Trump não será eleito. Mas o vírus está instalado.
Aconteceu mais ou menos o mesmo há cerca de oito décadas atrás.
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