"Uma Justiça injusta e imoral
Henrique Monteiro
Não vou falar do
Tribunal Constitucional, de quem tanta gente fala – com razão e sem ela.
Mas da condenação de Ricardo Sá Fernandes por ter gravado uma vigarice e
a ter denunciado à Polícia.
Também não vou falar de Direito, porque os meus
conhecimentos são exíguos e acredito que nas profundezas do calhamaço
que rege o Código Penal ou outro Código qualquer, os mesmos juízes que
ordenaram uma primeira sentença, que o tribunal competente (que havia
absolvido Sá Fernandes) estabeleceu, possam depois quadruplicá-la; ou
que esses mesmos juízes que se sentiam “impedidos de voltar a intervir“
no processo, tenham intervindo à mesma, por ordem do presidente do
Tribunal da Relação de Lisboa. Acredito, ainda, que uma gravação ilegal,
mesmo por bons e justificados motivos, devidamente entregue à polícia,
seja, nos tais calhamaços, um crime hediondo.
Do que vou falar é de outra coisa que não a aplicação
do Direito – e este conceito é válido para todos os tribunais,
incluindo, aqui sim, o Constitucional. Vou falar da faculdade de julgar.
Porque a Justiça deve ser feita em nome do povo, pelo povo e para o
povo. Tem a função social de honrar os justos e probos e a de punir os
injustos e réprobos.
Tem de ser compreensível e tem de basear-se na moral
(no mores latino, que significa costumes ou tradição) e na ética (do
ethos grego, que significa ser e o conjunto social e cultural que
determina esse ser) e nunca no pathos (que significa paixão, sofrimento,
ou seja, o sentimento que se tem em relação ao que se analisa).
E se há algo óbvio nesta sentença que recaiu sobre o
advogado Ricardo Sá Fernandes, depois de ele ter deixado claro e provado
que a norma de certos construtores civis é oferecer dinheiro, por baixo
da mesa, para resolver um problema, é que a Justiça que preside a este
ato é injusta, imoral, antiética e inestética – porque não sabe julgar,
ainda que os seus agentes conheçam linha por linha todos os calhamaços
do Direito.
É bom que tenhamos sempre presente esta noção: julgar e
aplicar o Direito são duas coisas diferentes. Para julgar é necessário
bom senso, que ninguém sabe como se adquire e é difícil aquilatar; para a
segunda basta o estudo e boas notas nos exames."
1 comment:
Apoiado. Voltar para bons julgadore sé que me parece dificilimo neteas sociedades de faz de conta.
Quem se lembra de julgar os pulhas que inventaram armas de destruição macissa e provocaram até agora 250 mil mortos e um país destroçado?
Faz de conta que tinham razão.
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