Wednesday, December 26, 2012

POR QUE EMIGRAM OS JOVENS PORTUGUESES

O Washington Post de hoje dedica três quartos de uma página do seu caderno principal - vd aqui - à emigração de jovens europeus, com formação superior, e, muito focadamente na  emigração de jovens portugueses para o Brasil. Pergunta-me o RM: O que é que está a acontecer em Portugal que leva a esta emigração massiva de gente jovem e habilitada a emigrar para o Brasil? RM. entende as causas imediatas referidas no artigo - falta de oportunidades de emprego - mas escapam-lhe as causas primordiais. Por que é que não investem em Portugal, os alemães, por exemplo, se há disponibilidade de mão-de-obra e de quadros qualificados, que, certamente, aceitariam salários mais baixos do que aqueles que são pagos na Europa do Norte? Para um residente nos EUA, onde a mobilidade do trabalho é um dado comum, o que acontece na Europa do Sul neste momento é intrigante porque o investimento não procura as regiões onde os factores de custo são, pelo menos aparentemente, mais baixos. 

Mas é, precisamente, nas aparências que se escondem as principais razões da drenagem de jovens portugueses para o Brasil. E chamo a atenção de RM para a explicação dessas causas, dada na segunda parte do artigo do WP., que têm impacto não apenas em Portugal mas que em Portugal assumem uma maior dimensão relativa em consequência da deterioração rápida de uma situação económica que nunca foi estruturalmente consistente: a ameaça de um colapso na zona euro, a persistência da recessão, as sombrias perspectivas de crescimento económico, estão a levar os investidores a drenar triliões de dólares para outras partes do mundo, provocando a deslocalização dos negócios e a revisão das suas estratégias. Alguns bancos europeus estão a resumir as suas actividades às suas fronteiras nacionais, outros, como o Santander, que hoje recolhe apenas uma pequena parte dos seus lucros em Espanha,  reposicionam-se fora do seu âmbito nacional e da Europa, no Brasil e no México, por exemplo.

Mas há alguma luz ao fundo do túnel: As recentes decisões de intervenção do Banco Central Europeu estão a reduzir os riscos do colapso da zona euro, e os fluxos de dinheiro estão a começar a inverter-se. Largos montantes devidos pelos bancos centrais dos países mais fragilizados, como o de Espanha ao da Alemanha, estão a reduzir-se, o que significa que cessou a drenagem em sentido contrário, das economias fragilizadas para as mais fortes.

Subsiste, contudo, a disfunção original da zona euro: Segundo a teoria económica, os capitais deveriam fluir das zonas mais desenvolvidas da zona euro para as menos desenvolvidas - aproveitando as vantagens de salários mais baixos e o facto de, geralmente, proporcionarem as zonas menos desenvolvidas oportunidades de melhores taxas de retorno dos investimentos que as zonas mais desenvolvidas. Por outro lado, é esperável que os trabalhadores emigrem de áreas onde o desemprego é elevado e os salários baixos para aquelas onde o desemprego é reduzido e os salários estão a subir. 
Mas a teoria não se confirmou suficientemente na zona euro, e essa falha explica a emigração massiva de jovens portugueses e gregos habilitados para fora da Europa, reduzindo a capacidade de recuperação e comprometendo o futuro, uma vez que a maior parte desses emigrantes, muito provavelmente, não voltará aos países de origem. 

Estas, as razões descortinadas por Howard Schneider, colunista do WP para assuntos de economia internacional, em São Paulo, Brasil. Por que é que a teoria não funcionou, H Schneider não sabe ou não quis dizer. Talvez porque, pelo menos para muitos norte-americanos, não é fácil entender que exista uma zona económica usando uma moeda única que não seja suportada por institutos que garantam os mesmos níveis de confiança nas áereas onde essa moeda, e só essa moeda, tem curso legal. Dito de outro modo, a maior parte dos norte-americanos supõe a União Europeia, e particularmente a Zona Euro, feita à quase imagem e semelhança dos EUA. E não há, pelo menos por enquanto, nenhuma semelhança possível. E enquanto não houver, enquanto as promessas andarem bem à frente da realidade, a emigração jovem do sul da Europa para fora da Europa continuará.

By the way, it´s snowing in Virginia today.






2 comments:

Bartolomeu said...

Do meu ponto de vista, o que está a motivar a emigração de jovens portugueses, para ocidente, tem directamente a ver com dois aspectos. Um, que é consequência daquilo que é citado no texto relativamente às perspectivas da asfixia das economias dos países da europa do sul, é a necessidade de espaço para desenvolver, para testar e colocar em prática, as competências técnicas adquiridas e alguma experiência prática.
Países como o Brasil, são, ainda, pese embora o desenvolvimento crescente que regista a vários níveis, espaços virgens para quem deseja colcoar em prática os seus conhecimentos e desenvolver os seus projectos. São também países que acolhem a inovação e apoiam a vontade de a colocar em prática e de a desenvolver. São países onde o intercâmbio de culturas e saberes, prospera e faz prosperar.
O outro aspecto que determina este movimento migratório, prende-se com o movimento de rotação da Terra e o efeito da força centrífuga que esse movimento exerce. Pode parecer um absurdo, o que acabo de referir, mas, se nos reportarmos aos tempos pré-históricos percebemos com facilidade, que todos os movimentos massivos de povos se deu de oriente para ocidente. Antes de em 500, as nossas caravelas rumarem para sul e depois para oriente, demandando as costas da Índia, tinham rumado antes para ocidente, descobrindo as costas do continente americano.
A História repete-se e renova-se ao repetir-se.
;)

rui fonseca said...


O Brasil é o país do futuro, escreveu há muitos anos Stefen Zweig, mas o futuro tardava em tornar-se presente e a afirmação virou em piada.

Por uma conjugação favorável de vários factores, o Brasil parece estar agora a encontrar o seu futuro.

Se os portugueses voltarem a encontrar naquelas paragens condições de uma vida melhor,viva o Brasil!

Grato pelo seu comentário.
Bom Ano!
Apareça mais vezes.