Ao primeiro-ministro são sobejamente reconhecidas as suas qualidades de negociador.
Não ganhou as eleições mas foi capaz de atrelar os partidos à esquerda, concedendo e transigindo dentro dos limites que os compromissos com a UE impunham. E, durante metade do prazo da legislatura, conseguiu o que muitos, ente os quais me encontro, não acreditavam que fosse possível.
Contou com o apoio do Presidente da República, a colaboração da Comissão Europeia e a tranquilidade laboral consentida pelos comunistas.
De repente, o vento mudou.
Os incêndios de Junho e o roubo de armas de Tancos, continuando ainda impunes larápios e coniventes, já tinham abalado a boa estrela do executivo mas as sondagens continuavam-lhes favoráveis.
As eleições autárquicas são ganhas, destacadamente, pelo PS, o PCP não escondeu o seu desagrado e acusou o parceiro de práticas desonestas, e o presidente do PSD declarou não querer continuar no seu posto.
Em Outubro, reacendem-se dramaticamente os fogos e, pela primeira vez, o primeiro-ministro vê-se obrigado a assumir responsabilidades dos serviços de protecção civil na dramática extensão das perdas materiais e humanas.
E, quase simultâneamente, acontece a tempestade perfeita, mau augurada dois anos antes:
O PR muda de discurso, os parceiros à esquerda mobilizam os sindicatos para a greve, fiando-se, além do mais, que, estando a direita sem líder, o governo não está ameaçado, e, para cúmulo das coincidências, Bruxelas passa a ver, quando o OE entra na AR para debate, "risco significativo nos défices de 2017 e 2018".
Não sei se ao primeiro-ministro ajudarão nervos de aço, porque do que ele vai continuar a precisar é de muito jogo de cintura.
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