Friday, October 20, 2017

O ATAQUE POR DENTRO

De Joschka Fischer, ministro das Relações Exteriores e Vice-Canceler da Alemanha entre 1998 e 2005 e líder do Partido Verde alemão durante quase 20 anos, pode ler-se aqui um artigo que resume o pensamento de quem percebe bem que a eventual independência da Catalunha desencadearia um processo imparável de fragmentação da Espanha que auto destruiria a União Europeia por dentro. 

Afirma Fischer,

"... Em 1 de Outubro o Governo da Catalunha realizou um referendo que, além de ser ilegal, segundo a Constituição espanhola, o referendo nem sequer estabeleceu as regras determinantes de quem poderia votar. ... O referendo alternativo catalão provocou medidas drásticas do primeiro-ministro Mariano Rajoy, que interveio para encerrar as mesas de voto. Foi uma grande tolice política, porque as imagens da polícia reprimindo com bastões os manifestantes catalães desarmados outorgou uma legitimidade enganosa aos secessionistas. Nenhuma democracia pode ganhar este tipo de conflito. E no caso de Espanha a repressão recordou imagens da Guerra Civil de 1936-1939, o seu mais profundo trauma até agora. 
A União Europeia não pode permitir a desintegração dos seus Estados membros porque são o seu cimento. Se a Catalunha se torna independente teria que encontrar um caminho futuro sem a Espanha nem a União Europeia. Com  o apoio de muitos Estados membros preocupados com os seus próprios membros secessionistas, a Espanha bloquearia qualquer intenção da Catalunha para ser membro da zona euro e da União Europeia. ..."

A partir deste ponto, Fischer continua a apontar um conjunto de argumentos de oposição à independência da Catalunha em nome da integridade da Espanha e da União Europeia e dos interesses culturais e económicos dos catalães.   

Nos apontamentos que, sobre este tema, tenho deixado neste bloco de notas, há uma quase total coincidência com este artigo de Fischer. Excepto num ponto, que é também aquele em que divirjo daqueles que, coincidindo com os argumentos de oposição à fragmentação da Espanha e da União Europeia, defendem que o Governo de Espanha não se deveria ter oposto à realização do referendo. Excluo, portanto, desta análise aqueles que, posicionando-se na extrema direita e na extrema esquerda contra a existência da União Europeia, coerentemente, defendem a independência da Catalunha e a proclamação dessa independência decorrente de um referendo. 

O Governo de Espanha não tinha, nem tem alternativa, senão pautar a sua acção no âmbito das suas responsabilidades constitucionais. E, constitucionalmente, o referendo com os objectivos que pretendia alcançar foi ilegal, e sê-lo-ia mesmo sem a intervenção da polícia. Assim o julgou, por unanimidade o Tribunal Constitucional espanhol. 
Se o referendo não tivesse sido perturbado pela intervenção da polícia, os catalães que discordassem da sua realização muito provavelmente não votariam. E o grupo independentista, mais mobilizado e catequizado, teria obtido um resultado favorável à independência, ganhando uma dinâmica imparável e despertando todos os movimentos independentistas em Espanha e fora dela, com os do País Basco na primeira linha de combate. 

Lamenta-se a pancada, lamentam-se todas as guerras e guerrilhas, todos os actos de confrontação quando a inteligência humana só por si não garante a paz. Mas não pode ir a ingenuidade ao ponto de imitar o compreensivo e tolerante Manuel, canalizador, quando advertiu o Joaquim, soldador: Oh Joaquim, tem mais cautela... Mandaste-me um pingo de solda para o olho...


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