"Qual será o comportamento do PS, fora do Governo, se a maré alta do descontentamento saltar para a rua? O PS é subscritor do memorando (MoU) mas a aplicação deste não obedece a critérios tão objectivos que não possam provocar diferenças de interpretação e os resultados diferentes leituras logo à partida. Repare-se, por exemplo, na tão controversa redução da TSU. Quando o Governo e os partidos subscritores do MoU se comprometem a uma "major reduction" de quanto é que se está a falar? Sabemos que não se trata de uma redução pequena e gradual, como, para efeitos eleitorais, tem pregado Sócrates. Mas não sabemos quanto nem como. Só esta questão, e há dezenas delas sensíveis à controvérsia, dá para excitar a opinião pública ao rubro e corroer o governo.
Uma coligação tripartida parece, neste momento, estar fora das perspectivas dos partidos da troica, apesar de ter sido, e continuar a ser, sugerida de vários quadrantes politicos. Do meu ponto de vista, que defendo praticamente desde quando iniciei este caderno, há mais de cinco anos, Portugal, na situação de crise em que se encontra há mais de uma dezena de anos, precisa de um governo que represente a grande maioria a população. Será sempre um governo fraco o que deixar de fora a representação de quase 50% dos portugueses" - aqui.
Depois deste apontamento de 2 de Junho de 2011, três dias antes de serem conhecidos os resultados das legislativas que viriam a atribuir à coligação, ainda em perspectiva, PSD/CDS, voltei diversas vezes ao tema ao longo destes quatro anos, insistindo sempre que a situação do país exigia mais que nunca um governo que representasse uma maioria qualificada do eleitores. A essa razão, que, aliás vinha anotando desde praticamente o início destes apontamentos, há quase dez anos, juntava as extremas exigências de um compromisso para o resgate da situação à beira da falência assinado pelo PS, pelo PSD e pelo CDS.
A auto-suficiência do primeiro-ministro Passos Coelho dispensou o PS, negociador e primeiro subscritor dos compromissos difíceis assumidos com a troica, da corresponsabilização na sua execução, e anotei neste caderno que a coligação PSD/CDS, entretanto constituída, não resistiria mais do que dois anos às reacções populares que as medidas de austeridade impostas iriam certamente espoletar. Não acertei porque, no prazo previsto, o líder do CDS se demitiu irreversivelmente para depois voltar atrás com a irreversibilidade,
Inesperadamente, o Governo do Sr. Passos Coelho cumpriu o mandato de legislatura, e ganhou as eleições com maioria relativa mas o líder do PS apresenta-lhe agora a factura pelo facto do partido que lidera ter sido ignorado ao longo destes quatro anos. E convoca a Esquerda para governar sustentado numa maioria absoluta coesa. Conseguirá? Eles dizem que sim.
Curiosamente, uma das medidas tidas como nucleares propostas pela troica - a redução da TSU -, não foi executada mas a ideia foi repescada pela equipa liderada por Mário Centeno e é um dos pontos que o PS se verá obrigado a ceder perante as exigências do BE para obter o acordo tripartido que poderá fazer o seu líder primeiro-ministro.
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Correl. - Uma via sinuosa e perigosa
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