- Votaste em quê?
- Já te disse: no Bloco! É proibido?
- Não, proibido não é, mas foi disparate.
- Também acho, mas por razões diferentes das tuas.
- ?
- Votei no Bloco para reforçar a oposição parlamentar ao governo. Nunca me passou pela cabeça que a camarada Catarina ia meter na gaveta o manifesto eleitoral do partido, e as suas justas reivindicações, e acasalar-se com os socialistas a troco de nada. Não foi para isto que votei no Bloco.
- Talvez o Costa a convide para ministra ...
- ... Pior ainda! Já viste o que será o parlamento sem a vivacidade dos bloquistas, sem os guinchos da Heloísa Apolónio?
- Essa é do Bloco?
- Não é, não. É dos comunistas verdes. Como os comunistas também vão dar tréguas à luta por uma política democrática e de esquerda, nem com a Heloísa podemos contar para acordar o hemiciclo.
-Vão acabar as greves dos maquinistas da CP?
- Receio que sim.
- E as dos tipos do Metropolitano, da Carris, ...?
- Este país vai ser uma pasmaceira, sem nervo nem sangue. Vamos ter aí um país de capilé nas veias.
- E continuaremos na União Europeia e no Euro? E na Nato?
- Claro. Será uma abdicação total!
- Hum! Sem greves nem contestações nas ruas, a mim parece-me que seria o melhor dos mundos.
- Do teu ponto de vista, não do meu. Sou pela revolução permanente.
- Há quanto tempo?
- Desde ontem à noite. Quando ouvi o Costa afirmar-se como o melhor posicionado para apresentar ao Cavaco uma proposta de governo estável, sustentado por uma maioria parlamentar que inclui o Bloco, passei-me.
- ?
- Estou a ser traído. Não foi para isso que votei no Bloco, já te disse.
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