Os portugueses reelegeram a política de austeridade uma vez que as duas principais formações políticas, a coligação PSD/CDS e o PS, que em conjunto obtiveram mais de 70% dos votos expressos e cerca de 84% dos lugares na Assembleia da República, subscreveram e prometem prosseguir as regras impostas pelos tratados da União Europeia, nomeadamente o Tratado sobre a Estabilidade, Coordenação e Governação na UEM, mais conhecido por Tratado Orçamental ou Tratado Fiscal, em consequência de uma recuperação económica motivada pelo crescimento das exportações, e nomedamente pelo crescimento das exportações de sapatos.
É esta, mais ou menos, a explicação da reeleição da austeridade dada esta semana no Economist - Shoes explain re-election of Portugal´s austerity government - The cobblers are prospering, and the voters are ... not to angry - Os sapateiros prosperam e os eleitores ... não estão muito zangados, e o Sr. Passos Coelho consegue ser o primeiro primeiro-ministro europeu a ser reeleito após ter governado o país condicionado pelas exigências impostas por um resgate. Uma explicação por meia verdade.
É inquestionável que, no meio da depressão provocada pelas medidas de austeridade, as exportações, de que a indústria do calçado é um exemplo evidente mas, felizmente, não único, comportaram-se lindamente, permitindo uma recuperação económica, débil mas prometedora. Mas não é verdade que os portugueses tenham votado maioritariamente pela austeridade. Aproximadamente 62% votaram em partidos, incluindo o PS, contrários a essas medidas. E é na ambiguidade das posições assumidas pelo PS, contrário às medidas de austeridade mas fiel ao cumprimento dos tratados europeus e ao indiscutível cumprimento do pagamento da dívida, que hoje se balança a inquietação acerca do próximo governo. Uma ambiguidade que parece alastrar-se à sua esquerda como fingimento evidente.
Como é que poderá o PS contar com o apoio do PCP, e do BE, sem uma rotação formal de 180 graus destes partidos que desaprovam todos os compromissos assumidos, e reassumidos, pelo PS perante as instituições europeias?
Nem com forma de sapateiro.
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