Não leio o "Correio da Manhã" mas conheço-lhe o estilo e as intenções.
Apesar do pendor sensacionalista e do despudor com que o CM atinge o persistente recorde de tiragens, a decisão judicial de silenciar o jornal e os jornalistas que vasculham as pegadas do ex-primeiro-ministro são inadmissíveis num país livre.
Porque, das duas uma, ou o jornal publicou informação verídica mas judicialmente reservada e deve ser condenada a fonte que facultou a informação e não o mensageiro ou a informação publicada não é verdadeira e o jornal e os jornalistas deverão pagar pelas atoardas que espalharam.
O director-adjunto do CM afirma aqui que jornal vai acatar a decisão judicial e contestar.
Quem pode contestar os fundamentos das razões avançadas por E. Dâmaso?
"A providência cautelar foi requerida pela defesa de Sócrates e tem o estranho efeito de silenciar o CM sobre o processo, mas não o próprio nem os seus advogados. Numa democracia que tem a liberdade de imprensa e de expressão como pilares, este tipo de silenciamento aproxima-se perigosamente da ideia de censura prévia. É típica do velho país do respeitinho que políticos como Sócrates e alguns setores do poder judicial tanto gostam. Vai, de resto, em colisão frontal com a jurisprudência nacional e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Uma coisa é certa: não será esta providência cautelar que vai parar a investigação do CM sobre o político Sócrates e que vem desde um tempo em que não havia qualquer investigação sobre ele. Jornalismo que se demite da sua obrigação de escrutínio dos atores políticos não é digno nem do nome nem da nobre história da profissão."
O director-adjunto do CM afirma aqui que jornal vai acatar a decisão judicial e contestar.
Quem pode contestar os fundamentos das razões avançadas por E. Dâmaso?
"A providência cautelar foi requerida pela defesa de Sócrates e tem o estranho efeito de silenciar o CM sobre o processo, mas não o próprio nem os seus advogados. Numa democracia que tem a liberdade de imprensa e de expressão como pilares, este tipo de silenciamento aproxima-se perigosamente da ideia de censura prévia. É típica do velho país do respeitinho que políticos como Sócrates e alguns setores do poder judicial tanto gostam. Vai, de resto, em colisão frontal com a jurisprudência nacional e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Uma coisa é certa: não será esta providência cautelar que vai parar a investigação do CM sobre o político Sócrates e que vem desde um tempo em que não havia qualquer investigação sobre ele. Jornalismo que se demite da sua obrigação de escrutínio dos atores políticos não é digno nem do nome nem da nobre história da profissão."
5 comments:
A questão aqui (espero eu) é o CM ter-se constituído assistente. A partir do momento que o faz, a ética jornalística devia impedir de publicar notícias sobre assuntos aos quais tem acesso directo, ao abrigo dessa qualidade de assistente
Muito bem.
Mas então para que serve a informação legalmente posta ao dispor dos jornalistas?
A ética é um conceito muito difuso. Uma das funções do jornalista é dar a conhecer as notícias de que tem conhecimento e que, em seu entender, são de interesse público. Sabe-se que os critérios de avaliação do interesse público no CM não são os mesmos que em outros jornais.
Mas se vamos por aí ... vamos directamente à censura prévia.
No caso em questão, se há informações o processo que devem manter-se reservadas, os jornalistas não deveriam ter acesso a elas.
Não há cão que, contra a sua natureza, mantenha pacientemente a manteiga na ponta do nariz.
Eu ia jurar que há outros jornalistas assistentes no processo, do Sol, por exemplo, mas não consigo encontrar o artigo em que li isso.
Sempre achei muito curioso que em Portugal, aquilo que é considerado um acto de cidadania noutras partes (wikileaks, whistle blowers em geral, etc ) seja sempre embrulhado em imensas considerações éticas que, na prática, são aliadas objectivas da corrupção (como se dizia no PREC).
Aparte isso, eu mantenho que o Correio da Manhã é dos poucos jornais em que se faz jornalismo a sério. Fica muito bem dizer mal de tal pasquim (em geral por pessoas que não o lêem, c'órror!), mas também já constatei que, de cada vez que vem à baila em conversa com jornalistas, são unânimes em confirmar, um pouco a contragosto, a qualidade dos jornalistas do CM. E eu, que em geral só o leio online como a todos os jornais (que, em minha opinião, são maus demais, todos), fico sempre agradavelmente surpreendida pela qualidade do jornal quando o leio em papel de fio a pavio (já me aconteceu): notícias curtas e informativas, pouquíssimos comentários sobre comentários (que enchem páginas dos outros), informação a sério. Ah, claro, e umas páginas de anúncios sugestivos como tem o JN em papel, por exemplo.
IsabelPS,
Agradeço-lhe o seu contributo.
Vou ter em conta o seu reparo e passar a dar uma vista de olhos no CM on line.
Mas não concordo que todos os nossos jornais sejam maus demais. De qualquer modo, neste caso o CM foi o único alvejado, um facto que também me causou estranheza.
Quanto aos anúncios sugestivos, se não são publicados on line, escapam-me.
Bem me parecia que não ia ser só a Cofina:
http://sol.pt/noticia/419754/Socrates-processa-SOL
Se bem que talvez isto seja diferente (e mais normal, se assim se pode dizer): processar por notícias publicadas e não, impedir que venham a ser publicadas notícias.
De qualquer modo, isto parece-me um disparate, dentro da lógica que convém evitar que os nossos adversários sejam vistos como vítimas. Aliás, a estratégia desta defesa ultrapassa-me (ou talvez não, provavelmente andam a mando do animal feroz): com todos os recursos interpostos, há montes e montes de coisas que saem cá para fora e podem ser noticiadas porque os acórdãos são públicos (se bem entendi). Enfim, venha daí a acusação rapidamente...
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