Saturday, February 22, 2014

MALDITO OURO

Em Abril de 2011, já lá vão quase três anos, coloquei um comentário - Um sorriso triste - e este gráfico publicado no Economist:


Em Agosto de 2012 o DN noticiava que "Portugal tem as segundas maiores reservas de ouro do mundo", esclarecendo que "as reservas de ouro do Banco de Portugal são as segundas que mais pesam em relação ao PIB e representam 40% das necessidades de financiamento de 2013". Em meados de Agosto o ouro era transaccionado a  cerca de 2620 dólares/onça.  

Um ano depois, em Setembro de 2013, - vd. aqui - as reservas de ouro representavam 85% do valor total das reservas do Banco de Portugal, o índice mais elevado dos 40 países com maires reservas em termos absolutos (Portugal detinha a 15ª.posição, numa altura em que as cotações já tinham caído para 1367 dólares, cerca de metade do valor observado um ano antes). Ontem a cotação fechou nos 1325 dólares/onça depois de uma recuperação observada no último mês após uma queda abissal do máximo observado no ínicio de Outubro de 2012.

Abordei o assunto em vários apontamentos colocados neste bloco de notas, estranhando sempre a política (ou a falta dela) da gestão das reservas de ouro do BP, um assunto tabu tanto para os governos como para as oposições, das mais moderadas às mais extremas. Dir-se-ia (dir-se-á) que sobre o tema paira do fantasma do senhor de Santa Comba. 

Sempre que levantei o tema, aqui ou junto de amigos ou conhecidos, as observações foram sempre as mesmas: não pode vender-se, tem pouco peso relativamente à dívida, é um recurso para uma situação extrema, tem um peso socio-psicológico elevado. E o ouro lá continua intocado (supõe-se que sim) depois de ter levado alguns fortes desbastes em tempos anteriores à adesão à UE.

Anteontem, lia-se no Jornal de Negócios que: "queda do ouro e alta das obrigações fazem subir a dívida (líquida) externa nacional" e que os técnicos da Comissão Europeia entendem que "o nível de desequilíbrio da economia e a elevada dívida externa e desemprego aconselham cortes adicionais dos salários da ordem dos 2% a 5%".

Quer isto dizer que a tremenda queda  do ouro, que não se pôde (?) vender quando atingiu valores máximos, está agora a contribuir para o aumento da dívida externa líquida e, consequentemente, para a redução dos salários de quem no ouro não mete o olho sequer. É possível?

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2 comments:

Luciano Machado said...

Olá Rui
Por acaso sabes como se calcula a famigerada "dívida externa líquida"? Sei que é um conceito estatístico e, como não sabia como se calcula, fui ao site do BdeP à procura de esclarecimento. Encontrei um manual do FMI que podes consultar em http://www.imf.org/external/pubs/ft/mfs/manual/index.htm
É um documento extenso mas percebi que a avaliação é feita a preços de mercado, daí que se a cotação das obrigações do tesouro no mercado secundário sobe, a dívida líquida subirá. Quanto ao ouro é a mesma situação.

Rui Fonseca said...

Viva Luciano,

Pois é isso mesmo.
Confirma, aliás, o que escreve o jornalista no JN, onde li a notícia.

Obgd