Friday, February 07, 2014

A ARTE DOS COMENDADORES

Reconheço que, das pessoas com quem troquei ideias sobre o baladíssimo caso dos Mirós, a maioria defende o investimento público nas 85 obras do artista catalão. Para alguns, o argumento mais sólido é o facto de "elas já se encontrarem cá". E nem todos, devo acrescentar, o fazem por posicionamento político oposicionista.

Entretanto, iniciou-se o julgamento do caso BPP e um dos activos salvados deste outro antro de ratos é uma colecção de arte que poderá valer entre 20 e 60 milhões de euros, registada nos balanços do banco por 40 milhões. O mais provável é que vá um dia destes a leilão. Deverá o governo em nome do Estado português impedir a venda e investir em mais este espólio artístico, instalado na sua quase totalidade em edifício construído para o efeito em Alcoitão? Uma pergunta que deveria ter sido feita à senhora PGR, que, inesperadamente, se revelou uma autoridade em avaliação de arte contemporânea durante a entrevista desta semana. 

E, já agora, porque o tamanho é outro e a permanência mais antiga, deverá o governo em nome do Estado português activar a opção de compra da colecção Berardo depositada a prazo no CCB, com termo já próximo? Neste caso teremos de considerar um investimento superior a três centenas de milhões de euros. Tudo somado, pagaremos pelo conjunto um pouco menos de 500 milhões de euros. Uma ninharia se comparada com os 6 ou 7 (ou 8?) mil milhões de euros que atingirá o buraco do BPN. Que dorme nas secretárias da justiça a sono solto, totalmente insensível à excitação que para aí vai com os Mirós.

Ora se o senhor Joe Berardo já é comentador pelos contributos dados à arte em Portugal, ainda que a Caixa esteja encrencada com o empréstimo que lhe concedeu para compra de posição accionista de relevo no BCP, os senhores José Oliveira e Costa e João Rendeiro merecerão bem a mesma distinção considerando os feitos semelhantes.

Correl. -
Colecção Berardo vale 316 milhões
Fundação Elipse pode ajudar a salvar o BPP (Novº. 2008) A colecção de arte poderá valer 60 milhões de euros
A Elipse estava registada nas contas do banco por 40 milhões mas valerá 20 milhões segundo a Delloite (Fevº. 2014)
Pagamento aos credores do BPP bloqueado em tribunal (Fevº.2014)

2 comments:

Unknown said...

Que bem opinam os nossos canavilhos com o dinheiro dos outros. Não há um termo que resuma estas almas = que tal irresponsabilidade á holandinho?

Rui Fonseca said...

É isso mesmo.
O que eu proponho é que aqueles que são favoráveis à compra dos 85 Mirós, e, pelas mesmas razões que sustentam, quererão que seja comprada a colecção Elipse e a colecção Berardo, promovam uma subscrição pública. Se houver 2 milhões que adiram, a coisa ficará pela bagatela de 25 euros por subscritor para comprar dos Mirós e 250 para Mirós, Elipse e Berardo.

Eu não me negarei a entrar com a minha parte.