Soube-se ontem que Godinho, o sucateiro da Face Oculta, ganhou seis lotes de sucata militar de um concurso que envolvia catorze, já depois de se encontrar detido.
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Ouço hoje na rádio o responsável pelo concurso afirmar que tudo foi feito com a máxima transparência, os envelopes fechados foram abertos na presença de outros concorrentes, o Godinho ganhou seis propostas por ter apresentado as melhores condições para os respectivos lotes.
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Quem percebe um mínimo das linhas com que se cosem estas coisas, sabe que em matéria de concursos nem sempre o que parece é, e a abertura das propostas em público não garante, só por si, a garantia da limpesa do processo. Não garante, por exemplo, que as propostas não tenham sido objecto de cambão entre os concorrentes.
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Mas ainda que os processos tenham sido limpos mesmo em mãos suspeitas, há um princípio que o responsável militar não deveria ter ignorado e que, pelos vistos, ainda ninguém de direito lhe relembrou: a de que não se deve negociar com quem nos enganou. Godinho está detido em consequência de fortes suspeitas de ter enganado o Estado. O senhor militar não ignora este facto. Como é que admite a concurso um suspeito corruptor em várias frentes?
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O Estado, enquanto entidade abstracta, é um parceiro representado por uma multidão de tutores. O senhor militar é um deles. Como é que não fez relativamente ao Estado, que representava neste caso, o que faria se se tratasse de um negócio próprio. Dito de outro modo: aceitaria o senhor militar negociar com alguém relativamente contra o qual tivesse uma pendência na justiça por ludíbrios sucessivos à sua propriedade?
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Dormiria o senhor militar com o inimigo?
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