Monday, November 23, 2009

PLANO INCLINADO




Não é por falta de exposição mediática das dificuldades que muitos portugueses enfrentam e que não irão parar de crescer nos próximos anos, segundo todas as previsões, que essas dificuldades irão desaparecer. Não é por repetidamente se chamar coxo a um coxo que o coxo deixa de coxear. O que o coxo agradeceria era de uma operação que lhe corrigisse a perna coxa.
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Medina Carreira repete em Plano Inclinado incessantemente aquilo que toda a gente, que esteja com um mínimo de atenção, já percebeu: entre outras desgraças, a economia portuguesa está praticamente estagnada há mais de dez anos, os portugueses consomem muito mais do que produzem, o endividamento das famílias, do Estado, das empresas, da banca, não pára de crescer, Portugal caminha alegremente para um empobrecimento contínuo.
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Os dois outros convidados do programa pouco têm intervindo. Medina Carreira salta imediatamente em cima de qualquer mas que eles se arrisquem a sibilar. No última sessão, Medina propõs (a ideia está longe de ser original, já foi abordada várias vezes neste caderno de apontamentos) a redução dos salários como forma de recuperar a competitividade perdida nos últimos anos e, deste modo, estancar o crescimento, agora imparável, do endividamento externo. João Duque considerou a proposta totalmente inviável, Nuno Crato interveio para propor a reforma da educação. Medina, sem cerimónia, considerou a educação (e bem, pelas razões que também já referi no Aliás, a propósito da mitificação da educação como factor de produtividade), neste caso, um paliativo inconsequente.
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No próximo programa sai João Duque para entrar outro convidado que discuta com Medina e Crato a educação como ressuscitador da nossa economia. Aposto que Medina os meterá num bolso. Porque a educação é importante, sim senhor, mas nas actuais circunstâncias ajuda pouco à economia o que se possa fazer pela educação.
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O que é lamentável é a não comparência nestes programas, em que Medina Carreira canta o nosso fado, de alguém que contraponha de forma consistente ao discurso de Medina propostas de ultrapassagem de uma crise que se instalou e que só pode ser ultrapassada com um conjunto de medidas inovadoras apoiadas maioritariamente na AR.
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Já depois de ter composto este apontamento leio que o governador do Banco de Portugal quer aumentos (dos salários) de 1 a 1,5% em 2010 e defende que será preciso aumentar impostos para controlar défice. Receitas velhas que só podem continuar a estafar a grande maioria dos portugeses. E digo, a grande maioria, porque há quem a quem a crise não bateu à porta nem, provavelmente, vai bater.
Entretanto, chega a notícia (que não é notícia) que as centrais sindicais criticam Constâncio pela "persistência" no apelo à moderação salarial " que consideram uma vergonha" . Os sindicatos continuam sem querer perceber o que se passa com a economia portuguesa.

5 comments:

aix said...

«...mas nas actuais circunstâncias ajuda pouco à economia o que se possa fazer pela educação».
Não sou economista, mas procuro entender o mundo em que vivo, no qual a Economia (como a política) tem papel irrecusável. Tenho visto um pouco do programa 'Plano Inclinado' porque, sinceramente, não consigo aguentá-lo todo, sobretudo devido à atitude dominadora e ultra-pessimista de Medina Carreira. 'Mutatis mutandis'
faz-me lembrar a pregação derrotista e arrasadora do Savonarola, cujo desfecho foi o mundo não acabar e ele ir parar à fogueira. Ambos não têm razão? Se calhar até ambos a têm, mas há maneiras de equilibrar ou mesmo de calibrar o discurso. E o que propõe MC? Medidas avulso como a de acabar com os 2 meses de subsídios para os reformados que, em meu entender, nada resolveriam. Critica a falta de estratégia, mas ele não propõe uma.(Não esquecer que já teve nas mãos a pasta das Finanças, não sei com que resultados mas suponho que brilhantes).Imagino o que seria um Primeiro Ministro (Sócrates ou outro)a ter o discurso de MC.
Porque essa de minimizar o papel da educação no desenvolvimento
faz-me lembrar o que dizíamos na
Formação: se o saber não resulta tentem a ignorância.

Rui Fonseca said...

"Porque essa de minimizar o papel da educação no desenvolvimento
faz-me lembrar o que dizíamos na
Formação: se o saber não resulta tentem a ignorância."

Caro Francisco,

Obrigado pelo teu comentário. Amanhã, conto escrever mais qualquer coisa acerca do assunto.

Mas desde já acrescento ao que escrevi: Não se trata de minimizar
a educação no processo de desenvolvimento mas do impacto que medidas dirigidas à educação (quais?) podem ter na inversão da tendência da economia portuguesa, e do endividamento externo, neste momento.

Repara que há muito desemprego de pessoas qualificadas e que muitos licenciados estão a abandonar o país.
Afinal temos falta de competências ou excesso? Porque é que muitos licenciados estão a trabalhar em "call centers"?

O que é que faz falta neste momento? Mais educação? De quê?

António said...

Boa noite.
"Os sindicatos continuam sem querer perceber o que se passa com a economia portuguesa."
Os sindicatos?
E o sr. governador?
E o sr. dr. ministro das finanças?
E os que tais?
Manipulam-se os numeros até não poder mais e quando já não conseguem fazer contas de 2+2 vêm com a cantilena de que é preciso reduzir salários sem se ajeitarem a baixar os deles?
O sr. governador deve ganhar, só de ordenado, aquilo que 100 Portugueses ganham a trabalhar no duro. Junte-lhe outro tanto em despesas com o cartão de crédito que todos nós lhe pagamos, mais o carrão, o motorista, a secretária, os combustíveis de borla, as viagens, os telefones todos, e mais, mais e mais.O sr. Freitas, antes de sair, até deu um louvor ao motorista que lhe passeava a família e a levava às compras.
O sr. governador ainda tem a lata de dizer que aumentos, só de 1% porque a inflação é negativa.
Para ele e os outros como ele, pode ser, porque os artigos de luxo baixaram todos e são esses bens que são metidos nas estatísticas para mandar as médias para baixo.
Se lhe subirem 1% no vencimento, que lhe pagam, não o que ele faz por merecer, sobem-lhe tanto como o que ganha um Português num mês inteiro, a esgravatar, a suar para conseguir levar para casa qualquer coisa que se coma sem ser farinha e cereais durante metade do mês.
Sabem que se passa fome em Portugal?
Não parece. A eles não lhes passa perto nem vêem o que se passa, que os vidros dos carrões são fumados e na Quinta da Marinha ou no Heron-Castilho só vivem ricos.
Deram cabo de um País, levaram-no à miséria e ainda têm a pouca vergonha de querer dar de aumento 4 euros por mês a quem lhes paga todas as mordomias!
Que se há-de chamar a essa gente?

António said...

Os sindicatos e os que sustentam estes imcompetentes todos é que não percebemos o que se passa?


O Ministro das Finanças Português foi considerado o pior Ministro das Finanças de 19 países da União Eurpeia.
- Quando a jóia da corôa é o pior...

O jornal Financial Times considerou no ano passado Teixeira dos Santos o pior ministro das finanças de 19 países da União Europeia.
Isto diz bem da miséria que vai passando por Portugal.
O Ministro que em Portugal é considerado o melhor ministro é apenas o pior entre os 19 considerados, segundo o jornal Financial Times,

Rui Fonseca said...

Caro António,

Concordo, e tenho-o aqui dito, que esta crise tem atingido uma parte da população e poupado a outra.

Nesta outra, para além daqueles que nunca estiveram nem vão estar em crise, inclui-se a função pública que tem manifestamente visto os seus rendimentos mais actualizados que os do sector privado, em geral.

Parece-me, portanto,um desconchavo do senhor governador pronunciar-se acerca dos aumentos no sector privado quando o que ele deveria era pronunciar-se (se entendesse pronunciar-se) sobre o sector público.

Mas, sobretudo, deveria pronunciar-se sobre os consumos no sector público de bens e serviços, nomeadamentte dos que são importados. E de medidas que levassem a reduzir a nossa dependência externa.

Recomendar o aumento de impostos pode ser a recomendação de uma medida inevitável mas é uma recomendação demasiado fácil e batida.