Tuesday, November 10, 2009

AS DESCULPAS DO EURO - 2

Ceteris paribus é um facilitador mas, inevitavelmente, um distorcedor da realidade. Ajuda e trai.
O trabalho de Fernando Alexandre e outros, Destruição de emprego em Portugal e a adesão ao euro, interpreta a responsabilidade do euro na destruição de empregos, sobretudo, na indústria de baixa tecnologia, em Portugal, uma questão preocupante que tem motivado vários outros investigadores a medirem as extensões dos estragos em outras paragens.
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Como sempre sudece, sendo a realidade social permanentemente mutante e multifacetada, na impossibilidade de a modelizar na íntegra, os economistas elegem um factor e procuram quantificar a sua responsabilidade na rota da realidade objecto da sua análise. Sendo indiscutível que, ceteris paribus, a valorização de uma moeda relativamente a outra retira competitividade aos países que usam a primeira relativamente aos que usam a segunda, à perda de empregos nos primeira corresponderá ganhos de empregos nos segundos. Em que medida, é o propósito, de Destruição de emprego em Portugal e a adesão ao euro.
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No comentário que coloquei aqui referi algumas dúvidas que as conclusões daquele trabalho me suscitaram, não vou repeti-las. Se volto ao tema é para acrescentar uma reflexão circundante ao assunto que não é suficientemente nítida no meu comentário: Se, por razões incontornáveis, Portugal abandonasse ou fosse compelido a abandonar o euro, a economia portuguesa recuperaria os empregos perdidos nas indústrias de baixa tecnologia através do regresso de investimentos em actividades com perfis idênticos? Creio que não e quero acreditar que os autores do trabalho Destruição de emprego em Portugal e a adesão ao euro pensam do mesmo modo. O euro é um bode expiatório que, uma vez morto e enterrado, não levaria com ele a peste de que era acusado ser transmissor.
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As indústrias de baixa tecnologia (têsteis, calçado) têm em comum a venda de horas de trabalho. As máquinas e as "matérias-primas" são geralmente produzidas no exterior, o valor acrescentado nacional corresponde essencialmente às remunerações pagas. Mesmo a factura energética é, em grande parte, resultante de importações. O euro, só por si, não tornou menos competitivas as exportações portuguesas ao garantir estabilidade do poder de compra aos empregados naquelas indústrias. O que tornou foi difícil o ajustamento dos salários às condições concorrenciais dos fornecedores de países onde a mão-de-obra é mais baixa. Teriam as indústrias portuguesas de baixa tecnologia resistido aos concorrentes chineses, indianos, etc. se não tivéssemos aderido ao euro? Teriam, se tivessem reduzido os salários até aos níveis dos seus concorrentes. E se fossem reduzidas as facturas, e portanto os salários, de todos os seus fornecedores internos, incluindo o Estado.
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Quanto seria? Essa é a questão primordial e, do meu ponto de vista, de mais fácil quantificação.

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