Saturday, April 19, 2008

O CORO DO CHORO DOS INTELECTUAIS

Vezes sem conta, tenho provocado alguns comentadores na blogosfera (alguns deles também comentadores em jornais, rádio, rádio, televisão) denunciando-lhes a crónica tendência para a lamentação. Hoje meti uma farpa num post de João Paulo Guerra em Sorumbático. Não espero que lhe interrompa o choro. É choro convulsivo.
.
O principal mal que aflige Portugal é a atávica propensão para a lamentação dos seus intelectuais. Em Portugal não se pensa, chora-se.
.
Cada um em seu canto, choram desesperadamente os mais lidos e ouvidos comentadores em jornais, blogues, na televisão, na rádio. E a maior tragédia é que quem os ouve ou lê, gosta disso. Lambe-se. Não fosse esse o caso, a choraminguisse não ganharia a vida.Chora-se por tudo e por nada. Quando não há grande coisa para chorar, amplia-se. O maior chorador, Vasco Pulido Valente, chora até pelo não e pelo contrário.
.
Ouvindo-o chorar, larga o resto dos comentadores e analistas aos berros. E já se sabe: com o choro em coro o berreiro aumenta exponencialemente em decibeis. Agora, vai haver falta de pão. E de leite. Os preços vão escalar até ao insuportável. A fome dizimará.
.
Admitamos que as ameaças acontecem. Resolvem-se chorando? É por chorar que vamos continuar a mamar?
Não é.
Se queremos resolver os problemas, se queremos afastar as ameaças, não devemos sentar-nos à beira da estrada e lamentar-nos a quem passa. O que devemos é discutir soluções, ideias, revoluções até.
.
Não, definitivamente não, não é com lamentações que se ultrapassa o muro.

5 comments:

Carlos Rebola said...

Olá Rui
Não, não venho aqui chorar, até porque não sou intelectual, mas tenho intelecto... venho aqui e voltarei, Rui, para gritar bem alto a minha revolta contra aquilo sobre o qual os intelectuais choram ou choramingam, e contra essencialmente o que de mal estão a fazer aos mais frágeis... é preciso denunciar, exigir, gritar sem esperar ser pago ao segundo na TV e... para tudo dizer desde que tudo fique na mesma...
Chorar é uma mina, Rui e parece que resulta.
Um abraço e bom Domingo
Carlos Rebola

aix said...

Caro Rui,
Estás sempre em forma para denunciarees os choramingas. Um bç

Carlos Medina Ribeiro said...

Caríssimo,

Fez muito bem em deixar o seu comentário no 'Sorumbático', mas o JPG é um jornalista / cronista, pelo que a sua função é analisar e comentar a realidade que observa. Não lhe compete resolver os problemas. Para essa tarefa, há uma multidão de gente a quem todos pagamos ordenado e mordomias - são os políticos profissionais.
Acresce que, embora eu nem sempre esteja de acordo com o que autor escreve, lendo esta crónica com atenção não vejo onde discordar:
________

«AINDA NÃO HÁ agitação social perante a expectativa da fome e talvez o país não venha a enfrentar uma guerra do pão. Mas lá que os preços disparam, isso disparam e consideravelmente acima dos salários contidos pelas baias da ficção da inflação prevista. O leite, o queijo e os ovos constituem para já o grupo de alimentos mais atingidos por maiores aumentos de preços. Haviam de tocar pela porta deste país vulnerável, dependente e entregue aos mais vorazes apetites e interesses alguns dos efeitos da crescente substituição de solos da agricultura para a produção de biocombustíveis, com vista a manter em circulação a indústria e o comércio automóveis, acrescidos por outras alterações mundiais na produção, especulação e consumo de cereais. E aí está o leite a puxar os preços da alimentação substancialmente para cima e os hábitos de consumo drasticamente para baixo. Vai passar à história a geração dos portugueses que cresceram com o salutar consumo regular do leite em casa e até nas escolas. A nova geração que coma brioches. De plástico!
Mas o mais original factor do disparo da inflação em Portugal é o aumento brutal dos preços dos serviços hospitalares. “Tendencialmente gratuitos”, como mandaria a Constituição da República se fosse respeitada e mandasse alguma coisa, os preços dos serviços de saúde subiram mais de 80 por cento no espaço de 12 meses, com o aumento das taxas moderadoras.
As taxas para “moderar” o recurso dos doentes portugueses ao Serviço Nacional de Saúde subiram cinco vezes mais em percentagem que o aumento de preços destinado a abrandar o consumo dos malefícios do tabaco. Refinada hipocrisia é o que isto revela».

_______

Abraço

CMR

Rui Fonseca said...

Caríssimos amigos,

Agradeço os vossos comentários e permitam-me que, mais detalhadamente, responda à afirmação de Carlos Medina Ribeiro
com a qual discordo totalmente:

" Não lhe compete resolver os problemas. Para essa tarefa, há uma multidão de gente a quem todos pagamos ordenado e mordomias - são os políticos profissionais."

E discordo, sabendo bem que me coloco contra a corrente. Porque é muito corrente a ideia de que é aos políticos (que elegemos e a quem pagamos) que compete a obrigação de encontrar soluções para os problemas e concretizá-las.

Não deve ser assim.

A cada cidadão consciente compete, dentro dos seus conhecimentos e capacidades, reflectir sobre a realidade envolvente e discutir propostas que, em seu entender, possam melhorar o mundo em que vive.Um bocadinho, ínfimo que seja.

Criticar por criticar não só é inconsequente como chega a ser irresponsável. Quando alguém afirma que os impostos devem baixar (e eu concordo com a ideia) mas não avança com contrapartidas (o que deve baixar do lado da despesa) está apenas a ensaiar um discurso de demagogia.

Quando alguém afirma que as taxas moderadoras são exorbitantes mas não olhou primeiro para OGE, e particularmente para o orçamento do Ministério da Saúde, consegue que muita gente abana a cabeça concordando com ele mas não passa daí.

Porque, quando se critica, caro Carlos Medina Ribeiro, temos de ter um ponto de referência. Se critico a situação A é porque considero melhor a situação B.

Claro que a situação B não inclui a hipótese de não pagarmos taxas nem impostos.

(Isso também eu queria!)

Salvo melhor opinião.

Rui Fonseca said...
This comment has been removed by the author.