Monday, April 14, 2008

O TRABALHO NÃO É PARA VELHOS

De vez em quando ouvimos ou lemos uma alma condoída com a sorte dos velhos desocupados, e vem-nos à ideia o versículo bíblico que penitencia o pecado original com o a obrigação de ganhar o homem o pão com o suor do seu rosto. A mim, sempre me pareceu que não pode a bondade divina consentir que uma pena, mesmo que para alguns seja leve, não se extinga com o decorrer do tempo. É natural, portanto, que ao fim de milénios de expiação a humanidade caminhe, finalmente para a libertação e a desfrute no jardim das delícias onde os frutos abundarão sem ninguém seja obrigado a semear para colher. A curto prazo, e enquanto a alforria não abranger todos, percebe-se que os mais velhos tenham direito a sentar-se descansados à porta do jardim delicioso. Ao assunto já dediquei alguns post aqui, no Aliás, mas, sendo interessante e muito abordado, nunca é demais voltar a ele.
.
Também eu aplaudo as propostas (acerca do assunto: Envelhecimento activo : mudança de mentalidade ) de Margarida Corrêa de Aguiar no Quarta República, mas tenho as maiores dúvidas que sejam exequíveis.

A questão é altamente complexa e, lamentavelmente, do meu ponto de vista, não tem solução no campo das boas intenções.

O trabalho, com a configuração que hoje o entendemos, tenderá a reduzir-se em consequência do aumento da produtividade: a mais produção corresponderá menor emprego em termos relativos.

Há quem, apontando para o passado recente, afirme que tem acontecido o contrário: a mais produtividade corresponde maior emprego. O que é verdade, mas só aparentemente. E só aparentemente, porque a produtividade é um conceito subtil e frequentemente ilude o observador se ele toma como período de análise um período de forte evolução tecnológica quando os efeitos dessa mesma evolução ainda estão por se repercutir em pleno.

Se admitirmos que o homem tem demonstrado capacidades antes insuspeitas para aumentar a produção mas também o consumo, (...) , temos também de admitir que a capacidade para consumir tem limites inultrapassáveis: as 24 horas do dia.

Assim sendo, inexoravelmente, a oferta de trabalho está limitada ao aumento das possibilidades de crescimento do consumo.

É inevitável, portanto, o decréscimo do emprego (em termos relativos) para as produções consumíveis. A menos que se produza para desperdício ( e a economia já se sustenta hoje em grande parte nesta fuga para a frente) ou se observa um cataclismo que obrigue a uma reconstrução em larga escala.

Quando ouço pessoas referirem o excesso de horários de trabalho observados na banca, por exemplo, não posso deixar de pensar nos tempos, não tão longínquos assim, em que a generalidade das pessoas trabalhava de sol a sol.

Se tomarmos o caso da banca, como exemplo, da tendência futura do emprego, a situação não é risonha para a oferta de trabalho: Hoje é possível conceber um grande banco a funcionar com um número reduzidíssimo de empregados.

O trabalho tende a ser um "bem escasso" e eu costumo dizer aos meus amigos que um dia quem quiser trabalhar tem de pagar. Por agora, ainda não é assim, salvo casos muito pontuais.

Em todo o caso num mundo em que o emprego escasseia, o trabalho não é para velhos. Oxalá dê para os novos.

Dizendo isto não digo que a questão não coloque problemas sociais cada vez mais difíceis. O que não sei é como se encontra solução.
Salvo os casos de ocupação em regime de voluntariado que não colidam com procura de emprego por parte de mais jovens.

No comments: