Monday, August 26, 2024

PODIA TER SIDO PIOR

 28 de Fevereiro de 1969

 ...

Quando o sismo te sacudiu e tu, instintivamente, pulaste da cama, o rumor zangado das pedras das paredes relembrou-te que quando a terra abana se procure abrigo nas zonas mais reforçadas do espaço próximo. Deste um salto para o vão da janela, e aquela vista, sempre deslumbrante, daquela vez sugou-te num vórtice paralisante que te cerrou os olhos até as pedras sossegarem. Durante os longos instantes de suspensão da vida quando o planeta rearruma as partes, só o som telúrico se fez ouvir, o medo emudeceu os bichos.

Barb!Barb!Barb!... ....Mila!Mila!Mila! ... .... Não há luz? Não há luz?
Oh!Meu Deus, não vejo nada ... não vejo nada ... não vejo nada...
Barb! Barb!Barb! ... Mila!Mila! ...Oh! Meu Deus, o que é isto? o que é
isto? Não há luz, ... não vejo nada, ... não há ninguém que me ouça?
Barb!Barb!Barb! ...

Era a dona da casa, a gritar lá dentro, na zona reservada, apavorada e ninguém respondia. Logo que o susto foi engolido porque o abalo telúrico parecia terminado, começou a ouvir-se o som de gente a sair para a rua àquela hora da meia madrugada.

Socorro! Socorro! Socorro!

Percebeste, então, que, já acomodada a vista à escuridão do quarto, a velha senhora, sem resposta da Barb, nem da Mila, nem do Conde, conseguira chegar à janela e gritava por socorro do alto do quarto andar para a rua.
Saio, não saio, ninguém no corredor, pensaste em bater à porta de onde vinham os gritos de socorro, mas saiu ao teu encontro o fantasma do Conde. 

Que era feito da Barb? E da Mila? E do Conde? E do Fred? Bateste à porta do Fred, mas a porta não se abriu e o outro hóspede, soubeste depois, não se deteve com dúvidas, abalou porta fora logo que enfiou roupa para o frio. Dos quartos das reformadas só saía para o corredor o
seus habituais ressonares, como se o ranger das pedras tivesse sido sentido no outro lado do prédio.

Saíste para o corredor, a velha continuou a gritar, até que percebeste que alguém forçava a porta de entrada, entrou de afogadilho um pimentão de capacete e machado, era um bombeiro, maduro demais para subir apressado os quatro lanços da escada, chegou sem fôlego, de lanterna acesa. Arranja-se um copo de água, amigo? O que é que se passa?
Não sei.
Não sabe? Não mora aqui? Bateu e voltou a bater na porta de onde ouvia gritar, sem resultado porque a velha não parava de gritar. Hum! A porta está fechada por dentro ... pois está ..., e, feitos os cálculos, meteu o bombeiro um pé à porta, que rangeu mas não se abriu, o bombeiro já suava em bica, e a velha não parava de gritar. Quem é ela?
É a dona da casa, aluga quartos.
E não vive mais ninguém em casa? Vive, mas ninguém responde.
Quem é que vive aqui?
Aqui fora somos cinco hóspedes, talvez seis, vi sair um, o outro também deve ter saído, as reformadas continuam a ressonar, dessa porta para dentro vive a dona da casa, a empregada, a filha dela e um senhor Conde.
Hum! Hum! Hum! Tenho de sair a pedir ajuda e avisar a polícia, você fica? Não, não, saio consigo.
Antes de sair dali, o bombeiro deu mais uma sapatada na porta, a velha calou-se, e ficaram os dois à espera um largo par de minutos. Iam a sair, abriu-se a porta, e, para lá da porta, vislumbrou-se a cara assustada da velha, a tentar vislumbrar quem estava ali escapando a vista aos raios frouxos da lanterna do bombeiro com a mão direita em pala na testa.
O que é que se passa? Houve um terramoto?
Houve, houve, e a senhora está muito assustada, não é? Mas esteja tranquila, já passou, já passou ...
Não sei onde se meteram a minha empregada e a minha afilhada, que é filha dela...Chamei, chamei, mas ninguém me responde...
Já viu bem se não estão em casa?
Ver bem, como?, se estamos sem luz e nem sequer sei onde tenho as velas e os fósforos ...
Posso entrar para observar?
... Entrem, entrem, ...

O bombeiro avançou com a lanterna levantada acima da cabeça, tu foste atrás.
Onde dorme a sua empregada?
Naquele quarto, no mesmo quarto com a filha.
O bombeiro bateu na porta, ninguém respondeu, mas a porta não estava fechada à chave e o bombeiro entrou. Havia duas camas estreitas, numa delas sobressaía apenas o cocuruto da cabeça, todo o corpo estava enrolado nas mantas. Percebeu-se o movimento da respiração da pessoa deitada, e o bombeiro acordou-a com uma sacudidela forte depois de ter ensaiado modos suaves.
Sentou-se a Mila apavorada, a esfregar os olhos, perceptivelmente sem saber o que fazia aquele homem com uma lanterna suspensa da cabeça, o susto começou a diluir-se quando se apercebeu que a madrinha estava lá.
Mila, onde está a tua mãe?
A Mila nem sequer percebia a pergunta, estava a dormir e a sonhar, as ondas do abalo sísmico tinham passado por ela como um doce embalo que lhe aconchegara o sono.
Hã???
A tua mãe?... Sabes onde para a tua mãe?
Nenhuma ideia, ela adormecia logo que caía na cama, a mãe chegava só depois de deixar tudo arrumado, normalmente nunca antes da meia-noite.
Vive mais alguém cá em casa?
Cinco hóspedes lá fora, quatro nos quartos que dão para o corredor, um no quarto que dá para a escada, aqui dentro só mais o senhor Conde mas esse esta noite está de serviço, ... agora me lembro que ainda não telefonou...
Nem vai telefonar tão cedo, as comunicações estão cortadas em várias zonas da cidade. A sua empregada deve ter saído, a maior parte das pessoas saíram para a rua, quem me viu abrir a porta foi este senhor.
Ah! Ainda bem que alguém ficou em casa ...
A velha senhora parecia agora sossegada, agradeceu muito a atenção do senhor bombeiro, depois fechou-se com a Mila para lá da porta da área reservada, e tu saíste com o bombeiro a iluminar a descida da escada.
Está quente, não está?

Hum!Hum! Parece uma noite de verão ...
Mas não estava. Lembro-me que, quando cheguei a casa, era quase meia noite, fazia frio ... Terá o sismo aquecido o ar ou esta sensação de calor é uma reacção do nosso corpo à contracção provocada pelo medo?
Talvez, não sei, mas também sinto que este ar morno, não digo quente mas morno, não é normal em fevereiro. Talvez tenha acontecido o mesmo ao planeta ... expandiu-se e quebrou-se a louça!
Parece que é o contrário: é por se estar a contrair que chocam as placas tectónicas entre elas.
E aquecem o ar?
Não. O ar aquece por outras razões, dizem.
Dizem uns; os outros dizem o contrário.
Mas que está mais quente, está. Anda meio mundo na rua a esta hora ... a propósito, que horas são?
Quatro e meia.
Com a pressa de sair não trouxe o relógio...Tudo na rua e pouca roupa, muitos em pijama. Não devem sentir frio.
Quem é que sente frio depois de apanhar um susto destes?
Ninguém. Frio sente quem se contrai quando o susto acontece. Depois, descontrai-se, expande-se, aquece. Deve ser isso.
Hum! Hum! Nem sempre. Quando o tempo está quente, relaxamos ou contraímos o corpo? Relaxamos. Quando está frio, contraímos ...
É verdade, e isso explica a razão porque estando frio o pessoal sente calor.
É uma sensação que vem do interior, do contentamento de estarem vivas depois de se terem sentido empurradas para a beira do abismo.
Pode ser.
E se fôssemos beber umas cervejas?
É para já! Mas a estas horas onde é que se encontra um bar aberto? Nem nos cabarés. Com um susto destes os clientes e as fornecedoras devem andar cá por fora.
Talvez no bar da estação... ouvi dizer que está aberto toda a noite.
Embora lá!
Continuaste atrás dos dois filosofantes sismólogos a descer as escadas que ligam o cume da colina à praça, e, também a ti apeteceu uma cerveja. O bar estava aberto e assaltado por uma multidão de gente sequiosa e exaltada. Discutiam quem estava à frente na fila, que, naturalmente, não era uma mas um leque todo aberto delas, a enfiar por uma porta estreita
de onde saíam, mais raramente do que exigia a impaciência dos que queriam entrar, canecas grandes, de espuma a saltar, erguendo os troféus por cima dos que esperavam no leque. E todos, os que esperavam e os que saíam, transpiravam como numa tarde quente de verão, mais os do miolo e mais próximos da porta que os das abas, mais afastados da entrada.
Os barris já devem estar a ficar secos..., terá dito alguém lá à frente.
Esgotou-se a cerveja!, ouviu-se cá atrás, e os crentes na mensagem desistiram e foram apanhar fresco, o ar ali estava insuportável.
Subias a avenida entre grupos que subiam ou desciam, alegres por estarem vivos, já eram cinco da manhã, o mundo não tinha acabado, dali a duas horas era tempo de saíres de casa, às sete como de costume.
Voltaste para trás, e, quando começavas a subida da escadaria até aqui acima, setenta e três de pedra até à entrada e vinte de madeira na casa, encontras o terceiro hóspede também de volta à hospedaria.

...

"O sismo, que aconteceu na madrugada do dia 28 de fevereiro de 1969, teve o seu epicentro a 200 quilómetros de Sagres, alcançando os 7,9 na escala de Richter. Treze pessoas morreram e os estragos foram também elevados, especialmente no sul do país.  - Wikipedia

Sunday, August 18, 2024

TURISMO: UM PROBLEMA DE PROSTITUIÇÃO DA ECONOMIA? - 2

Quando, a 10 de Julho, coloquei aqui uma nota neste caderno de apontamentos, com o mesmo título/pergunta do apontamento de hoje, fui colocado no bloco de "Velhos do Restelo".
 
Não era a primeira vez que abordava a questão, antes pelo contrário, fui observando e comentando a excessiva importância dada ao turismo no nosso país, muito influenciado pelo que observara  há várias décadas na minha cidade, premiada com uma praia então considerada a rainha, esgotou-se o encanto da praia por razões naturais e conjunturais e a cidade perdeu a sua pouca actividade não turística.
Reganhou actividade industrial, anos mais tarde, com uma indústria de dimensão internacional, por mero acidente político, mas foi um ganho sem grande mérito dos locais, ainda e sempre a olhar para a tiara perdida. 

Hoje lê-se no Público - "Lisboa prostituída" -, um artigo de um comentador norte-americano. 
Começa assim:
 
"Há muito que evito ir à Baixa de Lisboa, mas, neste dia, resolvi arriscar. E inevitavelmente encontrei o que receava: na Rua das Portas de Santo Antão, uma multidão de turistas segue um guia que debita para um microfone com alto-falante as suas sábias curiosidades sobre o local. Apenas metade do seu rebanho o ouve, mas todos os outros transeuntes, incluindo os que estão nas esplanadas, são obrigados a suportar o assédio sonoro. No meio da confusão, passam bicicletas de serviços de entrega de comida e trotinetas ziguezagueiam na zona pedonal. Numa esquina, vários “vendedores ambulantes” oferecem abertamente marijuana a quem passa..."

Sugere-se a leitura até ao fim.
 
act. - 19/08 
 
Segundo o que venho a ouvir na rádio, o Governo vai alterar (ou já alterou?) a lei do alojamento local com o objectivo de o facilitar, dificultando aos residentes habituais, frequentemente há muitos anos, a possibilidade de se oporem à introdução de um negócio no prédio em que residem sem que tal possibilidade tenha sido prevista nos contratos de arrendamento subscritos. 
Será uma alteração que para além de violar o estabelecido nos contratos de arrendamento de apartamentos em prédios construidos para habitação é facilitador do "turismo de massas", "sem massa", com impacto na  economia nacional mais que discutível. 

Não senhor primeiro-ministro, o crescimento económico e social  deste país não se consegue suportando-se num sector explorado com processos terceiro mundistas, criador de emprego nem sequer medianamente qualificado.

Saturday, August 17, 2024

HERÓIS E BANDIDOS

PROVAVELMENTE, A MAIOR BURLA DE SEMPRE EM PIRÂMIDE

Mais de 20 estrelas do futebol, ex-jogadores como Luís Figo, Ronaldinho, Materazzi, Casillas, estão entre os ex-futebolistas que ajudaram a promover a OmegaPro. Como eles, vários actores de Hollywood e Bollywood, como  Steven Seagal e Suniel Shetty, e gurus do marketing coachs motivacionais, como Eric Worre e Les Brown, participaram em vários eventos organizados pela OmegaPro, uma empresa que acabou por se revelar um esquema em pirâmide mundial.
 
O piramidal esquema terá lesado mais de três milhões de pessoas.
Como não me lesou a mim, e suponho que a ninguém que eu conheça e estime, por que é que estou a perder tempo com este folhetim, velho como a antiguidade,  de heróis e bandidos?
Este, pelo tamanho da burla e por ter merecido notícia num jornal que assino, suscitou-me algumas reflexões.
 
Desde logo porque envolve figuras que milhões por esse mundo fora arvoraram em heróis, deuses ou quase deuses, que foram actores aclamados de um espectáculo que teve, tem e continuará a ter, idolatras nas camadas sociais transversais de todas as sociedades onde é rei: o futebol. 
Sem que esta notícia tenha a mínima influência na adoração dos fiéis aos seus deuses, mesmo que provada a sua condição de bandidos por inadmissão de ignorância dos intervenientes na promoção da burla, neste sentido, o futebol, que é um negócio, é uma quase religião capitalista. 
 
Com direito a espaço radiofónico e televisivo em instalações pagas pelos contribuintes, que são massacrados a toda a hora com transmissões, comentários, notícias de compra, venda ou transferência de vedetas envolvendo milhões e mais milhões que esmagam a consciência daqueles que,  mesmo que gostem  ver o espectáculo, percebem que este negócio quase religião desfruta de uma situação de privilégio não concedido a qualquer outro negócio nem a qualquer outra religião. 

Advogado sueco de burlados alega que "quando se é uma pessoa famosa, um jogador ou um actor, tem-se uma responsabilidade acrescida de saber o que se está a promover, porque também se sabe — ou é suposto saber  que se tem o poder de influenciar as pessoas”, e afirma, acrescentando que já tem uma lista de mais de 20 nomes contra os quais tenciona avançar judicialmente."
 
Força!, advogado.
Não sou parte directamente interessada, mas futebol a mais enjoa e é bom que se saiba que há heróis que tendem a degenerar em bandidos. 
E todos os que, de algum modo, promovem a cultura da ignorância e da irracionalidade deveriam ser contidos.
---
Correl. Dona Branca
 

Thursday, August 15, 2024

CAPITALISMO RELIGIOSO

Para entretenimento de duas das minhas netas, coloquei anteontem no leitor de DVD os "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras", no título original "Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew From London To Paris in 25 Hours 11 Minutes", de 1965, e recordei-me do Cinema Império. 
 
Foi lá que assisti, deliciado, à projecção dos Gloriosos Malucos. Foi lá, mas num espaço mais reduzido criado no andar superior, que assisti à apresentação em Portugal de alguns filmes, que passaram a designar-se por filmes de autor.
O Império e o São Jorge eram os maiores espaços/cinemas de Lisboa. 
Nesse tempo, ir ao cinema era uma oportunidade de festa, de convívio. 
Hoje os filmes são projectados em autênticos buracos em centros comerciais, com os sons do mastigar de pipocas e o gargarejar de Coca Cola, de grande parte dos espectadores, ou será de raatos?, a misturar-se com os sons dos filmes.

Outro espaço cinema/teatro era o "Monumental".
Hoje ocupado pelo BPI, após destruição, transformação como centro comercial, três ou quatro buracos para projecção de filmes até nova transformação, desta vez para banco. 
 
Foi no "Monumental" que vi "West Side Story", 1961. Um filme feito para uma tela gigante e características acústicas que criavam uma envolvência que nos fica para toda a vida. 
Há filmes, ou havia, filmes que não cabem nos buracos dos centros comerciais. 
Há excepções? Há. mas são poucas.

O Império encerrou as portas no fim de 1983.  
"Em 1992, lê-se na Wikipédia, o edifício foi convertido na Catedral portuguesa da Igreja Universal do Reino de Deus ", um negócio exponencial do capitalismo religioso. 
 
Escrevo "capitalismo religioso" sem receio de ofender ninguém porque, sobretudo entre os evangélicos, não só no Brasil e nos EUA, onde preponderam, o capitalismo é a alma da sua expansão sem paralelo, e assumido como tal pelos pastores e pelas suas ovelhas.
Conforme com a sua natureza, e não só dos evangélicos mas também de outras confissões religiosas, o capitalismo religioso não se contém dentro dos específicos limites dos seus negócios porque se projeta e promove nas arenas da política. 
 
A este propósito, e direccionado a quem tenha interesse nestas questões, pode ler "A pastor said his pro-Trump prophecies came from God. His brother called him a fake". a saga de uma família norte-americana de pastores evangélicos do Alabama, pai e dois irmãos. O irmão júnior afirmou-se profeta, teria recebido de Deus a indicação que Trump deveria ser eleito (em 2020), ripostando o mais velho que o júnior era um mentiroso. 
Interveio o pastor pai a favor do pretenso profeta lembrando ao outro que negar a palavra do profeta é negar a palavra de Deus.
O artigo é longo, mas merece ser lido.

E merece ser lido porque retrata bem por que razão crescem os evangélicos como cogumelos.
 
Os evengélicos não dependem de um poder central, são livres de se estabelecerem como pregadores onde e até quando a sua palavra é ouvida pelos seus clientes. Se a audiência aumenta, expandem o espaço, se audiência se contrai, vão procurar outros locais mais absorventes das suas palavras.
O sucesso do negócio de cada pastor depende da capacidade de convicção das suas palavras.
O seu instrumento básico de trabalho é a sua palavra, a Bíblia o apoio da sua arte.
 
Mas não se pense que o pastor tem formação estruturada por uma qualquer autoridade da qual depende. 
Mesmo a construção de templos e abertura de locais de culto pode depender ou não de autorização das autoridades administrativas locais. 

O pastor evangélico não tem de frequentar seminário, lê e prega conforme a pulsação que observa das suas audiências.
Pode e é geralmente casado. 
Pode e geralmente acumula o negócio religioso com rendimento assegurado pelos fiéis com o lucro de negócios de natureza não religiosa. E neste ponto se alargou o afastamento entre os dois irmãos: mesmo tendo o profeta falhado na eleição de Trump, já os seus devotos tinham esquecido a profecia porque o profeta se tinha tornado um super star, mais ouvido e admirado que antes. E o mais velho contorce-se com tanto proveito de tanta falsidade do outro.

Em alguns pontos falta originalidade aos evangélicos, mas não em todos, admita-se.

QUANTO CUSTA O TURISMO A ESTE PAÍS?

Sobrecarga turística em Lisboa e Algarve está ao nível de Barcelona ou Amesterdão

Lisboa e Algarve têm mais turistas por habitante ou mais alojamentos locais por habitações do que Barcelona e Amesterdão, onde já estão a ser impostas restrições pesadas à actividade turística.


"... A cidade de Lisboa e o Algarve – principais regiões turísticas de Portugal, respondendo por quase 40% dos hóspedes e perto de metade das dormidas registadas a nível nacional – jogam no campeonato de alguns dos principais destinos turísticos europeus. Em 2023, Lisboa registou, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), cerca de 6,46 milhões de hóspedes, enquanto o Algarve recebeu mais de 5,12 milhões de hóspedes. Assim, a capital portuguesa contabiliza quase 12 hóspedes por habitante (considerando os censos de 2021) e perto de 65 mil turistas por quilómetro quadrado nesse ano; já o Algarve regista praticamente 11 hóspedes por habitante e 1025 hóspedes por quilómetro quadrado...."

Hoje, depois de uma das nossas habituais caminhada pelas dunas do Guincho, entrámos, como sempre entramos, no bar instalado no cimo do percurso, para uma paragem, curta, café e acompanhante sólido. Tinha ido à nossa frente um casal, provavelmente da nossa idade, que entrou na esplanada do bar, e colocou em cada uma das duas cadeiras de espaldares disponíveis, voltadas para o mar, os bonés, e vai cada um para seu lado: ele para a casa da sanita (não, casa de banho não é, não tem chuveiro nem banheira, só urinol e sanita), ela para a fila das encomendas de comes e bebes. 
Tivemos de nos sentar onde havia lugar, no interior do bar, espaço frequentemente ocupado por nómadas digitais.
Ele saiu pouco depois ainda a fechar a braguilha, ela demorou. Quando chegou trazia no tabuleiro um café, uma limonada, uma garrafa pequena de água. Devem ter pago menos de seis euros, com direito a xixi e tempo ilimitado a olhar o mar.
Assim, qual é o estrangeiro que não gosta de Portugal?

Wednesday, August 14, 2024

A CULPA FOI DELE!

 

Maria de Lourdes Pintassilgo foi primeira-ministra (a primeira e única até hoje) durante 5 meses, entre 1 de Agosto de 1979 e 3 de janeiro de 1980.
A gravura publicada há 45 anos durante o curto período em que Lourdes Pintassilgo governou, só a chamei para aqui porque mantém toda a actualidade da sistemática atribuição de responsabilidades pelos governantes aos que os imediatamente os antecederam. 
 
Como agora.

Tuesday, August 13, 2024

DEPOIS DA FESTA

Paris foi uma festa. E agora?

Uma abordagem serena, incontestável, de Teresa de Sousa sobre Paris, a Europa, o Mundo, hoje, que não agradará aos eurófagos, aqueles que afirmando-se sempre estar deste lado sustentam-se sempre em um qualquer mas para equilíbrio das suas convicções profundamente petrificadas. 

Quem não usa nem precisa de conjunções adversativas porque nunca deixaram de estar do lado de lá onde nasceram as suas deformações morais totalitárias são aqueles para os quais, por exemplo, "o regime da Coreia do Norte é o regime que o próprio povo coreano decidiu para si".
 
Subentenda-se que, só por lapso, o Secretário-geral do PCP não considera nesta afirmação, muitas vezes reafirmada, que o povo coreano, são cerca de 26 milhões de habitantes em 150 mil km2, na Coreia do Norte, mais cerca de 52 milhões em 100 mil km2 na Coreia do Sul.
A Coreia do Sul, posiciona-se  em 19º. lugar no HDI, índice de desenvolvimento humano (relatório UNDP das Nações Unidas). Portugal na 42ª.
Da Coreia do Norte, o mesmo relatório só regista a esperança de vida: 74 anos: Na Coreia do Norte, 84, um dos mais elevados do mundo.
Pois não. O Secretário-geral do PCP não quer saber o que dizem os relatórios sobre o desenvolvimento humano das Nações Unidas. Os eurófagos também não. Se não estão do mesmo lado, parece.
Sendo governados a Norte por um regime totalitário, aliás dinástico, e a Sul por um regime de democracia liberal onde a expressão de pensamento é livre, o povo da Coreia do Norte escolheu ser governado por uma monarquia de poder absoluto?
 
Por que razão perco tempo com o que diz Paulo Raimundo?
Porque ainda há quem continue a querer fazer-nos crer que o partido comunista é importante para a democracia portuguesa.
Não é, nem nunca foi.

Correl. - Da Venezuela à Ucrânia, a política externa continua a deixar o PCP em contracorrente

Monday, August 12, 2024

OLÍMPICOS, MAS BEM PAGOS

Ontem no Público: 
 

Valor sentimental supera o facial, mas enfrenta séria competição quando os prémios monetários apontam o céu como limite. Casas, vacas, carros, viagens e até colonoscopias acrescentam valor.
Portugal paga 50 mil euros por uma medalha de ouro, 30 mil pela prata e 20 mil pelo bronze.

Em caixa, no mesmo artigo : A Tareg Hamedi foi atribuida a medalha de prata no karaté, (Tóquio, 2020) mas o atleta foi compensado pela Arábia Saudita como se tivesse sido campeão olímpico, com cerca de 1,2 milhões de euros.

Os Jogos Olímpicos da era moderna são um espectáculo esplêndido de competição por fama efémera de alguns e proveitos de muitos mais. Não são, se alguma vez foram, a prossecução do objectivo romântico inicial onde preponderava a participação para se tornarem em competições pela incessante tentativa de atingimento de limites sempre condicionados pelas leis da natureza. O amadorismo deu lugar ao mais intenso profissionalismo, sem, objectivamente, nenhum proveito para a espécie humana. 

Na competição pela redução de milésimos na prova de corrida de cem metros, por exemplo, o campeão olímpico masculino em Paris correu a distância em 9,79 segundos, aquém do recorde mundial, 9,58 segundos atingidos em 2009 (Berlim); a campeã olímpica em Paris correu a mesma distância em 10,72 segundos, aquém do recorde mundial, 10,49 segundos. 
Quanto tempo da sua vida dedicam estes atletas para reduzir milésimos? Muito tempo, certamente. Não só eles mas todos quantos que com eles tornam possível essa redução. E para quê? Há muitas respostas, certamente, mais ou menos convincentes consoante a perspectiva de cada observador.

Para obter uma resposta possível, reparo nos algarismos das tabelas:
 
 
1United States126
2China91
3Great Britain65
4France64
5Australia53
6Japan45
7Italy40
8Netherlands34
9Germany33
10South Korea32  
 52 Portugal       4

Número de medalhas per capita

1Grenada2

2Dominica1

3Saint Lucia2

4New Zealand20

5Bahrain4

6Jamaica6

7Cape Verde1

8Hungary19

9Australia53

10Georgia7

  

 46 Portugal         4

Medalhas ponderadas per capita


1
Dominica4




2Saint Lucia6




3Grenada2




4New Zealand57




5Bahrain11




6Georgia19




7Netherlands86




8Slovenia10




9Australia126




10Hungary44







47 Portugal             9















Medalhas poderadas pelo PIB

1
Dominica4




2Saint Lucia6




3Grenada2




4Georgia19




5Kyrgyzstan8




6Uzbekistan39




7Jamaica12




8Kenya25




9Moldova5




10Armenia7




59
Portugal  
9




















 Medalhas de ouro

1United States40
2China40
3Japan20
4Australia18
5France16
6Netherlands15
7Great Britain14
8South Korea13
9Germany12
10Italy12

57 Portugal            1























Há alguma correlação entre estas posições relativas e as observadas no relatório do Programa de Desenvolvimento Humano - 2022/2023

Parece que não.

Em número de medalhas atribuidas a atletas de cada país (1º quadro) os EUA e a China ocupam, respectivamente,  no quadro do PNUD (UNDP), a 20ª. e a 75ª posições.
Portugal ocupa no relatório das Nações Unidas a 42ª. posição. 
 
Ponderado o número de medalhas conseguidas pelo número de habitantes de cada país,  Grenada, Domínica, Saint Lucia, países do Caribe (Caraíbas) ocupam os três primeiros lugares mas, respectivamente, as 73ª, 97ª e 108ª posições no índice de desenvolvimento humano.
 
Ponderados os valores das medalhas per capita, as três primeiras posições são ocupadas pelos mesmos países das Caraíbas: Dominica, Saint Lucia, Grenada.
Ponderados os valores das medalhas pelo PIB de cada país, observamos o mesmo trio das Caraíbas nas três primeiras posições deste ranking.

Com um análise mais extensa, manter-se-à conclusão de que a correlação entre o sucesso nos Jogos Olímpicos e o Desenvolvimento Humano segundo os critérios do PNUD (UNDP) aproxima-se em países considerados mais económica e socialmente desenvolvidos (a Rússia, 56ª no PNUD não competiu em Paris, a Ucrânia 100ª no PNUD ocupa a 53ª. posição no ranking do número de medalhas per capita) mas afasta-se em países com índices de desenvolvimento menos elevados ou baixos. 
Os caso mais flagrante de correlação discrepante é a China: muito próxima dos EUA no número de medalhas ocupa uma, por enquanto, modesta 75ª posição no índice de desenvolvimento humano.  
Refira-se que há 24 anos, em 1998, a China ocupava a 99ª. posição no relatório PNUD 2000. A Índia,  a 128ª. 
Nos Jogos Olímpicos de Paris, a Índia, pouco motivada para a competição desportiva, obteve 6 medalhas.
 
A Arábia Saudita, que atribuiu um prémio de 1,2 milhões de euros a um atleta seu, vencedor (depois desqualificado) nos Jogos de Tóquio, continua a recusar o acesso das mulheres ao desporto. Não obteve nenhuma medalha nos Jogos de Paris.
 







E, no entanto, os sauditas continuam a pagar milhões a muitos futebolistas em fim de carreira, ou no meio, para eles tanto faz. 
Será que, para eles, o futebol profissional não é desporto? 
Se é esse o caso, estou, quanto a esse assunto, de acordo com os sauditas: 
o futebol profissional é um espectáculo de diversão que deixou de ser uma prática desportiva há muito tempo em muita parte.
 
Contribui a actividade desportiva e, muito particularmente os Jogos Olímpicos para o desenvolvimento humano? Não pode dizer-se que não.
Mas os resultados reflectidos nos rankings parecem apontar que a competição desportiva (não a prática desportiva amadora) são motivação para alguns encontrarem uma porta de sucesso quando não vêm outras abertas.
 
Desportiva é esta pachorra que me assaltou hoje para, como sempre, teclar sem honra nem proveito.














---- act. Já depois de ter ditado o meu comentário, leio no Público: Só o ouro, o total de medalhas ou a população: como medir o êxito olímpico? Só o ouro, o total de medalhas ou a população: como medir o êxito olímpico?