Ontem no Público:
Valor
sentimental supera o facial, mas enfrenta séria competição quando os
prémios monetários apontam o céu como limite. Casas, vacas, carros,
viagens e até colonoscopias acrescentam valor.
Portugal paga 50 mil euros por uma medalha de ouro, 30 mil pela prata e 20 mil pelo bronze.
Em caixa, no mesmo artigo : A Tareg Hamedi foi atribuida a medalha de prata no karaté, (Tóquio, 2020) mas o atleta foi compensado pela Arábia Saudita como se tivesse sido campeão olímpico, com cerca de 1,2 milhões de euros.
Os Jogos Olímpicos
da era moderna são um espectáculo esplêndido de competição por fama
efémera de alguns e proveitos de muitos mais. Não são, se alguma vez
foram, a prossecução do objectivo romântico inicial onde preponderava a
participação para se tornarem em competições pela incessante tentativa
de atingimento de limites sempre condicionados pelas leis da natureza. O
amadorismo deu lugar ao mais intenso profissionalismo, sem,
objectivamente, nenhum proveito para a espécie humana.
Na
competição pela redução de milésimos na prova de corrida de cem metros,
por exemplo, o campeão olímpico masculino em Paris correu a distância
em 9,79 segundos, aquém do recorde mundial, 9,58 segundos atingidos em
2009 (Berlim); a campeã olímpica em Paris correu a mesma distância em
10,72 segundos, aquém do recorde mundial, 10,49 segundos.
Quanto
tempo da sua vida dedicam estes atletas para reduzir milésimos? Muito
tempo, certamente. Não só eles mas todos quantos que com eles tornam
possível essa redução. E para quê? Há muitas respostas, certamente, mais
ou menos convincentes consoante a perspectiva de cada observador.
Para obter uma resposta possível, reparo nos algarismos das tabelas:
1 | United States | 126 |
2 | China | 91 |
3 | Great Britain | 65 |
4 | France | 64 |
5 | Australia | 53 |
6 | Japan | 45 |
7 | Italy | 40 |
8 | Netherlands | 34 |
9 | Germany | 33 |
10 | South Korea | 32 | | |
52 Portugal 4
Número de medalhas per capita
1 | Grenada | 2 |
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2 | Dominica | 1 |
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3 | Saint Lucia | 2 |
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4 | New Zealand | 20 |
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5 | Bahrain | 4 |
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6 | Jamaica | 6 |
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7 | Cape Verde | 1 |
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8 | Hungary | 19 |
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9 | Australia | 53 |
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10 | Georgia | 7 |
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46 Portugal 4
Medalhas ponderadas per capita
| 1
| Dominica | 4 |
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| 2 | Saint Lucia | 6 |
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| 3 | Grenada | 2 |
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| 4 | New Zealand | 57 |
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| 5 | Bahrain | 11 |
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| 6 | Georgia | 19 |
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| 7 | Netherlands | 86 |
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| 8 | Slovenia | 10 |
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| 9 | Australia | 126 |
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| 10 | Hungary | 44 |
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| 47 Portugal 9
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| Medalhas poderadas pelo PIB
1
| Dominica | 4 |
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| 2 | Saint Lucia | 6 |
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| 3 | Grenada | 2 |
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| 4 | Georgia | 19 |
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| 5 | Kyrgyzstan | 8 |
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| 6 | Uzbekistan | 39 |
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| 7 | Jamaica | 12 |
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| 8 | Kenya | 25 |
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| 9 | Moldova | 5 |
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| 10 | Armenia | 7 |
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| Medalhas de ouro 1 | United States | 40 | 2 | China | 40 | 3 | Japan | 20 | 4 | Australia | 18 | 5 | France | 16 | 6 | Netherlands | 15 | 7 | Great Britain | 14 | 8 | South Korea | 13 | 9 | Germany | 12 | 10 | Italy | 12 |
| 57 Portugal 1
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| Há alguma correlação entre estas posições relativas e as observadas no relatório do Programa de Desenvolvimento Humano - 2022/2023? Parece que não.
Em
número de medalhas atribuidas a atletas de cada país (1º quadro) os
EUA e a China ocupam, respectivamente, no quadro do PNUD (UNDP), a 20ª.
e a 75ª posições. Portugal ocupa no relatório das Nações Unidas a 42ª.
posição. Ponderado
o número de medalhas conseguidas pelo número de habitantes de cada
país, Grenada, Domínica, Saint Lucia, países do Caribe (Caraíbas)
ocupam os três primeiros lugares mas, respectivamente, as 73ª, 97ª e
108ª posições no índice de desenvolvimento humano. Ponderados os valores das medalhas per capita, as três primeiras posições são
ocupadas pelos mesmos países das Caraíbas: Dominica, Saint Lucia,
Grenada. Ponderados os valores das medalhas pelo PIB de cada país, observamos o mesmo trio das Caraíbas nas três primeiras posições deste ranking.
Com
um análise mais extensa, manter-se-à conclusão de que a correlação
entre o sucesso nos Jogos Olímpicos e o Desenvolvimento Humano segundo
os critérios do PNUD (UNDP) aproxima-se em países considerados mais
económica e socialmente desenvolvidos (a Rússia, 56ª no PNUD não
competiu em Paris, a Ucrânia 100ª no PNUD ocupa a 53ª. posição no
ranking do número de medalhas per capita) mas afasta-se em países com
índices de desenvolvimento menos elevados ou baixos. Os caso mais
flagrante de correlação discrepante é a China: muito próxima dos EUA no
número de medalhas ocupa uma, por enquanto, modesta 75ª posição no
índice de desenvolvimento humano. Refira-se
que há 24 anos, em 1998, a China ocupava a 99ª. posição no relatório
PNUD 2000. A Índia, a 128ª. Nos Jogos Olímpicos de Paris, a Índia,
pouco motivada para a competição desportiva, obteve 6 medalhas. A Arábia
Saudita, que atribuiu um prémio de 1,2 milhões de euros a um atleta
seu, vencedor (depois desqualificado) nos Jogos de Tóquio, continua a
recusar o acesso das mulheres ao desporto. Não obteve nenhuma medalha
nos Jogos de Paris.
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| E,
no entanto, os sauditas continuam a pagar milhões a muitos futebolistas
em fim de carreira, ou no meio, para eles tanto faz. Será que, para
eles, o futebol profissional não é desporto? Se
é esse o caso, estou, quanto a esse assunto, de acordo com os sauditas: o futebol profissional é um espectáculo de diversão que deixou de ser
uma prática desportiva há muito tempo em muita parte. Contribui a actividade desportiva e, muito particularmente os Jogos Olímpicos para o desenvolvimento humano? Não pode dizer-se que não. Mas os resultados reflectidos nos rankings parecem apontar que a competição desportiva (não a prática desportiva amadora) são motivação para alguns encontrarem uma porta de sucesso quando não vêm outras abertas.
Desportiva é esta pachorra que me assaltou hoje para, como sempre, teclar sem honra nem proveito.
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| ---- act. Já depois de ter ditado o meu comentário, leio no Público: Só
o ouro, o total de medalhas ou a população: como medir o êxito
olímpico? Só o ouro, o total de medalhas ou a população: como medir o
êxito olímpico? | | |
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