Monday, August 12, 2024

OLÍMPICOS, MAS BEM PAGOS

Ontem no Público: 
 

Valor sentimental supera o facial, mas enfrenta séria competição quando os prémios monetários apontam o céu como limite. Casas, vacas, carros, viagens e até colonoscopias acrescentam valor.
Portugal paga 50 mil euros por uma medalha de ouro, 30 mil pela prata e 20 mil pelo bronze.

Em caixa, no mesmo artigo : A Tareg Hamedi foi atribuida a medalha de prata no karaté, (Tóquio, 2020) mas o atleta foi compensado pela Arábia Saudita como se tivesse sido campeão olímpico, com cerca de 1,2 milhões de euros.

Os Jogos Olímpicos da era moderna são um espectáculo esplêndido de competição por fama efémera de alguns e proveitos de muitos mais. Não são, se alguma vez foram, a prossecução do objectivo romântico inicial onde preponderava a participação para se tornarem em competições pela incessante tentativa de atingimento de limites sempre condicionados pelas leis da natureza. O amadorismo deu lugar ao mais intenso profissionalismo, sem, objectivamente, nenhum proveito para a espécie humana. 

Na competição pela redução de milésimos na prova de corrida de cem metros, por exemplo, o campeão olímpico masculino em Paris correu a distância em 9,79 segundos, aquém do recorde mundial, 9,58 segundos atingidos em 2009 (Berlim); a campeã olímpica em Paris correu a mesma distância em 10,72 segundos, aquém do recorde mundial, 10,49 segundos. 
Quanto tempo da sua vida dedicam estes atletas para reduzir milésimos? Muito tempo, certamente. Não só eles mas todos quantos que com eles tornam possível essa redução. E para quê? Há muitas respostas, certamente, mais ou menos convincentes consoante a perspectiva de cada observador.

Para obter uma resposta possível, reparo nos algarismos das tabelas:
 
 
1United States126
2China91
3Great Britain65
4France64
5Australia53
6Japan45
7Italy40
8Netherlands34
9Germany33
10South Korea32  
 52 Portugal       4

Número de medalhas per capita

1Grenada2

2Dominica1

3Saint Lucia2

4New Zealand20

5Bahrain4

6Jamaica6

7Cape Verde1

8Hungary19

9Australia53

10Georgia7

  

 46 Portugal         4

Medalhas ponderadas per capita


1
Dominica4




2Saint Lucia6




3Grenada2




4New Zealand57




5Bahrain11




6Georgia19




7Netherlands86




8Slovenia10




9Australia126




10Hungary44







47 Portugal             9















Medalhas poderadas pelo PIB

1
Dominica4




2Saint Lucia6




3Grenada2




4Georgia19




5Kyrgyzstan8




6Uzbekistan39




7Jamaica12




8Kenya25




9Moldova5




10Armenia7




59
Portugal  
9




















 Medalhas de ouro

1United States40
2China40
3Japan20
4Australia18
5France16
6Netherlands15
7Great Britain14
8South Korea13
9Germany12
10Italy12

57 Portugal            1























Há alguma correlação entre estas posições relativas e as observadas no relatório do Programa de Desenvolvimento Humano - 2022/2023

Parece que não.

Em número de medalhas atribuidas a atletas de cada país (1º quadro) os EUA e a China ocupam, respectivamente,  no quadro do PNUD (UNDP), a 20ª. e a 75ª posições.
Portugal ocupa no relatório das Nações Unidas a 42ª. posição. 
 
Ponderado o número de medalhas conseguidas pelo número de habitantes de cada país,  Grenada, Domínica, Saint Lucia, países do Caribe (Caraíbas) ocupam os três primeiros lugares mas, respectivamente, as 73ª, 97ª e 108ª posições no índice de desenvolvimento humano.
 
Ponderados os valores das medalhas per capita, as três primeiras posições são ocupadas pelos mesmos países das Caraíbas: Dominica, Saint Lucia, Grenada.
Ponderados os valores das medalhas pelo PIB de cada país, observamos o mesmo trio das Caraíbas nas três primeiras posições deste ranking.

Com um análise mais extensa, manter-se-à conclusão de que a correlação entre o sucesso nos Jogos Olímpicos e o Desenvolvimento Humano segundo os critérios do PNUD (UNDP) aproxima-se em países considerados mais económica e socialmente desenvolvidos (a Rússia, 56ª no PNUD não competiu em Paris, a Ucrânia 100ª no PNUD ocupa a 53ª. posição no ranking do número de medalhas per capita) mas afasta-se em países com índices de desenvolvimento menos elevados ou baixos. 
Os caso mais flagrante de correlação discrepante é a China: muito próxima dos EUA no número de medalhas ocupa uma, por enquanto, modesta 75ª posição no índice de desenvolvimento humano.  
Refira-se que há 24 anos, em 1998, a China ocupava a 99ª. posição no relatório PNUD 2000. A Índia,  a 128ª. 
Nos Jogos Olímpicos de Paris, a Índia, pouco motivada para a competição desportiva, obteve 6 medalhas.
 
A Arábia Saudita, que atribuiu um prémio de 1,2 milhões de euros a um atleta seu, vencedor (depois desqualificado) nos Jogos de Tóquio, continua a recusar o acesso das mulheres ao desporto. Não obteve nenhuma medalha nos Jogos de Paris.
 







E, no entanto, os sauditas continuam a pagar milhões a muitos futebolistas em fim de carreira, ou no meio, para eles tanto faz. 
Será que, para eles, o futebol profissional não é desporto? 
Se é esse o caso, estou, quanto a esse assunto, de acordo com os sauditas: 
o futebol profissional é um espectáculo de diversão que deixou de ser uma prática desportiva há muito tempo em muita parte.
 
Contribui a actividade desportiva e, muito particularmente os Jogos Olímpicos para o desenvolvimento humano? Não pode dizer-se que não.
Mas os resultados reflectidos nos rankings parecem apontar que a competição desportiva (não a prática desportiva amadora) são motivação para alguns encontrarem uma porta de sucesso quando não vêm outras abertas.
 
Desportiva é esta pachorra que me assaltou hoje para, como sempre, teclar sem honra nem proveito.














---- act. Já depois de ter ditado o meu comentário, leio no Público: Só o ouro, o total de medalhas ou a população: como medir o êxito olímpico? Só o ouro, o total de medalhas ou a população: como medir o êxito olímpico?   

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