Para entretenimento de duas das minhas netas, coloquei anteontem no leitor de DVD os "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras", no título original "Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew From London To Paris in 25 Hours 11 Minutes", de 1965, e recordei-me do Cinema Império.
Foi lá que assisti, deliciado, à projecção dos Gloriosos Malucos. Foi lá, mas num espaço mais reduzido criado no andar superior, que assisti à apresentação em Portugal de alguns filmes, que passaram a designar-se por filmes de autor.
O Império e o São Jorge eram os maiores espaços/cinemas de Lisboa.
Nesse tempo, ir ao cinema era uma oportunidade de festa, de convívio.
Hoje os filmes são projectados em autênticos buracos em centros comerciais, com os sons do mastigar de pipocas e o gargarejar de Coca Cola, de grande parte dos espectadores, ou será de raatos?, a misturar-se com os sons dos filmes.
Outro espaço cinema/teatro era o "Monumental".
Hoje ocupado pelo BPI, após destruição, transformação como centro comercial, três ou quatro buracos para projecção de filmes até nova transformação, desta vez para banco.
Foi no "Monumental" que vi "West Side Story", 1961. Um filme feito para uma tela gigante e características acústicas que criavam uma envolvência que nos fica para toda a vida.
Há filmes, ou havia, filmes que não cabem nos buracos dos centros comerciais.
Há excepções? Há. mas são poucas.
O Império encerrou as portas no fim de 1983.
"Em 1992, lê-se na Wikipédia, o edifício foi convertido na Catedral portuguesa da Igreja Universal do Reino de Deus ", um negócio exponencial do capitalismo religioso.
Escrevo "capitalismo religioso" sem receio de ofender ninguém porque, sobretudo entre os evangélicos, não só no Brasil e nos EUA, onde preponderam, o capitalismo é a alma da sua expansão sem paralelo, e assumido como tal pelos pastores e pelas suas ovelhas.
Conforme com a sua natureza, e não só dos evangélicos mas também de outras confissões religiosas, o capitalismo religioso não se contém dentro dos específicos limites dos seus negócios porque se projeta e promove nas arenas da política.
A este propósito, e direccionado a quem tenha interesse nestas questões, pode ler "A pastor said his pro-Trump prophecies came from God. His brother called him a fake". a saga de uma família norte-americana de pastores evangélicos do Alabama, pai e dois irmãos. O irmão júnior afirmou-se profeta, teria recebido de Deus a indicação que Trump deveria ser eleito (em 2020), ripostando o mais velho que o júnior era um mentiroso.
Interveio o pastor pai a favor do pretenso profeta lembrando ao outro que negar a palavra do profeta é negar a palavra de Deus.
O artigo é longo, mas merece ser lido.
E merece ser lido porque retrata bem por que razão crescem os evangélicos como cogumelos.
Os evengélicos não dependem de um poder central, são livres de se estabelecerem como pregadores onde e até quando a sua palavra é ouvida pelos seus clientes. Se a audiência aumenta, expandem o espaço, se audiência se contrai, vão procurar outros locais mais absorventes das suas palavras.
O sucesso do negócio de cada pastor depende da capacidade de convicção das suas palavras.
O sucesso do negócio de cada pastor depende da capacidade de convicção das suas palavras.
O seu instrumento básico de trabalho é a sua palavra, a Bíblia o apoio da sua arte.
Mas não se pense que o pastor tem formação estruturada por uma qualquer autoridade da qual depende.
Mesmo a construção de templos e abertura de locais de culto pode depender ou não de autorização das autoridades administrativas locais.
O pastor evangélico não tem de frequentar seminário, lê e prega conforme a pulsação que observa das suas audiências.
Pode e é geralmente casado.
Pode e geralmente acumula o negócio religioso com rendimento assegurado pelos fiéis com o lucro de negócios de natureza não religiosa. E neste ponto se alargou o afastamento entre os dois irmãos: mesmo tendo o profeta falhado na eleição de Trump, já os seus devotos tinham esquecido a profecia porque o profeta se tinha tornado um super star, mais ouvido e admirado que antes. E o mais velho contorce-se com tanto proveito de tanta falsidade do outro.
Em alguns pontos falta originalidade aos evangélicos, mas não em todos, admita-se.
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