Há cinco anos comentei aqui "The globalization Paradox", de Dani Rodrik, professor em Harvard, que concluía pela conflitualidade suscitada pela conjunção da democracia, capitalismo e globalização. É pacífica, concluía o autor, a compatibilização entre quaisquer dois destes três vectores, mas a simultaneidade dos três é conflituante. Esta hipótese já tinha sido, resumidamente, publicada aqui em Junho de 2007.
Há dias, Martin Wolf citava "The inescapable trilemma of the word economy" de Rodrik em apoio das suas conclusões em "Capitalism and democracy: the strain is showing" onde o principal colunista de economia do Financial Times observa a origem da emergência de propostas políticas populistas que estão a angariar crescente adesão de eleitores em países onde até há relativamente pouco tempo era suposto a democracia e o capitalismo estarem bem cimentados e à prova de toda e qualquer concorrência global.
Não estão, conclui M Wolf, e a fractura já está à vista.
A globalização gerou multidões de descontentes (Stiglitz publicou "Globalization and its Discontents" em 2002) que, ameaçados pela perda de poder de compra, pela falta de oportunidades de emprego, alinham-se pelas propostas de demolição de um sistema democrático localmente igualitário num meio capitalista, agora global, por natureza não igualitário.
É deste trilema, já constatado e dissecado há algum tempo, que emergem os populismos que no passado ainda não longínquo alçaram os autoritarismos que esmagaram democracias.
Pode voltar a acontecer?
Quando as posições dos eleitores se extremam e o centro político se contrai, porque se contrai a classe média, o edifício democrático tende a desmoronar-se com a pressão dos extremos, que, como se sabe, se tocam.
Avisa Wolf: "Se pretendemos que se mantenha a legitimidade do nosso sistema político democrático, a política económica tem de ser orientada no sentido da promoção dos interesses da maioria e não de poucos. ... O casamento entre a democracia liberal e o capitalismo necessita de algum carinho. Porque não pode ter-se por definitivamente garantido"
Pode voltar a acontecer?
Quando as posições dos eleitores se extremam e o centro político se contrai, porque se contrai a classe média, o edifício democrático tende a desmoronar-se com a pressão dos extremos, que, como se sabe, se tocam.
Avisa Wolf: "Se pretendemos que se mantenha a legitimidade do nosso sistema político democrático, a política económica tem de ser orientada no sentido da promoção dos interesses da maioria e não de poucos. ... O casamento entre a democracia liberal e o capitalismo necessita de algum carinho. Porque não pode ter-se por definitivamente garantido"
2 comments:
Mas parece existir uma tendência "natural" para considerar definitivamente garantido, todo o "casamento" capaz de gerar alguma "espécie" de prepotência...
Obrigado, Bartolomeu, pelo seu comentário. Perspicaz, como seria esperável.
No caso deste casamento entre capitalismo e democracia, com a globalização metida no meio,
o divórcio desterra a democracia.
E o resultado começa estar à vista: os populismos avançam por todo o mundo livre.
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