Friday, August 26, 2016

E SE O BURQUÍNI FOR BEM JUSTO E DE COR DE PELE?

A. Cristóvão,


Quando li a notícia pela primeira vez, reagi pensando que os franceses estavam a comprar uma guerra absurda. E considerei até que se tratava de um ardil achado para contornar a falta de liberdade imposta pelos islâmicos às suas mulheres. Neste sentido, o burquíni seria uma manifestação de emancipação, um sintoma de fuga à subjugação a que estão submetidas as mulheres no Islão.

Mas mudei de opinião porque percebi, por empatia, que a revolta dos franceses, aterrorizados pelos fanáticos que pretendem impor ao ocidente valores que nos repugnam, não é contra o burquíni mas contra o símbolo que eles vêem exibido no seu meio.

São livres as mulheres islâmicas de vestir o que bem entendem?
Todos sabemos que não são, ainda que, provavelmente, a grande maioria delas afirmem o contrário. Temos nós, os ocidentais, o direito de lhes impor os nossos valores?
Temos, pelo menos, o direito de no nosso solo impedir que outros nos imponham os seus com actos de terror.

O burquíni é um débil exemplo de subordinação feminina? É. E, pode até, como disse no princípio, ser entendido como sintoma de emancipação.
Se não estivesse o mundo ocidental ameaçado pelos actos tresloucados de gente que bebe em interpretações corânicas  o elixir de uma vida abençoada num céu de virgens.

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Correl . -‘Burkini’ Inventor Says Sales Have Skyrocketed on Heels of Controversy -  aqui
- Justiça francesa suspende proibição do burquíni
- Sarkozy promete proibir burquíni em França se for novamente eleito presidente em 2017



6 comments:

Anonymous said...

A posição ocidental de proibição desta ou daquela indumentária, deste ou daquele simbolo ou manifestação religiosa, congrega o que de pior o ocidente condena nos países ditos de liberdade condicionada como são alguns estados islâmicos e toma uma posição contranatura aos valores emanados pelo ocidente da tolerância e liberdade.
Situações destas que no fundo servem os princípios daqueles que condenamos por falta de liberdade e tolerância. No fundo caminhamos no sentido daquilo que nos querem impor radicalizando nós também a nossa posição. Em termos de estratégia os radicais continuam a ganhar pontos ao ocidente que não sabe opor mais liberdade e tolerância ao extremismo que tem assolado o ocidente.

Rui Fonseca said...



Obrigado, Anonymous pelo seu contributo.

Não há, tanto quanto eu saiba, uma "posição ocidental" sobre o assunto.
O que há, e disso ninguém pode ter dúvidas, é uma reacção a uma simbologia do terror onde as vagas de terrorismo islâmico têm sido mais desvastadoras.

Em França, o burquíni é repudiado pelos principais candidatos à presidência da República porque eles (Manuel Valls ou outro candidato socialista, Sarkozy e Marine Le Pen) sabem que não terão hipóteses de vencer se não disserem aos eleitores que vão travar a progressão
dos valores culturais islâmicos, que se opõem aos valores culturais ocidentais, no seu país.

A reacção ao burquíni é um reflexo do medo que atravessa a sociedade francesa.
Imagine, Anonymous, que na cidade em que vive uma explosão provocada por um homem (rapaz, menino, cada vez são mais jovens os instrumentos humanos de terror)mata ou estropia umas centenas largas de pessoas. E que esta explosão é a segunda ou terceira observada nos últimos seis meses, sempre com consequências idênticas.

No dia seguinte, o A. vai à praia, e, na praia, há umas jovens que se destacam por vestirem
de modo que A. identifica como pertencendo à comunidade em que vivia o terrorista.
Como reage? Fica sossegado (a)? Não o/a atinge um frémito de medo?

Melhor mesmo é não ter que experimentar.

Anonymous said...

Claro que o terror pretende isso mesmo - ser condicionador da liberdade e dos valores- pelo que há que não ceder. O Estado palestiniano sofre do mesmo e são já gerações a crescer num estado condicionado pelo terror e pela limitação dos valores que a compõem mas apesar de tudo resistente (e radicalizam-se).O que está aqui em causa e não discuto teorias da conspiração é uma falta de coordenação do Ocidente em relação á radicalização do Islão fruto ele também do apoio do Ocidente para enfrentarem hoje a amalgama que são os Estado do Médio Oriente resultado da intervenção Ocidental no inicio do Sec 20. Quem arma os grupos radicais? Quem sustenta estes grupos? Por onde passa o dinheiro destes grupos? O Ocidente...pelo que depois não se pode comportar como virgem ofendida para mais quem sofre na pele são os povos desses países.
A maneira inteligente de combater símbolos e atitudes radicais é incorporá-las na sociedade como sempre fizeram os Estados Unidos com o Black Power ( o cabelo com carapinha passou a ser moda quando foi usado como simbolo das panteras Negras).

Rui Fonseca said...


"pelo que há que não ceder", escreve o A.

Os franceses, pelos vistos, entendem que a não cedência consiste, neste caso, na recusa de identificações religiosas no espaço público. E os principais partidos, da esquerda à direita,
acolhem essa atitude recusa.

Estão errados?
Talvez. Mas na terra deles querem eles continuar a mandar.

Anonymous said...

Claro, no plano pratico cada um sabe de si. A discussão essa sim é teórica e tenta encontrar respostas...e tenta perceber o que se passa. Ao fim e ao cabo existem outros eixos e outros interesses neste intrincado sistema politico ( ou sistema de poder). Também interessa aos grupos económicos preponderantes (apátridas ou não fosse a globalização esse desenraizar a economia do seu eixo social com as obrigações respectivas)na aplicação das suas politicas neoliberais necessidade de estados de excepção para assim se poderem impor.

Rui Fonseca said...

Extrapolando pela infinidade de eixos chegamos a uma infinidade de convicções.
Dito isto, não pretendo retirar razão à sua.