Thursday, October 10, 2024

O ASSALTO À DEMOCRACIA COM UM ABRAÇO DE PUTIN

Em reunião plenária do Parlamento Europeu, Viktor Órban, que preside, por inerência do cargo como primeiro-ministro da Hungria, preside ao Conselho da União Europeia durante o semestre a decorrer  de 1 de Julho até 31 de dezembro deste ano, apresentou as suas prioridades durante o período em que se manterá no cargo.

As opções políticas de Órban são sobejamente conhecidas e situam-no junto de todos os que têm como ideologia mestra o poder autocrático, que se alastra como mancha de óleo sobre os valores democráticos, admiradores de Trump a Putin, sem disfarce, inimigos da Europa. São eurófagos, - referidos aqui -  carunchos que penetraram nas estruturas das instituições europeias, para se alimentarem delas e as destruírem.
Órban é um eurófago posicionado numa função que será tanto mais influente quanto os dois outros titulares de cargos cimeiros, Presidência do Conselho Europeu, que passará a ser ocupada por António Costa a partir do próximo mês de dezembro, a Presidência da Comissão Europeia, ocupada por Ursula von der Leyen, reeleita recentemente por um novo mandato de 5 anos.
António Costa entrará em funções com Viktor Órban de saída; até lá, com o actual Presidente do Conselho Europeu, o pusilânime belga Charles Michel, Ursula von der Leyen terá de enfrentar as investidas de Órban. 
Uma tarefa que parece estar bastante bem ao alcance dela. 
Na reunião do plenário do Parlamento Europeu, anteontem, para apresentação, adiada por razões de catástrofes naturais ocorridas na Europa central, das prioridades da Hungria (leia-se de Órban) na presidência rotativa da União Europeia, Órban reafirmou o que tem dito em matérias que conflituam com os valores democráticos que sustentam a União Europeia, e foi muito claro no seu pendor para se posicionar ao lado de Putin e Trump, inimigos da UE e da NATO. 

Ursula von der Leyen assumiu a defesa dos valores de uma Europa livre, da forma frontal, e encostou Órban ao canto onde ele deposita os seus interesses pessoais evidenciando-lhe como num espelho colocado à frente do autocrata húngaro as contradições e as suas traições ao povo húngaro, que ele, apesar de nascido em 1963, certamente não ignora: a amordaça, o exílio, os tormentos,  as mortes  sofridas pela geração dos seus pais, perpetradas por aqueles de que Putin hoje se reclama sucessor. 


... correlacionado
 
Em 2012 coloquei aqui um comentário a sobre um artigo editorial do Washington Post desse dia - Assault on Democracy - acerca das ameaças que impendem sobre a Hungria, membro da União Europeia e da NATO. Um tema que já várias vezes abordado neste caderno de apontamentos, a última das quais aqui - O abraço de Putin -.

               O símbolo da revolução: a Bandeira da Hungria com o emblema comunista cortado

"Na sequência de uma revolta revolta popular espontânea, iniciada a 23 de outubro de 1956, contra as políticas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética, em 4 de novembro, um grande exército soviético (31550 militares, 1130 tanques) invadiu Budapeste e outras regiões do país. A resistência húngara continuou até 10 de novembro. Mais de 2,5 mil soldados húngaros e cerca de 700 soldados soviéticos foram mortos no conflito, tendo 200 mil húngaros fugido, passando a ser refugiados."

"Em 31 de Maio de 1963, nasce Viktor Orbán". 
Orbán tornou-se conhecido nacionalmente depois de fazer um discurso no enterro de Imre Nagy em 1989 e outros mártires da revolução de 1956, no qual exigiu abertamente que as tropas soviéticas deixassem o país"
"Em dezembro de 2021, tornou-se o chefe de governo com mais tempo em exercício na UE"
"Ao longo da sua trajetória política, Orbán adotou uma retórica nativista e social-conservadora, sendo considerado um político de extrema-direita por analistas."

 " No final da década de 1980, a Hungria foi um dos primeiros países da órbita soviética a procurar dissolver o Pacto de Varsóvia e a evoluir para uma democracia multipartidária e para uma economia de mercado. As primeiras eleições livres nessa nova fase da história da Hungria foram realizadas em 1990, onde, com poucos votos, os socialistas foram rechaçados. Mas, em 1994, voltaram ao poder, apoiados pela queda da qualidade de vida e da economia húngara. Desde então, socialistas e centro-direitistas disputam o poder político na Hungria. Seguiu-se de uma aproximação com o Ocidente que levou o país a aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1999 e à União Europeia em 2004."

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