Senhor Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz,
Há no centro de (AB) ruínas de um antigo solar, a Casa da Renda, que sempre me apoquentaram. De ruínas de casas abandonadas está o país cheio, mas com aquelas confronta-se a minha consciência cívica quando por ali passo.
Nasci (em A.), tenho casa (em A.), que foi de meus pais, e nela preservo, amo e recordo os dias felizes da minha infância e juventude.
Pergunto aos muito poucos que ainda conheço na aldeia, que já teve vida de vila e agora é quase só dormitório, se sabem por que razões o casarão continua a desmoronar-se, como um fantasma que só não assusta quem passa porque sempre conviveu com ele.
Dizem-me que o Presidente da Câmara está a tratar do assunto, mas ninguém, nem o Presidente, tem ideias para saber o que fazer, ou se desfazer, daquilo.
Não quero acreditar no que me dizem, que o Presidente não tem ideias. Quando muito o que o Presidente tem é mais que fazer do que pensar na Casa da Renda.
Aquilo vale pouco, se é que vale alguma coisa, mas é um sintoma da ausência do sentido colectivo cívico que há muito o deveria ter demolido.
E semeado ou plantado no terreno desocupado e estrumado um jardim de espécies silvestres locais a recordar os habitantes que foram deslocados dali há mais de três séculos para nele os frades crúzios construirem o palacete onde recebiam as rendas dos que trabalhavam nas suas terras usurpadas pela Ordem dos crúzios.
Não lhe faço perder mais tempo, Senhor Presidente.
Se não puder fazer para o povo de (A.) o jardim que, certamente, o alegraria, pelo menos não faça ali mais obra de ferro e cimento armado, tão inútil quanto os que (A) já tem sem préstimo.
Com os meus melhores cumprimentos
( assinado)
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