O casal chegou às 23:30 ao aeroporto de Lisboa vindo dos EUA.
Cá fora, entrou no táxi que lhe coube em sorte determinada pelo agente de serviço.
- Bom dia!
(nenhuma resposta)
- Leve-nos, se faz favor, a (morada indicada em Sintra)
O táxi movimentou-se no sentido do IC19, ali chegado o taxista começou uma corrida desenfreada, pressionando, com os faróis nos máximos, quem circulava à sua frente, movendo-se irrequieto, o volante a desandar-lhe nas mãos como se estivesse num autódromo a tentar ganhar o circuito.
- Pode, por favor, conduzir com menos velocidade? Não estamos com pressa ...
(nenhuma resposta)
Nenhuma alteração no comportamento daquele potencial homicida à solta na estrada.
- O senhor faz favor de conduzir com mais cuidado?
- O táxi é meu, quem sabe como devo conduzir sou eu! Ora esta ...
A corrida continuou imparável sem respeito pelos pedidos dos passageiros, nem pelos limites de velocidade, nem pelas regras de ultrapassagem, pressionando sempre, com os faróis nos máximos e o cláxon grosso a insistir sem tréguas, aqueles que encontrava à frente.
- O senhor encoste!
- Quê?
- Encoste logo que puder! Queremos sair!
- Quer o quê?
- Queremos sair! Sim, queremos sair, e já!, ali na estação de serviço! Está a ver?
- Está fechada a esta hora....
- Pois está mas entre! entre e pare já!
Parou. Recebeu e pôs-se a andar.
Ligou o casal para a Uber. Andava próximo dali um motorista aderente da plataforma. Levou o casal a destino, a respirar de alívio.
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Situações como esta não são raras. São mesmo muito frequentes são as práticas agressivas de muitos condutores na estrada, sobretudo em vias geralmente congestionadas com o é o caso do IC19. Procedem como querem (não só automobilistas mas também os motars e motociclistas), assumindo-se senhores da estrada, ziguezagueando ao sabor do seu depósito de adrenalina.
- E não é possível denunciá-los à polícia.
- Aqui a denúncia destes e de outros casos semelhantes, reprime-se pela de má consciência colectiva, do tempo em que a denúncia de judeus (ou não) levava dezenas, centenas, ... a serem queimados nas fogueiras da Inquisição, para gáudio da populaça; depois, no tempo da ditadura, em que, pela denúncia (geralmente anónima) de pensamentos, actos e palavras contrários ao regime, eram os desobedientes da prepotência do regime presos e incomunicáveis. Talvez por persistência dessa má consciência colectiva são raras as denúncias por agressões domésticas, muitas das quais terminam no homicídio de (sobretudo) muitas mulheres. E, na estrada, não podendo a polícia estar em toda a parte e os radares interceptarem alguns excessos de velocidade, os crimes por gincanas de automobilistas, motars e motociclistas, são impunes. Podiam estas situações de alto risco serem denunciadas à polícia por quem conduza com civismo? Podiam, mas não está a consciência cívica colectiva para aí voltada. E ninguém faz nada.
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