Thursday, September 14, 2023

TURISMO : MOTOR FROUXO DA ECONOMIA

O turismo é a prostituição da economia?

A pergunta é minha mas a afirmação citei-a aqui: ",,,, na ressaca do Verão de 1975, o Prof. Pereira de Moura afirmava, com nítido exagero, que o turismo é a prostituição da economia".
Exagero, sim, mas não tanto assim. 
Exagero, sim, é considerar que o turismo pode ser o motor fiável do crescimento de uma economia, seja ela qual for. Temos turistas a mais e turismo a menos. 
Temos um tecido empresarial de pequenas unidades económicas a mais e de grandes empresas a menos

Entre a Figueira da Foz, Aveiro, Coimbra e Leiria, as distâncias são curtas. Já foram maiores e sobretudo mais demoradas quando não havia autoestradas a os percursos tinham aparecido pelo meio dos pinhais consoante circunstâncias várias. Em meados do século passado, a Figueira era "a Rainha das praias de Portugal". 
 
Cantava a sereia: ... "São Pedro de Moel, beleza bem amada/ é bela a da Rocha, perfumada/ Espinho é trigueiro/ a Póvoa, maneirinha/mas Figueira da Foz é a rainha!"
Em Julho, Agosto e e Setembro, enchia-se a praia da Figueira de portugueses de todo o lado. Chegavam também muitos casais de espanhóis, sobretudo de Salamanca e Cidade Rodrigo,  com os filhos ao cuidado das suas amas a chilrearem no jardim, ao lado do mercado. 
Em Outubro, chegavam os "banhistas de alforge", depois de terminadas as colheitas, para meter os pés na água e descansar de um ano de trabalho, sem férias nem fins de semana.
A Figueira era, nessa época, uma vedeta jovem, atrevida, aliciante. O Figueirense tinha,  pensava ter, uma mina de ouro na sua praia.
 
Quem é que, fora de portas, conhecia Aveiro ou Leiria? 
Coimbra continuava a ser o que sempre fora:  a cidade da Velha Universidade, de estudantes, na sua grande maioria filhos de famílias abastadas. Coimbra vivia bastante desse abastecimento. 

Vinte anos depois, o turista português e o estrangeiro tinham descoberto que as águas das praias algarvias eram mais ensolaradas, os ventos, quando os havia, mais amáveis, e a Figueira, como, aliás, a generalidade das praias do Norte foram preteridas pelas praias ao Sul. 
 
Para que fosse possível que a Figueira tivesse a entrada num porto, que permitisse o movimento de embarcações da pesca sem risco de vida dos pescadores  e de navios de meio calado para escoar a produção para portos no Norte da Europa, construiram-se pontões de retenção das areias da praia e as sereias emudeceram.

Muitas vezes me perguntei, depois, por que razão se tinham desenvolvido Aveiro a Norte e Leiria a Sul, ambas  tão próximas da Figueira, economicamente definhada, incapaz de oferecer ou suscitar oportunidades à maioria dos seus naturais, repelindo-os para a capital ou para o estrangeiro? Que tinha a Figueira, que tinha Coimbra, que as tornava incapazes de ombrearem com Aveiro e Leiria?
 
Só encontrava, e só encontro ainda, uma explicação: a Figueira tinha uma praia, e logo para desdita sua, cantava-lhe a sereia, que essa praia era a "rainha das praias de Portugal". Coimbra, não tem praia. Aí o canto da sereia foi sempre outro, o das serenatas dos seus estudantes, das praxes, das capas e batinas,  de quem chegou, cantou, andou até sair doutor. 
Tiques que outras academias imitam embalando um sonho que muitos poucos saberão como concretizar.

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