"...
Tenho oitenta, o meu homem tem oitenta e dois, mas tem um problema de reumático e quase já não sai de casa. Eu ando por aqui. Passo o tempo, não é? Sim, o que vale é o restaurante, vem muita gente, é muito antigo, quando eu nasci já havia o Maria Rita. Houve tempos que esta aldeia tinha muita gente, agora somos só quinze, tudo velhos. Novos, só os que vêm ao restaurante. Produzíamos tudo, azeite, vinho, trigo, batatas, tínhamos porco, tínhamos vacas, tínhamos galinhas, patos, tudo, está a ver aquela encosta, era tudo searas de trigo, agora é o que vê, só pinheiros e silvas. Temos dois filhos, um homem, que está em França, a minha filha mora em Mirandela, vejo-a mais vezes. Agora só colhemos alguma azeitona, pouca coisa, só para a gente, o resto fica para a passarada. A mó que vê ali no centro do jardim, veio do lagar de azeite, havia um lagar de azeite do povo, que acabou.
Há quantos anos é que deixámos de cultivar as terras? Ui! Há muitos. Há mais de trinta. Filhos fora, não podíamos continuar a fazer o que fazíamos antes. Quem poderia?
Sim, isto aqui no largo é muito bonito, muitas rosas, há rosas por todo o lado, pois há, também temos uma igreja muito linda, e muito antiga, vão vê-la. E o museu, já foram ao museu?
Se não saio daqui, saio, saio. Já fui ao Porto, a Lisboa, a Fátima, já fui a Lurdes, quem organiza tudo é o senhor padre. É muito boa pessoa, se não fosse ele nunca saíamos daqui. "
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