Wednesday, April 19, 2017

BRINCANDO AO FAZ DE CONTA QUE É DEMOCRÁTICO

Lê-se aqui que

"O Orçamento Participativo Portugal é um processo democrático, directo e universal, através do qual as pessoas decidem sobe investimentos públicos em diferentes áreas da governação. Através do OPP as pessoas podem decidir como investir 3 milhões de euros"  e que " O OPP abrange a totalidade do território português, integrando grupos de propostas de âmbito territorial diferenciado:
1 por cada área das NUT II (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve); 1 por cada região Autónoma. Ests grupos não concorrem entre si, tendo cada um deles a sua dotação financeira. Cada região do país terá sempre assegurada a existência de projectos vencedores no OPP no seu território" 

Este projecto anunciado pelo Primeiro-Ministro em meados do ano passado imita iniciativas, com intenções idênticas, promovidas por algumas autarquias. Ainda recentemente, anotei aqui a multiplicidade de outdoors colocados pela Junta de Freguesia das Avenidas Novas para um concurso de ideias - Se fosse eu a mandar - suportado por um orçamento de 150 mil euros.
Quanto custaram apenas os outdooors? perguntei, mas não obtive resposta.
Considerando o valor do orçamento e o provável custo da promoção do concurso depreende-se que o objectivo último deste brincar ao faz de conta que é democrático é a implícita mas camuflada compra de votos nas próximas eleições por quem se encontra agora no poleiro.

Esta manhã, ouvi na Antena 1 que o OPP a nível nacional levou o grupo incumbido da promoção a percorrer 10 000 quilómetros para contactar 2000 pessoas, o que dá uma média de 5 quilómetros para incentivar uma pessoa a concorrer.
Quanto custa a promoção deste concurso a nível nacional em que, vd. aqui, se propõe eleger projectos que representam 0,0035% do Orçamento do Estado?
O entusiasmo da equipa de promoção é enorme, dizem: a iniciativa já teve repercussão na imprensa internacional e até em "Harvard" há quem olhe o OPP com notável interesse ...

E eu pergunto aos meus botões: Não se arranjam mais 3 milhões para um concurso de âmbito judicial que convide juízes, procuradores, advogados, solicitadores, e demais agentes na administração da justiça, que, com dispensa de outdoors e viagens insuspeitas pelo país, elejam um conjunto de projectos que eliminem a vergonha que o relatório da União Europeia sobre o estado da Justiça vem denunciando ano após ano, cf aqui:
Os Tribunais portugueses demoram em média 710 dias a resolver litígios, apenas Chipre consegue pior, 1085 dias, na Dinamarca, não mais que 17.

Se não há é porque não dá votos!



2 comments:

Pinho Cardão said...

Pois é, caro Rui, folclore e fogo de artifício. Os burocratas deliram. E passeiam. E ocupam o tempo. E são felizes.
Nós pagamos, mas que tem isso, se pagamos sempre?

Rui Fonseca said...


É uma questão de (falta de)consciência cívica colectiva, caríssimo Amigo.
As pessoas vão atrás do engodo ... e gostam, como o peixe apanhado à linha.
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