O sr. Arménio Horácio Alves Carlos voltou a reafirmar que não admite que o Governo não reponha o horário de 35 horas para todos os trabalhadores, sem quaisquer excepções, a partir de 1 de Julho, sem mais delongas. Até lá, a CGTP estará mobilizada para todas as manifestações e greves que sejam necessárias para evidenciar que os trabalhadores não cederão a quaisquer restrições ou dificuldades que possam vir a ser eventualmente invocadas pelo executivo.
Segundo o que se deduz das notícias mais recentes o PM estará decidido a desautorizar o seu ministro das Finanças e ceder ao ultimato do sr. Carlos, quaisquer que sejam os efeitos no crescimento do défice e da dívida.
Quem, inesperadamente, parece não concordar com a imposição do sr. Carlos é, vd. aqui, o sr. Presidente da República, que pode recusar-se, transitoriamente, a não homologar a proposta de lei que o Governo lhe apresente a mando do máximo líder.
Apesar da vulnerabilidade do veto presidencial, que pode ser derrubado à segunda investida, o confronto entre a extrema-esquerda assumida na Intersindical e o Presidente da República, por cima do maquievelismo do PM, promete ser o primeiro de uma série de desafectos entre PR e PM.
Por ser quem é, o professor Marcelo Rebelo de Sousa, se não der meia volta e deixar seguir a imposição do sr. Carlos, antes de vetar explicará, publicamente, circunstanciada e repetidamente, as razões pelas quais discorda do impositor.
Dirá, além do mais, que a reposição do horário de trabalho seria um tiro nos pés da competitividade da economia portuguesa, que, com baixos níveis de produtividade, tem de compensar com mais trabalho a sua insuficiência de trabalho qualificado e altamente qualificado.
Que há, realmente, um aparente paradoxo entre a necessidade de uns trabalharem mais e muitos outros não terem trabalho, uma contradição que só pode ser superada pelo crescimento económico que, no entanto, não se atinge trabalhando menos mas trabalhando operacionalmente melhor ou de modo produtivamente mais valorizado.
Que há, hoje, um mercado de trabalho global e que, na China, onde o direito à greve não é consentido, há milhares de milhões de trabalhadores submissos a um partido comunista irmão do Partido de que o sr. Carlos é membro altamente classificado mas que ele parece querer ignorar para continuar a venerar. É de lá que, em grande parte, concorrem as empresas que pressionam os trabalhadores portugueses a trabalhar mais enquanto não souberem trabalhar melhor.
O sr. Carlos repetirá, em resposta, que em Portugal a desigualdade é grande e os patrões sovinas. O que, admitamos, possa ser, em muitos casos, verdade.
Deveria o sr. Carlos tomar nota que os patrões chineses e o estado chinês já compraram o filet-mignon dos sectores de serviços e utilities em Portugal e, por vistos gold, molhos de propriedades urbanas. Mas Portugal é pequeno e os bilionários chineses muitos e grandessissimamente abonados.
Compram em Paris, Londres, Nova Iorque, Sidney, Vancouver, em toda a parte onde haja construção à venda, salvo se for construção industrial onde tenham que defrontar o sr. Carlos ou outros Carlos deste mundo.
Condeno a lei da greve? De modo algum!
Condeno a visão antolhada do sr. Arménio Carlos e dos seus pares, que fazem vista grossa às condições a que são submetidos os trabalhadores chineses pelos guardiões de uma ditadura que suporta um capitalismo sem rédeas.
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