Sunday, April 05, 2015

SÁBADO DE ALELUIA

10 de Abril de 1955

O sol soltava-se lá de cima em ondas de calor meigo que aqueciam quanto baste as leivas humedecidas pelas chuvas da semana anterior, abertas e cobertas pela charrua ao compasso do gado. No rego aberto, mergulhava-se azoto no fundo da leiva aberta  numa mão cheia de tremoceiro raposo ainda coroado de amarelo,  o milho semeava-se na leiva que se cobria doseando as sementes com as pontas dos dedos mais hábeis  por cima do aparelho  à medida que progredia o avanço da aiveca, frustrando as expectativas das pombas, que assim se tinham de contentar com as minhocas e outros residentes subterrâneos expostos pelo revoltear da terra lavrada.

- Pai, tínhamos mesmo que vir semear o milho em dia de sábado de aleluia?
- Choveu toda a semana passada, vai chover toda a semana que vem ...
- Vai mesmo? 
- É o que diz o borda-de-água.
- Acerta sempre?
- Nem sempre. Mas hoje está um dia de rosas, e Abril, águas mil, se o Criador nos dá um sábado assim é porque nos convida a aproveitá-lo, e não a ficar em casa de perna esticada ao sol.  Amanhã,  domingo de Páscoa, logo Lhe agradeceremos o dia que nos ofereceu hoje.

2 comments:

Maria João said...

Rui, fui eu que fiz os comentários mas enganei-me três vezes. Era só para lhe dizer que gostei muito deste texto.Obrigada e continue escrevendo.
mjoão

Rui Fonseca said...

Obrigado, Maria João.
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