Tuesday, May 02, 2006

É A GUERRA



Com este título publicou o inesquecível esquecido Aquilino as suas recordações do ambiente gerado em Paris pelos clamores que anunciavam a guerra que iria durar quatro anos e pôr o ovo de serpente que geraria a segunda com o mesmo apelido, três décadas depois. Na rua, tudo e toda a gente falava da guerra.

A guerra agora é outra, mas que há guerra, guerra mundial, é tão certo quanto estranho que pouca gente dê por isso. Fora dos Estados Unidos a guerra do Médio Oriente é tida como uma guerra dos americanos causada pelas caturrices e burrices do Bush. Em Washintgton DC, neste Abril sempre caprichoso em pôr à prova os meteorologistas, a atmosfera é de tranquilidade pastoril. Quando chegámos disputavam ainda a primazia das cores algumas cerejeiras, carregavam-se de cachos de rosa velho umas primas suas, a julgar pelo tronco que identifica a família. Depois sobressaíram os brancos de leite e o rosa salmão das dogwood ao mesmo tempo que, mais junto ao chão, explodiram, multicores, as azáleas. No espaço de três semanas os bosques pintaram-se daquele verde tenro que a que o sol dá uma vibração de luz que estremece de serenidade. As espécies gorgeadoras davam o concerto de continuação do mundo e convivem tão próximas e tão confiantes que me fazem interrogar como é que nós fomos capazes de extinguir os pintassilgos.

Na rua ninguém fala da guerra, os ecos da guerra chegam através dos protestos pelo aumento do preço da gasolina: três dólares cada galão, cerca de metade daquilo a que estão habituados a pagar os europeus.



Decididamente, os Democratas já iniciaram a campanha eleitoral de Novembro. JF Kerry tinha dado o mote há dias com a reafirmação da sua posição contra a guerra no Iraque e a retirada das tropas norte-americanas.

Segundo a mais recente sondagem do WP, apenas 37% dos norte americanos aprova forma como Bush tem lidado com a situação no Iraque, e os que responderam à sondagem consideram o assunto como questão chave para decidirem quanto ao seu sentido de voto nas eleições de Novembro.

Por outro lado, contudo, as sondagens mostram que, ainda que muitos norte americanos queiram a redução das suas tropas no Iraque, 70% acredita que não é possível uma retirada imediata.

Os Serviços de Investigação do Congresso, entretanto, admitem que se a presença norte-americana no Iraque e no Afeganistão se prolongar por mais 10 anos os custos da guerra nestas duas frentes suplantarão os custos da guerra no Vietname. Vale isto por dizer que é oficialmente admitido que a presença norte-americana no Iraque e no Afeganistão se pode manter por mais 10 anos, ainda que essa presença venha a ser progressivamente reduzida com paralela redução dos custos, segundo a Week, May 4, 2006.

Em 2006 os custos militares norte americanos nas duas frentes atingirão 117,9 biliões de dólares. Entretanto, a Exxon Mobil, uma dos maiores companhias petrolíferas do mundo deve ultrapassar este ano os 36 biliões de dólares atingidos o ano passado.

Os preços da gasolina “regular” (87 octanas) ultrapassaram os 3 dólares por galão (3,785 litros), cerca de metade dos preços na Europa, e tornaram-se o assunto mais discutido nos media.

Last but not least, os últimos relatórios dão conta de já terem morrido, na guerra do Iraque, 2401 militares norte americanos e 127 civis, sobretudo entre o pessoal envolvido nas obras de reconstrução. Ficaram feridos 17762 militares.

As outras forças envolvidas, sobretudo britânicas, sofreram 214 baixas mortais.

Entre os iraquianos civis o número de mortes em consequência do conflito situa-se entre um mínimo de 34512 e um máximo de 38661.
Perguntar-me-ão: O que é que nós temos a ver com isto? A nossa guerra é outra. Só na ponte do primeiro de Maio morreram 16 pessoas, não contando com aquelas que morrerão, por acidentes naquele período, nos próximos 30 dias.
Excesso de álcool? Excesso de velocidade? Excesso de falta de civismo?
Excesso de gasolina, é o que é.

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