Sunday, May 21, 2006

A PRODUTIVIDADE DA ELECTRICIDADE

Caro Rui

De facto desde há algum tempo que te ouço falar no propósito de escreveres algo sobre produtividade daí o ter tomado a iniciativa de te enviar o artigo do OT de Out 2003 sobre o tema, a que se seguiu um outro do ER publicado no “Avante” em Jul 2004 e que talvez se possa aceitar como a posição do PCP/CGTP sobre o mesmo.
Isto sem querer dizer que assumia como minhas as posições nele expressas mas tão só o facto de, não me tendo ainda debruçado sobre o problema para poder sobre ele formular opiniões, querer fornecer-te material para reflexão.
Não estranhei portanto que esse escrito te tenha servido de base para a prometida análise à volta da produtividade.
Pelo que já conhecia de posições tuas, escritas e outras, relacionadas com este assunto, não posso deixar de te dizer que fiquei um bocado desiludido com o resultado da produção teórica expressa no post “A PRODUTIVIDADE DA ELECTRICIDADE” que ficou muito aquém das minhas expectativas.
Então vejamos:
Ficas-te pela formulação de uma dúvida sobre uma das “considerações prévias” - de os ganhos de produtividade do factor Trabalho puderem ser anuladas por perdas de produtividades do factor Capital (que eu, sinceramente, não consegui perceber) e, quanto às “apostas nos factores de produtividade”, tema de fundo do trabalho, nicles.
Mas fiquemos por este ponto.

Primeiro que tudo clarifiquemos os conceitos.

Tu defines: pk=Pk/k (produtividade do capital medida pelo acréscimo de produção (Pk) que resulta de cada acréscimo de unidade de capital utilizado (k)) e pt=Pt/t (a produtividade do trabalho medida pela produção obtida (Pt) pela população activa que a realizou) concluindo que “entre uma e outra não existem variações necessariamente correlacionadas”.
É visível a tua confusão nestes conceitos já que um, tal como os defines, é um conceito marginal e outro é um conceito médio, o primeiro mede-se pela 1º derivada e o segundo pela média aritmética.
Vejamos com mais detalhe.
A função de produção (Y), na versão Cobb-Douglas, como aprendemos nas aulas de Economia, tem como variáveis o trabalho (L) e o capital (K). Segundo o modelo simplificado de crescimento de Solow, com tecnologia constante, a participação de cada factor no produto é constante ao longo do tempo, assim, as produtividades do trabalho (Y/L) e do capital (Y/K) ajustam-se de tal maneira que quando uma aumenta a outra reduz-se. Com efeito, admitida a hipótese de distribuição constante do produto entre trabalho e capital, o crescimento do produto por trabalhador significa maior salário e estímulo em substituir este input por capital. Isto é, se as duas grandezas forem representadas graficamente, tem-se uma curva, onde à medida que a produtividade do trabalho cresce, decresce a produtividade do capital. Estás esclarecido sobre esta correlação?
Se complicarmos o modelo com o progresso tecnológico que tu introduzes com o paradoxo de Solow (vemos computadores por xo de Solow (vemos computadores por todo o lado menos nas estatísticas de produtividade) é ainda mais obvia a consideração prévia do OT que não me parece pretender atirar culpas para cima de ninguém mas simplesmente, em defesa da parte habitualmente visada, ajudar a concluir o que tu também concluis que a produtividade sendo uma variável global da economia, sem ela não há competitividade e sem esta não há crescimento económico e social .
Tu próprio no post de continuação referes que “quando se fala em produtividade, sem acrescentar mais nada, geralmente tem-se em mente a produtividade do trabalho, aquele quociente entre o PIB e o número de activos que o realizaram” para introduzires o tema do CP “Falta de eficiência energética custa uma Ponte Vasco da Gama por ano”
Então em que é que ficamos? Lembras-te do teu post do barro e do oleiro?

E sobre os factores de produtividade do OT não tens nada a dizer?

Prometo que ainda vou reflectir sobre o tema Estado e voltar a ele em breve.


Azeitão, 19 de Maio de 2006


Meu caro Luciano,

Obrigado pelos teus comentários. A minha intenção de escrever estas coisas é precisamente essa: desafiar alguns amigos a pensar em alguns temas que durante as nossas carreiras profissionais não tivemos oportunidade de discutir por escrito, o que é bastante diferente de as discutir apenas verbalmente.

Vejamos então as questões que levantas:

Tu defines: pk=Pk/k (produtividade do capital medida pelo acréscimo de produção (Pk) que resulta de cada acréscimo de unidade de capital utilizado (k)) e pt=Pt/t (a produtividade do trabalho medida pela produção obtida (Pt) pela população activa que a realizou) concluindo que “entre uma e outra não existem variações necessariamente correlacionadas”.

As definições não são minhas. Creio que os critérios de avaliação da produtividade do trabalho são geralmente os que indico: o quociente entre o PIB e o número de activos que o realizou. Há também quem calcule a produtividade em termos de produtividade horária, o que leva a considerar, por exemplo que em França, neste caso, a produtividade do trabalho é superior à dos Estados Unidos. Mais do que o valor absoluto encontrado, contudo, normalmente valoriza-se a evolução observada. Nestas condições, a produtividade do trabalho evolui tanto mais significativamente quanto mais aumenta o PIB relativamente aos activos (trabalhadores, empresários, gestores, profissionais liberais, funcionários públicos, etc.) envolvidos.

A medida de evolução da produtividade do capital é normalmente feita pela sua evolução e não pelo seu valor absoluto pela dificuldade de avaliar o denominador se ele se referisse ao capital total envolvido na geração do produto mas ser facilmente quantificável o investimento anual.

Com efeito, admitida a hipótese de distribuição constante do produto entre trabalho e capital, o crescimento do produto por trabalhador significa maior salário e estímulo em substituir este input por capital. Isto é, se as duas grandezas forem representadas graficamente, tem-se uma curva, onde à medida que a produtividade do trabalho cresce, decresce a produtividade do capital.

Assim é. Se não houver alteração dos factores envolvidos (trabalho e capital), o crescimento de um far-se-á à custa do outro.

No entanto, o que OT, diz no seu documento é completamente diferente:

Transcrevo: “A segunda consideração prévia de natureza política é a de que, contrariamente ao que parece decorrer do discurso dominante, a produtividade não se resume à produtividade do trabalho. O relevante é o nível e a evolução da produtividade dos factores de produção, isto é, da produtividade do trabalho e da produtividade do capital. Esta consideração impõe-se, fundamentalmente, porque analisando a evolução da produtividade na economia portuguesa nos últimos 18 anos (de acordo com o Eurostat), constata-se que a evolução da produtividade do capital tem sido muito inferior à da produtividade do trabalho, sendo responsável pela anulação, em média anual, de cerca de 30% dos ganhos da produtividade do trabalho.”

Neste caso, portanto, o que está em causa não é a apropriação entre o capital e o trabalho do PIB mas da responsabilidade que o factor capital poderá ter tido na anulação da produtividade do factor trabalho.

Como podes constatar, dos valores que citei e que fui buscar à obra que referi, a produtividade do trabalho cresceu acima da produtividade do factor capital, durante o período referido por OT, para o conjunto dos 7 países mais desenvolvidos do mundo. Não se observou, portanto, apenas em Portugal. Creio que as razões para a evolução observada estão bem explicitadas no meu texto. Não há, portanto, nenhuma razão para se dizer que uma (a produtividade do capital) foi responsável pela anulação de 30% do crescimento da outra. Até porque, como se refere naquele meu texto, há investimentos que não têm nenhuma intenção de promover o aumento da produtividade do trabalho (de publicidade pela luta de quota de mercado, por exemplo) e outros (de inovação) têm efeitos com um desfasamento temporal considerável.

A produtividade do trabalho é, normalmente, eleita para avaliação da progressão do potencial de crescimento económico pela simples razão de que ela resume os efeitos conjugados de todos os outros factores (capital, matérias-primas, energia), os quais terão maior ou menor produtividade consoante as capacidades do factor trabalho que as utilizou.

Porque no denominador do conceito, que é um quociente, da produtividade do trabalho não se contam apenas os trabalhadores por conta de outrem, aqueles a quem, OT, por interposta entidade, se dirigiu, mas também os empresários, os gestores, os funcionários públicos, os militares, os profissionais liberais, os gestores, enfim toda a gente que contribui para a produção resumida no PIB.
Está lá o barro (no sentido dado no post em questão) e os oleiros.

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