Meu caro Luciano:
Há quanto tempo ando a prometer (ou ameaçar?) desafiar-te para um torneio à volta da produtividade! Como sabes, não jogo bridge, acerto às vezes na bola de golfe, mas ultimamente tenho andado com dores de cotovelo. De modo que me lembrei da produtividade. Podia dar-me para pior, convenhamos.
Tu, como sempre, de vez em quando mandas-me uns papéis, comentários teus, nicles. Há dias deste-me um do OT, coisa de Outubro de 2003 que ele escreveu para um Seminário da CGTP-IN, não sei se ele não terá entretanto mudado de ideias. Pela idade e pelo partido, pode ser que não.
“Contrariamente ao que parece decorrer do discurso dominante, a produtividade não se resume à produtividade do trabalho. O relevante é o nível da produtividade total dos factores de produção, isto é, da produtividade do trabalho e da produtividade do capital. Esta consideração impõe-se, fundamentalmente, porque analisando a evolução da produtividade na economia portuguesa nos últimos 18 anos (de acordo com o Eurostat) constata-se que a evolução da produtividade do capital tem sido muito inferior à produtividade do trabalho, sendo responsável pela anulação em média anual de cerca de 30% dos ganhos de produtividade do trabalho”
Esta, uma das quatro considerações prévias que OT constantes do documento.
Há quanto tempo ando a prometer (ou ameaçar?) desafiar-te para um torneio à volta da produtividade! Como sabes, não jogo bridge, acerto às vezes na bola de golfe, mas ultimamente tenho andado com dores de cotovelo. De modo que me lembrei da produtividade. Podia dar-me para pior, convenhamos.
Tu, como sempre, de vez em quando mandas-me uns papéis, comentários teus, nicles. Há dias deste-me um do OT, coisa de Outubro de 2003 que ele escreveu para um Seminário da CGTP-IN, não sei se ele não terá entretanto mudado de ideias. Pela idade e pelo partido, pode ser que não.
“Contrariamente ao que parece decorrer do discurso dominante, a produtividade não se resume à produtividade do trabalho. O relevante é o nível da produtividade total dos factores de produção, isto é, da produtividade do trabalho e da produtividade do capital. Esta consideração impõe-se, fundamentalmente, porque analisando a evolução da produtividade na economia portuguesa nos últimos 18 anos (de acordo com o Eurostat) constata-se que a evolução da produtividade do capital tem sido muito inferior à produtividade do trabalho, sendo responsável pela anulação em média anual de cerca de 30% dos ganhos de produtividade do trabalho”
Esta, uma das quatro considerações prévias que OT constantes do documento.
Como te disse, não compreendi o sentido da constatação, não percebia como conseguia o factor capital anular os ganhos do factor trabalho, a não ser por análise simétrica: se os ganhos de produtividade do factor pessoal se devem, em grande parte, à utilização do factor capital, as perdas daquele por conta deste só poderiam decorrer de reduções desse mesmo factor capital mas, neste caso, a redução da produtividade do capital, que é um quociente, só poderia ocorrer se o numerador (produção) tivesse uma evolução mais desfavorável que o denominador (capital), situação que contraria o primeiro pressuposto: a produtividade do factor pessoal aumentou, tendo aumentado a produção.
Na realidade, a redução da produtividade do trabalho pode ocorrer por redução da produtividade do capital em situações extremas: aquelas em que se assiste à degradação do parque industrial (ou outro) que criou anteriormente as condições para o aumento da produtividade do factor pessoal observada antes dessa degradação. Seguramente, não foi o que aconteceu em Portugal no período a que OT se refere.
Perguntarás: Então estão erradas as estatísticas do Eurostat? Provavelmente sim, mas, como todas as estatísticas que se prezem, talvez não muito.
O que terá acontecido em Portugal, e provavelmente também na Europa, no período referido por OT, deve ter sido uma progressão da produtividade do factor capital inferior à progressão do factor trabalho no mesmo período.
Mas isto é totalmente diferente do que concluiu OT quando se dirigiu aos camaradas da CGTP-IN.
Na realidade, a redução da produtividade do trabalho pode ocorrer por redução da produtividade do capital em situações extremas: aquelas em que se assiste à degradação do parque industrial (ou outro) que criou anteriormente as condições para o aumento da produtividade do factor pessoal observada antes dessa degradação. Seguramente, não foi o que aconteceu em Portugal no período a que OT se refere.
Perguntarás: Então estão erradas as estatísticas do Eurostat? Provavelmente sim, mas, como todas as estatísticas que se prezem, talvez não muito.
O que terá acontecido em Portugal, e provavelmente também na Europa, no período referido por OT, deve ter sido uma progressão da produtividade do factor capital inferior à progressão do factor trabalho no mesmo período.
Mas isto é totalmente diferente do que concluiu OT quando se dirigiu aos camaradas da CGTP-IN.
Dito de outro modo, pk=Pk/k foi inferior a pt=Pt/t,
onde pk é produtividade do capital medida pelo acréscimo de produção (Pk) que resulta de cada acréscimo de unidade de capital utilizado (k) e pt é a produtividade do trabalho medida pela produção obtida (Pt) pela população activa que a realizou, mas entre uma e outra não existem variações necessariamente correlacionadas.
Vejamos porquê:
No período 1960-1973, nas 7 maiores economias do mundo a produtividade do factor trabalho cresceu, em média 4,5% por ano, e no período 1973-95 o crescimento foi apenas de 1,5%. Entretanto, o crescimento da produtividade total (produção por unidade de trabalho e de capital, combinadas) caiu de 3,3% para 0,8% por ano.
Nas duas últimas décadas o investimento em computadores cresceu entre 20 a 30% por ano. Os investimentos em IT cresceram de 7% em 1970 para 40% em 1966. Estes investimentos deveriam, teoricamente, impulsionado o crescimento económico mas isso não acontece desde o começo da década de 70. A esta aparente falta de reacção produtiva das novas tecnologias tem sido chamado o “paradoxo da produtividade”, e, Robert Solow, Prémio Nobel, foi um dos economistas que mais cedo chamou a atenção para o assunto.
Paul Krugman, um economista tão conhecido quanto controverso, afirma que os avanços tecnológicos recentes não jogam na mesma liga daqueles que ocorreram no princípio do século passado. A emissão electrónica de um bilhete de caminho de ferro é uma maravilha da técnica, mas a duração da viagem não passou a ser menor; o código de barras facilitou muito a distribuição mas não se extinguiram as filas nos supermercados para efectuar o pagamento. O facto dos computadores serem hoje 50 vezes mais rápidos que há dez anos não significa que o trabalho que realizam seja 50 vezes mais produtivos. Uma das razões pelas quais o investimento em computadores é muito elevado decorre da elevada frequência com que estão a ser substituídos por equipamentos mais eficientes.
Por outro lado, os investimentos em novas tecnologias nem sempre têm como objectivo aumentar a produtividade. Um estudo da OCDE (Technology, Productivity and Jobs) conclui que uma quota cada vez mais importante de despesas de R&D e IT é dedicada à diferenciação e marketing, numa luta por quotas de mercado, e não para melhorar as condições de eficiência na produção.
Mas o investimento em IT não explica tudo.
A história económica mostra que a concretização dos efeitos plenos das revoluções tecnológicas demora sempre algumas décadas. É a divulgação plena das tecnologias e não a sua criação que proporciona todos os seus benefícios. Um exemplo clássico deste desfasamento é o caso do dínamo eléctrico que permitiu a utilização comercial da electricidade: introduzido na década de 80 do século XIX só 40 anos depois proporcionava ganhos significativos. Ganhos na produtividade industrial caíram depois de 1890 e só recuperaram em 1920, o que demonstra a lentidão dos reflexos da utilização da electricidade.
Há ainda uma outra razão para explicar o paradoxo: os instrumentos de medida utilizados para medir a produtividade são mais adequados para as condições produtivas no sec XIX do que aquelas que caracterizam as economias actuais. O abrandamento da produtividade tem-se observado em grande parte no sector dos serviços, onde é difícil medir a produtividade.
Em áreas como as finanças, saúde e educação, os serviços de estatísticas do Estado assumem geralmente que a produção cresce proporcionalmente às horas trabalhadas. O efeito bizarro que daqui resulta é considerar que o aumento de produtividade é nulo.
A parte da economia que permite uma avaliação consistente da produtividade é cada vez menor.
A desactualização do “cabaz de produtos”, que mede a evolução dos preços no consumidor, e é o instrumento deflaccionador que permite a comparação dos valores das variáveis económicas em diferentes períodos, é também responsável, frequentemente, pela subavaliação das produções atingidas, e, consequentemente, da evolução da produtividade. Esta subavaliação ocorre, sobretudo, quando o “cabaz” não integra ainda produtos que em consequência da evolução tecnológica sofreram reduções de preços, e frequentemente aumentaram de qualidade: o valor da produção reduz-se quando avaliado pelo “cabaz” não aferido, penalizando o valor da produtividade.
(vd. Economics – Making sense of the modern economy/ Ed. The Economist, 1999)
A conclusão parece ser inquestionável: há investimentos de capital que induzem aumentos de produtividade do factor trabalho, e da produtividade total, geralmente com grande desfasamento temporal relativamente ao momento em que o investimento se concretiza, há outros que não têm qualquer efeito no factor trabalho por perseguirem outros objectivos.
O que se passou em Portugal deve ter seguido o padrão observado para os países mais ricos.
De qualquer modo o factor trabalho envolve todos os activos envolvidos na produção de bens e de serviços, subordinados e chefias, empregados e empregadores, pequenos e micro empresários e altos funcionários públicos. Não parece que se adiante muito atirando uns as culpas para cima dos outros. Mas já adianta analisar as razões da nossa falta de produtividade no contexto económico em que nos inserimos e o crescimento requer. Sem produtividade, é por demais reconhecido, não há competitividade, sem competitividade não há crescimento económico e social.
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A seguir: A PRODUTIVIDADE DAS PONTES
onde pk é produtividade do capital medida pelo acréscimo de produção (Pk) que resulta de cada acréscimo de unidade de capital utilizado (k) e pt é a produtividade do trabalho medida pela produção obtida (Pt) pela população activa que a realizou, mas entre uma e outra não existem variações necessariamente correlacionadas.
Vejamos porquê:
No período 1960-1973, nas 7 maiores economias do mundo a produtividade do factor trabalho cresceu, em média 4,5% por ano, e no período 1973-95 o crescimento foi apenas de 1,5%. Entretanto, o crescimento da produtividade total (produção por unidade de trabalho e de capital, combinadas) caiu de 3,3% para 0,8% por ano.
Nas duas últimas décadas o investimento em computadores cresceu entre 20 a 30% por ano. Os investimentos em IT cresceram de 7% em 1970 para 40% em 1966. Estes investimentos deveriam, teoricamente, impulsionado o crescimento económico mas isso não acontece desde o começo da década de 70. A esta aparente falta de reacção produtiva das novas tecnologias tem sido chamado o “paradoxo da produtividade”, e, Robert Solow, Prémio Nobel, foi um dos economistas que mais cedo chamou a atenção para o assunto.
Paul Krugman, um economista tão conhecido quanto controverso, afirma que os avanços tecnológicos recentes não jogam na mesma liga daqueles que ocorreram no princípio do século passado. A emissão electrónica de um bilhete de caminho de ferro é uma maravilha da técnica, mas a duração da viagem não passou a ser menor; o código de barras facilitou muito a distribuição mas não se extinguiram as filas nos supermercados para efectuar o pagamento. O facto dos computadores serem hoje 50 vezes mais rápidos que há dez anos não significa que o trabalho que realizam seja 50 vezes mais produtivos. Uma das razões pelas quais o investimento em computadores é muito elevado decorre da elevada frequência com que estão a ser substituídos por equipamentos mais eficientes.
Por outro lado, os investimentos em novas tecnologias nem sempre têm como objectivo aumentar a produtividade. Um estudo da OCDE (Technology, Productivity and Jobs) conclui que uma quota cada vez mais importante de despesas de R&D e IT é dedicada à diferenciação e marketing, numa luta por quotas de mercado, e não para melhorar as condições de eficiência na produção.
Mas o investimento em IT não explica tudo.
A história económica mostra que a concretização dos efeitos plenos das revoluções tecnológicas demora sempre algumas décadas. É a divulgação plena das tecnologias e não a sua criação que proporciona todos os seus benefícios. Um exemplo clássico deste desfasamento é o caso do dínamo eléctrico que permitiu a utilização comercial da electricidade: introduzido na década de 80 do século XIX só 40 anos depois proporcionava ganhos significativos. Ganhos na produtividade industrial caíram depois de 1890 e só recuperaram em 1920, o que demonstra a lentidão dos reflexos da utilização da electricidade.
Há ainda uma outra razão para explicar o paradoxo: os instrumentos de medida utilizados para medir a produtividade são mais adequados para as condições produtivas no sec XIX do que aquelas que caracterizam as economias actuais. O abrandamento da produtividade tem-se observado em grande parte no sector dos serviços, onde é difícil medir a produtividade.
Em áreas como as finanças, saúde e educação, os serviços de estatísticas do Estado assumem geralmente que a produção cresce proporcionalmente às horas trabalhadas. O efeito bizarro que daqui resulta é considerar que o aumento de produtividade é nulo.
A parte da economia que permite uma avaliação consistente da produtividade é cada vez menor.
A desactualização do “cabaz de produtos”, que mede a evolução dos preços no consumidor, e é o instrumento deflaccionador que permite a comparação dos valores das variáveis económicas em diferentes períodos, é também responsável, frequentemente, pela subavaliação das produções atingidas, e, consequentemente, da evolução da produtividade. Esta subavaliação ocorre, sobretudo, quando o “cabaz” não integra ainda produtos que em consequência da evolução tecnológica sofreram reduções de preços, e frequentemente aumentaram de qualidade: o valor da produção reduz-se quando avaliado pelo “cabaz” não aferido, penalizando o valor da produtividade.
(vd. Economics – Making sense of the modern economy/ Ed. The Economist, 1999)
A conclusão parece ser inquestionável: há investimentos de capital que induzem aumentos de produtividade do factor trabalho, e da produtividade total, geralmente com grande desfasamento temporal relativamente ao momento em que o investimento se concretiza, há outros que não têm qualquer efeito no factor trabalho por perseguirem outros objectivos.
O que se passou em Portugal deve ter seguido o padrão observado para os países mais ricos.
De qualquer modo o factor trabalho envolve todos os activos envolvidos na produção de bens e de serviços, subordinados e chefias, empregados e empregadores, pequenos e micro empresários e altos funcionários públicos. Não parece que se adiante muito atirando uns as culpas para cima dos outros. Mas já adianta analisar as razões da nossa falta de produtividade no contexto económico em que nos inserimos e o crescimento requer. Sem produtividade, é por demais reconhecido, não há competitividade, sem competitividade não há crescimento económico e social.
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A seguir: A PRODUTIVIDADE DAS PONTES
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