Thursday, April 14, 2022

ISCTE – O braço universitário do Partido Socialista

ISCTE – O braço universitário do Partido Socialista

Há quem apelide o ISCTE de “madraça do PS”. É uma provocação. Mas uma provocação estatisticamente sustentada.

João Miguel Tavares

14 de Abril de 2022

A forma como o PS, à medida que o seu poder cresce, vai estendendo a sua influência aos mais variados sectores da sociedade portuguesa é muito impressionante, e em poucos lugares isso é tão evidente quanto no ISCTE. João Leão, ex-ministro das Finanças, acaba de ser nomeado vice-reitor para a área do Desenvolvimento Estratégico. A reitora do ISCTE é a antiga ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues. Sete dos novos ministros têm ou tiveram ligações à instituição: Mariana Vieira da Silva (Presidência), Pedro Adão e Silva (Cultura), Helena Carreiras (Defesa), Ana Catarina Mendes (Assuntos Parlamentares), Duarte Cordeiro (Ambiente), Fernando Medina (Finanças) e António Costa Silva (Economia), estes dois últimos no Conselho de Curadores. No caso dos três primeiros a ligação é tão forte que o instituto até anunciou no seu site: “ISCTE com três ministros no governo”. Podia também ter acrescentado o novo líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias.

O ISCTE tem quatro escolas diferentes e mais de 10 mil alunos. Tem crescido muito, e não, não é necessário ser filiado na Juventude Socialista para entrar. Mas é tal a dimensão das portas giratórias entre a instituição, o PS, os sucessivos governos e os seus assessores, que é impossível não ver ali um claríssimo exemplo de um dos piores males deste país: a forma como a influência partidária mina as instituições públicas, com o mérito individual e a excelência académica a serem insuficientes como critérios de ascensão profissional, já que necessitam primeiro de passar pela apertada peneira das convicções políticas e das simpatias (quando não da militância) socialista ou bloquista.

No seu site, o ISCTE apresenta uma lista dos seus “alumni notáveis”, com uma secção dedicada ao mundo da política. A lista não está actualizada, e está longe de ser exaustiva. Mas serve como amostra. Fui fazer as contas. Dois terços (20 em 31) são nomes do PS. Quatro quintos são de esquerda (há nomes como Mariana Mortágua, Miguel Vale de Almeida ou Manuel Carvalho da Silva). Mas o que mais impressiona é o número de ministros socialistas – seis – e de secretários de Estado do PS – nove. Juntos são metade da lista. Há quem apelide o ISCTE de “madraça do PS”. É uma provocação. Mas uma provocação estatisticamente sustentada.

Há cerca de um ano, o jornalista Bruno Faria Lopes escreveu um óptimo artigo na revista Sábado, com um título magnífico: Os pupilos da senhora reitora. Ali se demonstrava a influência de Maria de Lurdes Rodrigues no ISCTE e a forma como elevou a um novo patamar as antigas ligações ao PS. O ISCTE foi buscar antigos jornalistas e assessores de governos socialistas (pelo menos um deles – Nuno Saraiva – é de novo assessor do grupo parlamentar do PS) para liderar a comunicação. Tornou-se prática habitual ter ex-governantes socialistas a conferir graus académicos a novos quadros socialistas. E essa proximidade ao poder permitiu ao ISCTE, na longa sequência de governos PS, alcançar o enquadramento legislativo ambicionado e constituir-se como um dos mais poderosos centros universitários do país.

Tais ligações têm outra consequência relevante: a produção regular de trabalhos ditos “académicos” claramente favoráveis ao Governo e ao PS. Hoje já não há espaço para essa análise. Mas fica para uma próxima oportunidade, até porque o Governo está para durar, e o ISCTE não vai certamente alterar a estratégia político-académica que tantos frutos lhe tem dado.

 

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