O Economist publica aqui o ranking anual dos índices de democraticidade observados em 2016, segundo os critérios do seu "Intelligence Unit", desta vez subtitulado com referência à declaração, que depois corrigiu, de Hillary Clinton durante a campanha eleitoral considerando "deploráveis"(mal informados) os que votavam em Trump : Democracy Index 2016 - Revenge of the "deplorables".
O futuro se encarregará de demonstrar até que ponto aquela declaração de Hillary Clinton foi politicamente incorrecta mas premonitoriamente acertada. Para já, "a vingança dos mal informados" colocou Trump na Casa Branca, não sabemos por enquanto quantos mais "litle trumps" aproveitarão para surfar com sucesso a onda populista que se agiganta na Europa.
A próxima ronda joga-se em França, Marine Le Pen vai à frente de vento em popa, a esquerda está desunida, a direita baralhada com o pedido de desculpas de Fillon aos franceses por pagamentos à mulher e aos filhos, mantendo, no entanto, a alegação de que tais pagamentos foram legais, continuando em campanha.
Emerge, entretanto, com força bastante, segundo as sondagens, para disputar a segunda volta com a representante da extrema-direita, Emmanuel Macron, 39 anos, ex-ministro da Economia e ex-banqueiro de investimentos, casado com uma antiga professora, 24 anos mais velha, politicamente posicionado no quadrante moderado da direita. Enfrenta, contudo, rumores sobre alegada homosexualidade ventilados por media russos, que prometem mais novidades: cf. Macron, o alegado amante e o pael dos media russos.
Prevêm as sondagens que tanto Fillon como Macron ganharão folgadamente na segunda volta, mas as sondagens diziam o mesmo sobre o sucesso de Hillary Clinton. Com uma diferença significativa que torna menos imprecisos os números das sondagens: o candidato que recolhe mais votos a nível nacional é eleito PR. Nos EUA, Clinton ganhou o voto popular mas não foi eleita pelo colégio eleitoral.
A democracia formal estará nos próximos anos, e desde já em 2017, submetida a uma prova de fogo dos "deplorables", aliciados pelos ventos maviosos que sopram dos extremos, à esquerda e à direita. Que subtítulo terá o "Democracy Index 2017"?
Segundo o "Democracy Index 2016", a Holanda, a Áustria, o Reino Unido, integram o grupo dos vinte países onde a avaliação democrática não oferece reservas. Manter-se-ão neste grupo no ranking de 2017?
Curiosamente, e digo curiosamente porque penso que será surpreendente para muita gente, o Uruguai faz parte deste grupo e é um dos cinco que obtem a cotação máxima no factor "Processo eleitoral e pluralismo".
Portugal posiciona-se no grupo das democracias imperfeitas, em 28º. lugar. Também, surpreendentemente, Cabo Verde ocupa o 23º.
Timor Leste em 43º., o Brasil em 51º., Moçambique em 115º., Angola em 130º., que corresponde a ausência democrática, Guiné-Bissau em 157º.
À Rússia é atribuida a 134ª. posição. Não, por acaso, sopram de lá os ventos da perturbação democrática a ocidente.
4 comments:
Penso que o "deplorables" de Clinton não tinha nada a ver com "mal informados" - era mesmo "deploráveis", no sentido de "racistas"/"machistas"/etc.
Na altura o significado de "deplorables", mesmo na língua inglesa, foi controverso.
A interpretação mais benévola, para não arrumar quase metade da população na prateleira dos racistas, xenófobos, machistas, etc., foi a de que "os deplorables" votariam em Trump por serem pessoas mal informadas na sua maior parte. Ainda assim, Hillary Clinton viu-se obrigada a apresentar desculpas.
No fim de contas, tendo Obama terminado o seu mandato com elevados níveis de popularidade, tendo-os também iniciado com níveis dos mais elevados, a má informação e a desinformação devem ter sido causas preponderantes na eleição de um presidente completamente diferente.
De qualquer modo, obrigado, Miguel Madeira, pelo seu contributo.
Só mais uma coisa - creio que ela disse que metade dos apoiantes de Trump eram deploráveis ("You know, to just be grossly generalistic, you could put half of Trump's supporters into what I call the basket of deplorables. Right? (...) The racist, sexist, homophobic, xenophobic, Islamaphobic—you name it."), o que significaria que 1/4 da população teria ideias deploráveis (ou talvez 1/8, se contarmos com a abstenção normalmente gigantesca na eleições norte-americanas).
Confesso que não tinha reparado que tinha havido uma tentativa para dar a entender que "deplorables" significaria "mal-informados" (e, pelo que percebo da língua inglesa, nem me parece fazer grande sentido), mas se houve, não sei se então não terá sido pior a emenda que o soneto - eu acho que é ainda mais insultuoso dizer a alguém "és deplorável porque estás mal informado" do que "és deplorável porque és racista/machista/etc." (a versão do mal informado parece ter implícito ainda mais desprezo - em vez de se ter a dizer que essas pessoas têm más ideias, está-se a dizer que elas não têm capacidade de ter boas ideias, o que é ainda pior).
Reconhecidamente, ela disse mesmo o que o Miguel transcreveu. Confirma-se aqui:
https://www.nytimes.com/2016/09/11/us/politics/hillary-clinton-basket-of-deplorables.html?_r=0
Mas o termo "deplorables" suscitou, logo na altura, diversas interpretações.
Em português diríamos "deploráveis", i.e., desprezíveis, indignos, lamentáveis (vivem em condições deploráveis), por exemplo.
O Economist utiliza o termo, parece-me, para explicar as razões pelas quais as democracias ocidentais correm sérios riscos de serem subjugadas pelos "deplorables". Serão todos eles racistas, xenófobos, etc.? É admissível que o mesmo povo que atribuiu as mais elevadas taxas de popularidade à entrada e à saída de Obama tenha subitamente invertido tão radicalmente os seus valores morais ou muitos deles deixaram-se arrastar pela demagogia tuitada de Trump e a Europa corre sérios riscos de apanhar a moléstia?
"Deplorables" no título do Economist é mais abrangente, do meu ponto de vista, que a "list de Hillary", aliás aberta: "You name it!"
Mas, mais uma vez, obrigado pelo seu contributo
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