Monday, February 27, 2017

INVESTIMENTO PAROQUIAL

O E. convidou mais uma vez amigos das mais diversas procedências para jornada turístico-gastronómica, desta vez, outra vez, nos sítios onde nasceu e cresceu até abalar para a capital e tornar-se prestigiada figura pública. Calcorrearam-se ruas, visitaram-se locais, pisados por muitas cargas de história antes de saborear as iguarias de caça num simpático restaurante na aldeia do nosso anfitrião. 

Na freguesia, de que aquela aldeia é sede,  contavam-se em 2011, i.e., antes da união de 2013 com outra freguesia vizinha, menos de 2900 habitantes, cerca de 62% da população contada em 1981. Hoje, cinco anos depois da última contagem conhecida, a população da aldeia não deve ter aumentado, mas deve ter-se alargado o escalão etário mais velho, acima de 65 anos, que em 2011 já representava cerca de 1/3 do total,  e encolhido o mais jovem, até aos 24 anos, não mais que 18,2%. 

Trata-se de uma evolução demográfica típica observada na irreversível concentração urbana, mais acentuada no interior do país, que replica um fenómeno que atravessa todas as sociedades em transição da economia agrária e industrial para a economia de serviços. 
No caso desta aldeia, como de outras que orbitam nas proximidades de cidades ainda com alguma vitalidade económica, a deserção populacional só é parcialmente travada porque se transformam de algum modo em zona residencial daqueles que trabalham na cidade solar. 

O nosso amigo, entre outras virtudes, que são muitas, e lhe minimizam porventura alguns defeitos da sua condição humana, mantém com a sua terra e os seus conterrâneos uma ligação tão duradoura e intensa, que o levam até a acarinhar iniciativas que uma análise friamente tecnocrática rejeitaria liminarmente. 

Em Agosto de 2009, já a crise tinha eruptido, anotei aqui indignação pelo início da construção de uma estrutura enorme no ponto mais alto de um dos cumes do monte, a que exageradamente chamamos serra, sobranceiro ao lugar onde nasci. Destinava-se  a enormidade, pela informação dada à minha perplexidade, à construção de um pavilhão para a prática de futsal, a equipa local brilhava nos campeonatos regionais e interiorizara a ambição de chegar ao escalão cimeiro.
Mas há por cá agora tantos jovens talentos que mereçam um investimento daqueles?, perguntou a minha curiosidade mal contida.
Haver, não há, mas contratam-se! Vêm até cá rapazes de vários sítios?
De perto?
De perto e de longe. Com as facilidades que há, hoje em dia, do longe se faz perto.
Engoli em seco as minhas dúvidas sobre o mérito da despesa, de algum modo suportada por algum programa inscrito no orçamento do Estado. 
Sete anos depois, continua especado no monte uma bisarma de aço, só colunas e travessas, sujeita à corrosão do tempo, à espera de apoios financeiros que não virão. Do futsal local não tenho notícias. 

Vem este salto dos sítios do nosso amigo para os meus a propósito do entusiasmo que observei este sábado passado, dele e dos seus conterrâneos,  naquela aldeia ribatejana, onde a agricultura e a indústria já tiveram dimensão que explicou o crescimento demográfico e juventude, que arrebatou troféus que encheram a vitrina na Casa do Povo local, à volta da construção de um centro social no antigo campo da bola e de um novo campo de futebol em terrenos anexos a Casa do Povo, já adquiridos e com financiamento prometido.  

Calei o meu cepticismo a recordar-me do campo de futsal da minha aldeia, qual avantesma à minha espera sempre que vamos a penates. 
Mas espero, sinceramente, que o meu cepticismo venha a revelar-se completamente infundado, e um dia destes o nosso amigo seja convidado para, pelo menos, dar o ponta pé de saída do encontro inaugural no novo estádio da sua terra.  

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